O ponta de lança!
Antonio Accacio Talli
Craque nasce feito, mas há necessidade de um bom preparo físico para agüentar os 90 minutos de um futebol corrido e violento.
Depois de uns 10 anos de formado, longe dos campos de futebol, vida sedentária e uns 15 quilos a mais, é acertado um jogo entre médicos e representantes de laboratório.
O nosso capitão, organizador do jogo, dono da bola, portanto com posição garantida no meio-de-campo, reúne-se com os colegas na sala dos médicos e começa a escalação do esquadrão invicto até então (nunca tinham jogado uma única partida).
Dr. Renê, alto, loiro, olhos claros, de descendência anglo-saxônica e, por isso mesmo, frio e calculista, com ligeira semelhança com o famoso médio-volante Beckenbauer (somente na aparência), completa o time, escalando Talli como ponta-de-lança.
No dia do jogo, momentos antes do início, Talli chega perto do capitão Renê, e confidencia:
“Na juventude, joguei no juvenil da Ponte Preta e o meu apelido era ‘Raio Humano’ por ser muito rápido. Também tenho um chute certeiro. Portanto, vamos combinar: o centroavante empurra a bola para o meia-direita, este atrasa para você, que imediatamente coloca a bola na entrada da área adversária; aí, deixa comigo, é só correr para o abraço”.
Tudo acertado, é dada a saída: em segundos, Renê, num belo passe em profundidade, deixa a bola a uns dez metros, na cara do gol. Talli, o “Raio Humano”, num “rush” espetacular, parte para dominar a bola e fazer o gol antológico. Após longos metros de corrida, ofegante e com a boca seca, aproxima-se e cai em cima da bola; ato contínuo, com vômitos incoercíveis, vai se arrastando até a linha de fundo, pálido e com o coração batendo descontroladamente. Decepção total.
Renê ainda tenta estimular o “Raio Humano”, agora já transformado numa “tartaruga aleijada”, gritando:
“Volta, você é a nossa esperança!”.
Infelizmente, Talli continuava a vomitar cada vez mais e assim foi até o término da partida. Não era o seu dia!
Depois de um mês, novo jogo foi marcado.
Na hora da escalação, alguns colegas que não tinham presenciado o primeiro jogo gritaram:
“Talli é o ‘Ponta-de-Lança!’”.
Dr. Renê, com sua fleuma característica, levantando o olhar para os colegas, pausadamente fala:
“Talli não é o ‘Ponta...... de........ Lança’, ele é... o ‘Ponta....... que....... Lança’”.
O ponta direita!
Antonio Accacio Talli
Em outro jogo, Dr. Martinho, após contar suas façanhas como craque na juventude, há 20 anos, avisa:
“Ponta-direita igual a mim só existiram dois, Garrincha e Julinho”. E Continua: “Sou veloz, tenho pique, grande visão das jogadas, não erro nenhum cruzamento, coloco a bola aonde eu quero, principalmente na cabeça do centroavante. Não tem erro, é gol certo”.
Dia do jogo, vai ser dada a saída da bola e Martinho, escalado na ponta-direita, aguarda ansiosamente que a redonda venha a seus pés para colocar em ação a sua jogada fatal. Não dá outra. A bola lhe é lançada e Martinho, numa arrancada fulminante, parte para o campo adversário e, certo de estar próximo da linha de fundo, resolve fazer o cruzamento mortal em direção ao centroavante e, aí, olha para ver a “menininha” no fundo da rede.
Mas qual não foi sua surpresa ao verificar que a bola foi parar no pé do centroavante adversário, que se encontrava no círculo central do gramado. Ele, Dr. Martinho, depois de todo esforço despendido, cansado e ofegante, ainda não tinha ultrapassado a linha do meio-de-campo, estando a poucos centímetros do ponto de partida.
Foi substituído, com um minuto de jogo, por absoluta falta de condições físicas.
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