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Contos-->Sabado 14 -- 18/04/2001 - 23:46 (Eduardo Henrique Américo dos Reis) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“...o Diabo sacudiu a cabeça e estendeu os braços, com um gesto magnífico e varonil... levantou os olhos, acesos de ódio, ásperos de vingança, e disse consigo: ‘Vamos, é tempo’. E rápido, batendo as asas, com tal estrondo que abalou todas as províncias do abismo, arrancou da sombra para o infinito azul.”
Machado de Assis – A Igreja do Diabo

“Ela tava queimano os pêlo do imbigu no fugão, na hora que ele chegô!”, acho que está foi a expressão menos machista que o mestre de obras da casa do vizinho achou para começar a contar tudo o que havia acontecido naquele último Sábado, dia 14 de Abril.
Já se passavam das nove e meia da manhã quando a polícia chegou. Encontraram o mestre de obras já sentado na escadinha da entrada, com o chapéu entre os dedos e coçando a cabeça, fez um sinal negativo e abaixou o rosto. A ruazinha virou um fuzuê! Um monte de policiais correndo para todos os lados, com direito àquela faixinha amarela que aparece nos filmes e tudo mais.
A cena do crime era fácil de ser descrita: um corpo de mulher caído no chão da cozinha, com o braço esquerdo e boa parte do rosto esmagados por um bujão de gás, por toda a casinha existiam pegadas sujas de sangue que levavam até o quarto. Estirado na cama mais um corpo, também feminino, desta vez sem os olhos, que foram encontrados dentro de um das gavetas do pequeno armário junto com a suposta arma do crime, uma colher.
Bom, mas vamos mudar o foco desta narração e saber como tudo aconteceu:
Secando o suor que já corria pela testa, o mestre de obras sentou-se na calçada abrindo a garrafa de café. Observou que o vizinho estava chegando em casa, com as roupas muito sujas, totalmente ébrio e a mesma cara carrancuda de sempre. Ao entrar em casa, o homem deu de cara com a cunhada mexendo com as panelas no fogo e sem nem responder por onde esteve, abraçou a mulher acariciando suas coxas.
Rápida e sem pensar, ela jogou todo o conteúdo fervente de uma caneca no rosto dele. Sentindo a queimadura e o ódio crescer em seu corpo, levantou o bujão de gás do lado do fogão e arremessou sobre a cunhada que foi atingida antes mesmo de ter uma reação. Depois de ver a mulher ali caída, ainda agonizando, ajoelhou-se, levantou o vestido dela, retirou a calcinha de lado e penetrou até atingir o ponto de êxtase.
Sujo de sangue dos pés a cabeça, acompanhado de uma inexplicável felicidade, caminhou para o próprio quarto. A esposa ainda dormia tranquila, ao lado do berço da filha de 19 meses. Abriu um das gavetas do armário, de onde tirou uma colher. Descalçou os sapatos e após deitar-se, delicadamente, passou a colher na face da amada até acordá-la.
Assim que isso aconteceu, tampou os olhos dela dizendo apenas: “Sou eu, querida!”. Virou a mulher de bruços e usando a mão direita, inseriu a arma no globo ocular dela. Pegou o olho e colocou na boca. Repetiu a ação com o outro olho, com a mulher já morta. Levantou-se ainda acompanhado daquela estranha felicidade. Muito calmo, guardou os olhos da esposa limpos pela saliva e a colher na mesma gaveta.
O mestre de obras, que ouvirá o grito da dona de casa que perdeu os olhos, entrou correndo. Num primeiro momento imaginou uma simples briga de família, mas ficou muito assustado ao ver o corpo daquela senhora no chão da cozinha. Ao passar pela sala, pôde ouvir o choro da criança. E tentando não ser descoberto caminhou como se pisasse em ovos até o corredor. O choro vinha estridente do banheiro junto com uma respiração ofegante.
Chutou a porta do banheiro, mas logo em seguida à este ato brusco, ficou paralisado com o que viu. O homem todo sujo, a boca cheia de sangue, segurava a filha por baixo dos braços e sentado sobre o vaso sanitário, com uma expressão facial muito alterada, penetrava o pênis rijo no corpo desprotegido da filha. Sorria, sorria ofegante. Parecia estar dominado pelo ódio, mas aquele também parecia ser o momento mais feliz daquele homem que sempre vivia carrancudo com o mundo.
Ficaram parados se observando. O mestre de obras apavorado com o que estava acontecendo bem diante de seus olhos. E o homem, sorria olhando nos olhos do senhor assustado, sem separar seu sexo do da filha. Se encararam durante uns trinta segundos, até o possuído descarregar toda a força de seu corpo sobre o peito do invasor de domicílio, que caiu atordoado.
O estuprador desnaturado, correu para o quintal com a menina chorando nos braços. Vestido apenas de uma camisa, jogou a menina para cima da laje da casa e subiu em seguida. Enquanto o mestre de obras procurava uma maneira rápida para impedir o vizinho de cometer mais uma loucura, o homem voltava ao seu estado normal de sanidade.
Com a criança no colo, agachou sobre a laje. O choro da menina, de repente, contaminou a alma doente daquele pai fora de si, que com os olhos observava o céu, implorando por piedade em silêncio. Pedia desculpas à Deus pelos atos descontrolados que cometerá quando uma força maior dominará corpo.
Em segundos, ao mesmo tempo que o mestre de obras havia subido na laje, o homem ergueu os braços com a filha nas mãos, como se aquela pequena vida fosse uma oferenda, um pecado que ele deveria pagar com o sofrimento eterno. Ofereceu a vida da criança à Deus, em troca do tormento da própria alma... até o fim da vida.
Novamente, o mestre de obras ficou sem reação. Hipnotizado pela cena... mais uma vez sem poder fazer nada.
Deu um último beijo na filha molestada, caminhou até a beirada da laje e com o rosto lavado de lágrimas, deixou-a escapar. A queda foi rápida e a criança parou de chorar no mesmo instante que o barulho seco do impacto foi ouvido. Então, o pai desconsolado, lentamente, dirigiu-se até a parte da laje que dava de frente para a rua. Olhou para baixo, pôde ver as lâminas de ferro do portão sorrindo para ele. Chamando, como se aquele fosse o seu destino. Mais uma vez, levantou os braços para o céu... e deixou os músculos amolecerem. A lâmina que o matou rasgou todo o lado direito do seu rosto.
Com muita frieza, o mestre de obras desceu do telhado, foi para a frente da casa e aguardou a chegada da polícia. Ele não lembrava das cenas que viu depois que saiu da cozinha. Estava em estado de choque.
As pessoas mais crentes daquele bairro pobre diziam que o homem ensandecido tinha sido possuído por algum tipo de espírito mal querendo voltar de onde veio, assim como todos os espíritos fazem no Sábado 14.


* Manoel da Luz (nome fictício), tinha 49 anos, morava num bairro pobre de Salvador, estava desempregado e, segundo os vizinhos, era viciado em álcool.
** A polícia chegou quase duas horas atrasada.
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