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Contos-->Apocalipse: o início do fim -- 31/08/2009 - 09:36 (Maria de Lurdes Mattos Dantas Barbosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Apocalipse: o início do fim
Ano 2000. O mundo ficou em polvorosa, enfim, as profecias eram evidentes, o fim do mundo aconteceria.
Há dez anos atrás, eu me envolvi com pessoas que viviam absolutamente de modo alternativo.Amavam a natureza de forma peculiar, perambulavam pelas comunidades alternativas, prestando serviços comunitários; pregavam o fim do mundo, no sentido de conscientizar as pessoas quanto à preparação espiritual e material para o momento do kolocausto final.
Tornei-me esotérica, passei a freqüentar as reuniões periodicamente nos centros e a absorver a literatura existente no mercado em relação ao assunto. Comprei um sítio, mudei-me para lá, com a certeza absoluta que o dia D, ou seja, a grande catástrofe mundial aconteceria de forma fulminante no ano 2000; quer fosse através da revolta da própria natureza, por meio de terremotos, maremotos, furacões, erupções de vulcões etc.quer fosse por meio de uma guerra nuclear eou química, bacteriológica...O certo é que aconteceria.
No sítio a vida era maravilhosa, as pessoas que lá viviam em minha companhia, compartilhavam as tarefas caseiras e de manutenção da propriedade; fazíamos remédios, para serem vendidos nas feiras livres, ervas, frutas, verduras, compotas, azeites, vinagres e matérias de artesanato, como: esteiras chapéus, utensílios de cerâmica, arranjos ornamentais, etc, faziam parte das vendas que garantiam a nossa sobrevivência. O dinheiro era importante, mas dávamos sempre prioridade as nossas obrigações espirituais, como as meditações ao levantar e no final da tarde, os estudos e a meditação; os mantras, rituais de purificação para o planeta, e a saudação ao sol, completavam o básico da disciplina, que tínhamos de fazer impreterivelmente!
O processo de harmonização era constante, inclusive em relação aos objetos, movéis, vestuário, alimentos. Lá todos utilizávamos a lei do uso, e usávamos o que era de todos, mas cada coisa e objeto tinham o seu lugar próprio, carregado de bons fluidos, onde deveria sempre permanecer; Os alimentos eram lavados e cortados sempre num ambiente de muita paz e harmonia, tendo se por eles todo o respeito e reverencia necessária ao bem estar do nosso corpo físico.Cantávamos músicas indianas e mantras, durante as atividades cotidianas.
A nossa simples vida era assim, carregada por um lado dessa serenidade, por outro, do receio, de certo modo aterrorizante do temível fim do mundo.
Energia elétrica, nem pensar! Usávamos o velho lampião de gás. E a água obtínhamos do rio que passava no meio da propriedade. À noite no sítio, costumávamos ficar em silêncio por um período de tempo, para podermos escutar os sons naturais da natureza e com ela entrarmos em comunhão.O fogo crepitava na fogueira, onde ao lado mantínhamos uma chaleira de chá quente. O som do violão cortava o ar, nossas vozes ecoavam morros afora, ás vezes dormíamos ao ar livre, e ali mesmo os casais por vezes faziam amor. Afinal, porque o mundo teria de acabar? A vida naquele pedaço de paraíso era tão perfeita!
Não assistíamos à televisão freqüentemente, nem tampouco líamos jornais, mas cada semana uma pessoa era convidada a acompanhar os noticiários na cidade; passava as informações necessárias ao grupo, assim podíamos ficar por dentro dos acontecimentos, sem precisarmos nos envolver de forma muito íntima com eles. Isso era necessário, principalmente para centrar as energias e o equilíbrio dos chacras.
Fomos orientados para transformar o nosso pequeno paraíso, em um local de prestação de socorro para os sobreviventes do fim do mundo. Acreditavam os nossos instrutores que, antes do grande final, tormentas aconteceriam, frio, fome, ranger de dentes.Os povos das cidades grandes correriam para o interior em busca de abrigo mediante o alto índice de criminalidade, saques aos supermercados, falta de energia elétrica, água potável, remédios... Etc, etc...Deveríamos fazer pontes, abrigos, além de armazenar mantimentos, vestuário, Tudo deveria fazer de maneira que as pessoas que fossem para o sítio em busca de socorro, pudessem sobreviver.A manutenção de colméias, farináceas e frutas secas, se constituía em algo de grande valor para os dias de tormenta, além de grandes reservatórios de água tratada.
Alguém, ao nos visitar perguntou: e a contaminação por radioatividade, caso haja uma guerra nuclear, como vocês pretendem escapar dela? Achávamos que se servíssemos a Deus e aos seres de outros planetas, comprometidos com a evacuação planetária, se nos colocássemos como instrumentos de trabalho e nos preparássemos para tanto, seríamos protegidos de alguma forma pelos irmãos de outras dimensões espaciais.Isso bastava.
Os pássaros faziam festa durante todo o dia, o riacho de água límpida corria a cantarolar, e o seu canto suave ficávamos a escutar no silêncio nos finais de tarde, sentados na relva daquele lugar que considerávamos um mundo à parte onde o amor e a liberdade faziam companhia em nosso caminhar.Como era bela a vida naquele pequeno lugar! O triste mesmo era esperar o fim do mundo, dava medo, apesar de toda a preparação, física, material e psicológica que julgávamos ter. Eu especialmente orava fervorosamente para que tudo fosse um engodo, para que os homens da Terra se convertessem, mudassem a forma de viver, respeitassem mais a natureza, e amassem mais o seu próximo.Ah como eu orava!
Muitos dos meus companheiros eram fascinados pelo poder do apocalipse! Ficavam extasiados mediante a expectativa do terror, e se aborreciam caso alguém fizesse um comentário contrário. Eles eram os amantes do fim do mundo. Para esses amigos, o sofrimento foi atroz quando o ano 2000 passou e nada aconteceu, o mundo deles ruiu, o choro, a decepção, as depressões por dias se fizeram presentes. Achando-se salvos, desejavam ardentemente a precipitação do caos, onde os pobres homens descrentes, ricos avarentos e poderosos e maus políticos, no fogo eterno queimariam; os possíveis sobreviventes por naves espaciais seriam levados para dimensões devidamente preparadas, onde viveriam por um certo período a espera da reorganização da Terra, onde seriam provavelmente as matrizes de uma nova raça dando dessa maneira, prosseguimento a evolução do homem terrestre.
Foram anos de penitência, de abstinência parcial de sexo, vida simples em comunidade, apartada da realidade vigente, na solidão aparente, afastada da leitura de jornais e da televisão, vivendo em plena harmonia com a natureza e longe da consciência de massa.
Em 2001, minha mãe contraíra câncer de mama, foi terrível! Tive que voltar para a cidade, de forma brusca, ela insistia em ver-me; passávamos muito tempo sem nos ver ou mesmo nos falar, devido naturalmente, aos nossos diferentes estilos de vida. No entanto, muito a amava, e ela a mim, e algumas vezes, em momentos, especiais nos víamos no sítio onde aparecia com meu pai, e pelo telefone, falávamos uma ou duas vezes ao mês. Poucas vezes em muitos anos fui á cidade para vê-los, confesso.
A cidade estava linda!As pessoas indo e vindo, num movimento constante, fiquei extasiada, nem me lembrava mais de tanta vida, de tanta energia solta no ar. Perguntei ao meu pai, se as pessoas não tinham medo do fim do mundo, pois o nosso calendário bem poderia estar errado, havia evidência da existência de outro calendário, portanto o fim do mundo não estaria descartado. Meu pai sabiamente me respondeu que, o fim do mundo está presente todos os dias, nas mortes das pessoas; para elas, o mundo no aspecto material acaba quando sua vida se vai,esse sim se constitui no fim de tudo.
- Agora chegará a vez da sua mãe, depois será a vez de um de nós dois, portanto filha minha, viva a vida com consciência, respeitando seus limites, sem exageros, que esse grande dia chegará para todos, sem destinção. Não desse nada quando você resolveu viver a experiência de se isolar no sítio e viver uma vida alternativa; não fui contrário as suas crenças, mas acho que é chegada a hora de pensar um pouco mais sobre tudo o que vem acontecendo no planeta, repensar as profecias e viver com intensidade cada momento, cada minuto, porém com responsabilidade, ouviu?
Depois dessa conversa, relutei em voltar definitivamente para o sítio. Minha mãe demorou alguns meses para falecer; fiquei na cidade com meu pai, resolvendo as questões de inventário e dando-lhe apoio, e ele a mim. Meus companheiros tocavam o sítio para frente, agora estavam mais amadurecidos e com nova visão de mundo. Novos paradigmas foram criados, e o fantasma do fim do mundo foi se distanciando de nós. Resolvemos investir no social, através da comunidade mais próxima, abrindo o nosso espaço para o trabalho comunitário, o que nos enriqueceu de forma evidente.
O sítio não mais é o refúgio dos escolhidos,mas o refúgio de todos os que buscam o trabalho cooperativo, a meditação, o estudo, o lazer, o encontro de pessoas que divergem, mas que acima de tudo se amam e sabem respeitar as diferenças. DEUS sempre será o elo ente nós e todos os irmãos do cosmos. O FIM? Esse não mais nos tira o sono...








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