E quando o dia começa nessa manha todas as coisas parecem refletir aqueles dias onde a nossa amizade estava intacta e a gente brincava na calçada sem medo das coisas que desconhecíamos e você era quem sempre levava as coisas mais pesadas embora e só deixava as que a gente podia suportar e nada durava mais do que duas horas. E eles quiseram culpar você pelas coisas erradas que os outros fizeram, e por conta de uma mentira descabida e eles levaram você embora.
E lembro que debaixo da chuva a gente corria procurando um lugar seguro e era como se a gente estivesse fugindo da morte, e um silencio vindo da rua escondia nós dois ali e nada podia nos achar em nosso esconderijo. E com você era sempre assim, em cada dia a proteção roubava os perigos e ao seu lado eu me sentia como escrevendo uma carta ao Papai Noel e não tinha temporal ou amargedom que me assustasse; e eu nunca mencionei seu nome pra eles porque eu sabia que eles queriam alguém pra culpar.
E eu podia passar horas e horas olhando pra você em dias que eu não queria crescer por saber o preço que eu teria que pagar; e você conhecia bem toda extensão da minha tristeza quando eu cometia os meus erros e nessa hora de você nunca vinha nada além de sorriso e abraço. E na beirada da minha cama, eu me ajoelhava e fazia os pedidos pra que você nunca mudasse o que você era pra mim e eu sabia exatamente o que você era e só conseguia te amar ainda mais, e eu mantinha a salvo o nosso segredo até que a terra me comesse.
E quando o medo me paralisava, era você com a sua pequena mão que segurava a minha, até que ele fosse embora, e eu nunca dizia às coisas que eu sentia porque elas seriam como as marteladas nos pregos e mesmo quando as pessoas quebravam o meu espírito, era você quem me encontrava e me fazia voltar ao mundo real com seu adorável sorriso, e era você quem sempre estava ali comigo, até que meu quarto se tornasse nosso e finalmente nos engolisse; mesmo eu negando; eles te crucificaram por isso com todas as mentiras que inventaram sobre você.