Hoje é Domingo 23 de novembro de 2003. A última carta que lhe enviei tem a data de 19 Setembro de 2003. Tentei ficar o mais distante possível das suas recordações. Não deu. Lembrei de você quando estava fazendo o almoço. Resolvi fazer uma carne assada no forno. Antes coloquei seis batatas e uma cenoura em uma panela para fazer a salada. Quis inovar na cozinha. Se você estivesse aqui certamente estaria rindo de mim e das minhas trapalhadas. Eu podia ter feito o carreteiro de guisado, um ovo frito e salada de tomate. Mas já estava cansado de comer a mesma coisa todos os dias. É claro que não vou implorar para que voltes, isto eu sei que é difícil, mas não impossível. Tentei lembrar de tudo o que você fazia, mas eu jamais tive interesse em aprender alguma coisa de culinária, você vivia dizendo que um dia eu poderia precisar, e eu vivia dizendo que não. Há se os conselhos fosse todos escutados e executados, não estaria deixando queimar minha comida. As batatas passaram do ponto e desmancharam na panela. Na carne esqueci de colocar sal e quando fui abrir o forno, acabei queimando os dedos. Queria saber como é que vocês conseguem coordenar tudo e ainda sobrar tempo para cuidarem dos filhos e dos maridos malas que nada fazem. Nesta hora, quis que você estivesse aqui. Você deve estar pensando que nada mudou, que eu continuo o mesmo. Acredite! Eu mudei. Aprendi a não ser tão dependente, descobri do modo errado a maneira certa de ser um novo homem. Não pense você que isto é conversa mole, quando foi embora, por culpa minha, você proferiu a maldição eterna: “você vai sentir a minha falta todos os dias enquanto existir”. Eta boquinha maldita! Não é que você tinha razão. Eu nunca consegui te esquecer. Eu sempre lembro de você todos os dias, em todas as horas, em todos os sonhos, eu nunca te esqueci. Hoje eu lembrei de você.
