Val o terrível, aquele que detinha o poder na seita malígna, estava desacoroçoado com os ataques que sofria daquele carrapato estrela. O chupista não lhe dava trégua. Imagine que o terrificante não dispunha mais de tempo para nem ao menos ingerir um copinho d´água, daquele seu pote enorme, que jazia encostado alí no canto da parede.
Por isso resolveu aconselhar-se com a vovó Bim Latem para obter algumas luzes de como proceder naquele caso, visto que se os acometimentos continuassem o império esboroaria.
Bim Latem, com seus velhos olhos azuis, pensando no deputado reforçado que lhe garantia a retaguarda, ouviu atentamente as queixas de Val. Ponderou que depois de anunciado ao mundo a produção do primeiro clone humano, a seita deveria unir-se e, todos juntos, buscarem pelo vegetal promissor que, com bastante sorte os livrariam do carrapato sanguessuga. O tal vegetal era a frutinha silvestre.
Segundo os botãnicos de plantão havia consenso de que era mesmo uma frutinha sáfara, que daria o primeiro combate ao carrapato. Mas qual delas?
Para que essa questão de sobrevivência fosse resolvida, Bim Latem convocou um churrasco na beira da piscina. Para tanto o mesmo esquema de sempre foi reativado: piscina em ordem, cerveja na geladeira, muita carne assando e o melodioso som sertanejo espargindo alegria pelos ares da vizinhança. Não se podia esquecer que a poodle branca, histérica, seria mantida fora do alcance de Kol. como todos sabem, ele detestava o ladrido perfurocontundente da bicha.
No momento aprazado chegaram Iza a morféia, na sua indefectível van preta, Kol da mumunha e Allan Brado o veadinho.
Reunida na sala vovó iniciou a lengalenga de sempre e disse:
- O tempo está feio pro nosso lado. Esse artrópode vem sugando o sangue da seita, não é de hoje. Estou preocupada. Se não tomarmos providência, tenho certeza que se iniciará um incêndio de grandes proporções na doutrina. Ouví dizer que existe realmente uma espécie de planta que pode estiolar esse tipo ixodídeo. Mas não tenho a menor noção de onde podemos acha-la.
Val que se mantivera calado perguntou:
- Mestra será que se nós mandarmos alguém para a Europa não obteremos a resposta da mesma forma como conseguimos aqueles vírus que municiaram nossos famosos Culex?
A vovó mostrou contrariedade por ser interrompida e disse:
- Olhe, não creio que seja por aí. Temos que saber qual das frutinhas silvestres pode nos livrar, mas não sei nem ao menos por onde começar.
- Deve ser o calor que está sufocante. - Kol da Mumunha dava o seu primeiro palpite. Allan Brado, o veadinho com seu lenço branco, agitava-se na cadeira. Preocupado ele queria terminar logo com aquela reunião. Ele não gostava de carne e tinha horror pela música sertaneja. Por isso falou:
- Olha gente, recebí mensagem telepática falando que essa fritinha, digo frutinha, deve ser preta. Mas não tenho a mínima idéia do que possa ser.
Kol da Mumunha indagou:
- Será que é jabuticaba?
Bim Latem esmurrou a mesa. Apesar dos mais de setenta anos, sua munheca ainda estava em condições de suportar sopapos fortíssimos contra obstáculos duros.
- Vamos parar com essa gandaia? - Ela estava mais séria do que nunca. - Se é jabuticaba ou se não é jabuticaba, não me interessa. A pergunta é: como vamos acabar com o carrapato estrela? Saibam vocês que esse bicho feio está causando uma tal de febre maculosa. E essa maculosa já matou algumas pessoas. Mas agora quero mudar de assunto. Quero informar a vocês todos que o governo já identificou esse nosso grupamento. Tenho informações seguras de que eles sabem da existência da minha pessoa como guru, que modéstia à parte, tem um tremendo carisma. Sabem que temos adeptos totalmente controlados, que entregam 3% a 10% dos seus ganhos. Sabem também da existência de hierárquia em nosso meio. Por isso a fim de nos precavermos quero encerrar aqui essa reunião. O churrasco fica adiado sine die. Estão todos dispensados.
Não se ouviu um pio sequer em sinal de protesto. Em silêncio cada um tomou o que era seu e retirou-se daquele ponto de referência.
Mas na madrugada, solta, leve e faceira, a poodle histérica gania para o desespero e agonia da vizinhança aborrecida.
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