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cronicas-->A Festa do Aniversário -- 07/05/2006 - 20:59 (Tereza da Praia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A Festa do Aniversário



O Henrique, vulgo Painhu, descobridor da Elaine, vocês sabem de quem estou falando? Pois é. Ele fez aniversário ontem. Até aí tudo normal.

Ele esta entrando na idade sexy (segundo as más línguas _ as boas dizem que ele já entrou na idade sexy desde que nasceu hehehehe). Pois bem, ele, pra comemorar, deu uma festa lá no Ap dele... Convidou-me. Disse-me que ia rolar de tudo, até missa, culto evangélico e sessão espírita.

Eu, que adoro uma boca livre, pensei: "Ta pra mim. Não perco esta mesmo!"

Abrindo um parêntese, lembrei agora de um livro interessantíssimo do Gabriel Garcia Marques. Não... Não é "O amor no tempo do Cólera", não. É outro de um título meio indecente, "Memória de minhas putas tristes", dizem que é ficção, não sei. O relato parece muito real.

Conta a história de um homem. Um velho jornalista frustrado, que não gostava do trabalho que fazia. No aniversário de 90 anos, ele decide: "No ano dos meus noventa anos quis oferecer a mim mesmo uma noite de amor louco com uma adolescente virgem.” - esta, a primeira frase do livro. Com este desiderato, ele vai ao prostíbulo e pede a cafetina Rosa Cabarcas, que lhe arrume uma jovem adolescente virgem.

Encontrada a virgem Delgadina, a cafetina telefona pra ele. Aí o enredo começa, porque ele se encanta pela menina. Ele não a possui, não tem coragem. Deixa-a dormir. Para ele, naquele momento era importe que ela o quisesse também. Ele passa a se encontrar com a garota todos as noites, no quarto do prostíbulo. E ele, que nunca tinha se ligado a mulher alguma, pairava impune pelos bordeis, pela primeira vez na vida, se vê apaixonado. A vida dele muda por completo. Ele passou a ser mais sorridente no jornal em que trabalha, menos exigente consigo mesmo; mais atento as questões sociais. Enfim, fica mais humano. Começa escrever artigos diários no jornal, que se transformam em folhetim. Artigos falando de amor, que fazem o maior sucesso entre o público leitor feminino.

O poder transformador do amor entra na vida daquele velho senhor jornalista ranzinza e triste de uma forma chocante. Ele se torna jovial, amigo. Capaz de andar até de bicicleta.

Mas a paixão, a par de trazer o brilho no olhar, na pele, na alma, traz tambiú o fogo frio do ciúme. Um fato acontece que ambos se separam. Ele fica a morrer, em profunda depressão, experimenta ciúmes mortais. Ouve conselhos de todas as putas que passaram pela sua vida. Até que se decide a procurar e encontrar novamente a jovem, que continuava virgem, pois ele a encontrava apenas enquanto ela dormia, uma semelhança com o livro "A Casa das Belas Adormecidas", de Yasumari Kawabata.

O que gostei no livro é que ele nos leva a refletir sobre a moral, no tempo e no espaço. Diz o personagem, enquanto realiza uma auto censura interna: "A moral também é uma questão de tempo (…)” para justificar que quando se chega a uma certa idade se pode tudo, inclusive pensar de um modo diferente de quando se é mais jovem. Podia ser libertino aos 90 anos depois de se ter sido casto pela vida inteira, se bem que este não é o caso do personagem que, na juventude, faltara ao próprio casamento porque a festa de despedida de solteiro que as amigas lhe organizaram no bordel em que trabalhavam “(…) incluiu uma cerimónia final que só podia lembrar a um padre galego calejado na concupiscência, que vestiu todo o pessoal feminino com véus e flores de laranjeira para que todas se casassem comigo num sacramento universal. Foi uma noite de grandes sacrilégios, em que vinte e duas delas prometeram amor e obediência e lhes correspondi com fidelidade e sustento até para além do túmulo.” A bruma dos tempos a fazer das suas levando o personagem a achar que se “(…) os fatos reais se esquecem, também alguns que nunca existiram podem estar nas recordações como se tivessem existido” e que “(…) os loucos mansos adiantam-se ao futuro.” Finalmente, “é impossível não acabar sendo como os outros julgam que somos.”

Vejam que coisa linda "os loucos mansos adiantam-se ao futuro". São sonhadores, visionários.

Por fim, o personagem se queda ao antigo homem, reconhecendo que "é impossível não acabar sendo como os outros julgam que somos."

As vezes reflito neste ponto, até onde podemos dizer "sou assim", ou estamos mesmo é capitulados pela opinião alheia, que nos impões sermos como julgam que somos?

O fecho do livro é um belo pensamento para reflexão a respeito do nosso medo de viver: "Era por fim a vida real, com o meu coração a salvo, e condenado a morrer de bom amor na agonia feliz de qualquer dia depois dos meus cem anos." O que perdemos para colocar o nosso coração a salvo?

Caraca!! mas eu estava falando era da festa do aniversário do Henrique. Ele me convidou. Não deu o mapa. Resultado fui parar no montanha cheia de neve, que lá em Portugal dizem que é a Serra da Estrela. Vocês me perguntarão: "Como neve em pleno inicio da primavera em Portugal, na comemoração da revolução do cravos?" Bom, isto aí já é outra historia, que conto outro dia.




Tereza da Praia

Série: Poesia no balanço de Lia. Prosa nos pratos de rosa.



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