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cronicas-->Socorro ao 190! -- 29/11/2000 - 16:35 (Cláudia Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Estou acostumada a me banhar ao sol rarefeito no final das tardes. Fico a mercê do bailar da rede na varanda, curtindo esse raro momento em que me dou ao luxo de ser invadida pela preguiça. Aprecio muito observar o trànsito lá embaixo, os carros ora apressados, ora tão lentos , que são capazes de me causar sono.

Um dia desses estava a divagar na beleza cênica do ocaso, quando assustei-me com o canto de pneu seguido por um estrondo. É incrível como uma cena tão rápida, possa revelar detalhes que se passam em càmara lenta diante dos nossos olhos. Pude observar claramente o momento em que uma perua ( como é chamada em São Paulo) tombou ao fazer uma curva perigosamente. Lá estava ela virada, com as quatro rodas fora do chão.

Observei atenta a procura de alguma movimentação. Havia duas pessoas lá dentro e pude ver um braço se movendo para fora do veículo. Sem pensar duas vezes, corri ao telefone e disquei 190.

"Gostaria de informar um acidente envolvendo uma Kombi, o veículo tombou e não consigo ver se há vítimas" - enquanto falava, observava atenta da janela todos os movimentos lá embaixo - Uma voz monótona colheu dados sobre o acidente e uma série de perguntas foram sendo apresentadas . Eu começava a ficar angustiada com aquela demora.

"Breve estaremos aí. " Desliguei o telefone aliviada e satisfeita por ter sido útil, cumprindo o meu dever de boa cristã. Vi as duas pessoas fazendo malabarismos para saírem rapidamente dali. Sem tirar os olhos da cena, agucei ainda mais o meu ouvido, tentando captar detalhes do fato . Pude ouvir trechos da conversa do condutor do veículo com alguns curiosos e outras pessoas que apareceram para ajudar. "O freio pifou", dizia o homem ainda tonto pelo susto - ou quem sabe pelo efeito do álcool? - O outro, desesperado, mal podia acreditar no que estava acontecendo.

De minuto em minuto eu olhava para o relógio, achando que essa seria uma ótima oportunidade para cronometrar o tempo em que o socorro chegaria, assim poderia avaliar a competência dos bombeiros.

O quartel ficava à poucas quadras dali. Quase dez minutos haviam se passado e comecei a ouvir uma sirene. Respirei aliviada. Antes tarde do que nunca, pensei. Chegaram enfim! O carro de bombeiros vinha em outra direção, e a outra pista estava separada apenas por um canteiro daquela em que se seguira o acidente.

O som da sirene roubou a atenção de todos, e perplexos, vimos o carro de bombeiros "passar batido" e seguir o seu caminho apressadamente, para onde, não me perguntem. Muitas pessoas observavam confortavelmente toda a cena, fazendo de suas janelas e varandas, verdadeiros camarins. Por todos os lados haviam olhares curiosos.

Após três minutos o telefone tocou. Enquanto isso alguns homens robustos e outros, não tão robustos assim, surgiram do prédio da frente e rapidamente se aglomeraram como formigas ao redor do veículo. Pude ver o empenho daqueles homens: um, dois três e, e em um esforço conjunto, colocaram o veículo sobre quatro rodas.

O condutor estava satisfeito. Não sofrera nenhum trauma físico e conseguira colocar o veículo para funcionar novamente. O conduzido ainda tentava se recuperar do susto e falava ao celular sem parar. Recobrados os ànimos, os dois entraram na condução e foi dada a partida no carro.

"Aló! Somos nós do corpo de bombeiros! Não estamos localizando o acidente! ". Após repassar todas as referências possíveis - àquela altura do campeonato eu estava certa de que até um cego poderia localizar o acidente - desliguei o telefone e corri para a varanda.

O motor da Kombi já estava ligado. A satisfação era total. Nada mais grave, nenhuma vítima fatal. "Muito obrigado diziam os homens", "entre em contato" - respondia um outro, entregando o cartão de sua oficina. E lá se foi a Kombi, com as rodas desalinhadas, guiada com cautela digna de velhinha tirando carteira. Em poucos segundos tudo voltou a sua normalidade.

Trimmmm!!! O telefone toca mais uma vez. " Estamos passando pela avenida, onde está o veículo? " Uma ótima pergunta essa! Eu não pude controlar a minha língua e respondi com a devida ironia :" O veículo eu não sei, mas a vítima grave - ainda bem que não existe - esperou muito pelo socorro de vocês e acaba de dar entrada no "Além", recepcionada não me perguntem por quem!"

Voltei para a rede. O sol já beijava o horizonte e o céu crepuscular coloria os primeiros instantes da noite . Deixei-me balançar um pouco. Pensei que se algo acontecesse ali novamente, sob o meu olhar, ao invés de ligar 190 deveria ligar 911, o socorro chegaria mais rápido. É assim que acontece na tv!
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