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Cronicas-->Esconderijo secreto -- 29/11/2000 - 22:18 (Cláudia Azevedo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ESCONDERIJO SECRETO

Eu acompanhava tudo de longe, no canto da cozinha onde não pudesse ser notada. Todos na casa pareciam preocupados e aflitos. Enquanto tia Lili telefonava para todos os vizinhos, Rita, a empregada, e mamãe vasculhavam cada canto da casa. E como era grande aquela casa! Havia espaço suficiente para se perder ali dentro. Lá fora um imenso pomar, um verdadeiro paraíso para expedições e buscas infantis.

Inês havia desaparecido há uma hora. Um bom tempo para uma criança de três anos ficar longe dos pais e de casa. Mas lá em casa isso não era tão incomum assim. Lembro-me das histórias que ouvia sobre as minhas fugas para a casa dos vizinhos. Comecei a treinar as fugas quando tinha apenas oito meses. Não consegui ir muito longe. Mas dei um trabalhão para todos! Com a minha irmã caçula não poderia ser diferente. Corria nela o mesmo sangue. Era uma aventureira.

Saí de trás do armário e resolvi ajudar. Quem sabe ganharia uma recompensa se achasse a pequenina? Não custava tentar. E eu a conhecia como ninguém. Chequei em cada quarto, na sala, banheiros, cozinha, e nada da menina. A essa altura dos fatos, já se falava em roubo de criança e em ligar para a polícia.

Apesar de criança eu compreendia o perigo que Inês corria. Mamãe chorava muito. Consolos, palavras e água com açúcar, nada disso fazia efeito. Ouvi também alguém dizer que algo terrível poderia ter acontecido.

Eu comecei a sentir a minha garganta apertar. Lembrei de tudo o que há de terrível no mundo. Tudo o que uma cabecinha de criança conseguiria lembrar. Lembrei-me da história da velha do saco que comia criancinhas. Imaginei a minha irmãzinha naquele saco velho e surrado, lá dentro a rolar de lá para cá junto com as outras crianças, chorando e gritando sem saber o fim terrível que as aguardava.

Lágrimas escorreram dos meus olhos. Não queria que ninguém me visse chorando, então corri. Corri o mais rápido que eu pude, como se pudesse fugir da imagem daquela velha má que estava na minha mente. Só eu sabia para onde ir. Um lugar que só eu conhecia. Lá ninguém me acharia. Eu ficaria bem quietinha até o medo ir embora.
Quando cheguei ao meu esconderijo secreto, mal pude acreditar no que vi! Lá estava ela, tão pequenininha e indefesa! Olhei com ternura sua face recostada sobre as mãos, seus cachinhos loiros... Inês dormia o mais puro sono, aquele sono reservado às crianças com caras de anjinhos barrocos. Beijei-lhe a face docemente e a levei comigo para dentro de casa.

Todos olharam para Inês e correram ao seu encontro. Quanto à mim, nenhuma recompensa, nem manifestações de espanto pela minha descoberta. Voltei para o meu cantinho, meio escondida pelo armário da cozinha e continuei a olhar para ela.

Naquele momento percebi que o sangue que nos unia era muito mais forte do que os meus temores infantis. Fiquei orgulhosa por minha irmã caçula ser tão parecida comigo.

Observava a alegria da mamãe e de todos. E quando Inês olhou para mim lá atrás do armário, me descobrindo com os seus olhos, não pensei nos doces, nem nos abraços agradecidos. Inês era a minha maior recompensa.


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