3 da manhã, luzes baixas e fogo alto
Rebentando num fervor louco
De ânsia para externar
A lua cheia, o espírito mais ainda
Cheiros, imagens e cores
Um clima doce e denso
Olho a guitarra
E numa leve quebra de entusiasmo
Tenho de abnegar dessa doce volúpia
O imenso silêncio me impediu
E me quebrou por inteiro
O anjinho decide pelo silêncio
E o diabinho clama por acordes
Até que no meio da confusão
Num impulso alivioso e clarividente
Descubro um outro rumo não menos arte
Um papel, uma caneta, ou mesmo um teclado
Escrevo um verso, dois versos, e apago
Aquela chama que por muitas vezes me abate
E os versos soam como finíssimos acordes
Às vezes sutis, às vezes até fortes
Amando, criando ou mesmo magoando
Os agentes de minha chama noturna
E a poesia é isso mesmo
Minha guitarra, e voz silenciosa
2001
|