Há três dias vi e ouvi na televisão, RTP1, logo a seguir ao noticiário das 20 horas, um polemizante programa especial, cuja estratégia e objectivo a lograr assenta perfeitamente na célebre equação dual que nos ocorre quando a dúvida se resume a um pau de dois bicos. Das duas, uma, e nunca é, porque o que tem de ser tem muita força.
Quanto a mim, sob a capa e em nome de um muito útil serviço à sociedade, pretendeu-se irresponsavelmente colocar a nu o degradante ambiente que mina as escolas portuguesas, ou, enegrecendo o actual comportamento dos jovens sem eira nem beira, intentou-se previamente preparar, por sub repticia e codiciosa tabela, a opinião pública para o diluído desfecho judicial do famigerado caso pedófilo da Casa Pia.
Quem vai levar com o fogo em cheio é o Bibi, e os outros, para que a água toda não caia no chão, vão decerto levar com uns borrifos. Aos jovens abusados e reabusados o governo de José Sócrates já despoletou as indemnizações pecuniárias, com o nosso dinheirinho, pelas sodomizações e lacerações que uns "desconhecidos" fizeram no fecho da dignidade dos meninos. Em suma, o colectivo mexilhão português, ainda por cima, foi "enrabado" nos suores frios que vai deitando todos os dias.
No desiderato em apreço, uma equipa televisiva deslocou-se a uma dada escola para filmar à s escondidas, autorizada pela direcção escolar, o comportamento dos alunos durante as aulas. Vi então os jovens agredirem-se uns aos outros, gozar e agredir os docentes, incluindo assédio sexual, e passear por cima das mesas de trabalho como se andassem na rua. O resto, o rastilho que antecede tão explosivas imagens, imagina-se com nua e crua facilidade e dá para calcular em que senda o país, pela ínfima base, vai trilhando e seguindo.
O governante que foi ao programa, a quem está adestrito o sector, numa daquelas irritantes poses de "sim-senhor e não-senhor", foi metendo as mãos pelos pés, a cabeça entre os braços e mete concerteza todos os meses um privilegiado ordenado no bolso, e ainda - pasme-se - continua a governar semelhante desgoverno, apesar de ter afirmado que na escola em questão já anteriormente haviam ocorrido desmandos muito piores.
Esta, caríssimos Leitores, sugere a corriqueira exclamação: para onde vai o mundo?... Para onde vai? Vai para muito longe. Nós, sem dúvida, é que ficamos já ali à esquina decepcionados e tristemente vencidos pela impotência moral que de lés a lés nos assola. Entrentanto, sobre o que ao meu redor cada vez mais vai ocorrendo, estou a ficar seriamente preocupado: a trampa está subindo de tal jeito que começo a considerar seriamente a compra de um colchão pneumático e dois remos...
António Torre da Guia |