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Contos-->O velhinho: sátira sobre Zé Laia e Dilmi Ruçè -- 06/11/2009 - 07:58 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Recebi esse continho muito divertido de uma brasileira que vive em Honduras, e reparto com vocês para poderem dar umas risadas com essa tragicomédia patética.

Abs

MG [Graça Salgueiro]

***

Conto "O Velhinho", ficção de um futuro não tão longe...

Original: http://luizohlson.wordpress.com/2009/10/02/o-velhinho/

O velhinho

Contam que em 2047, após longo período (quase 40 anos) de desentendimentos, a República de Canduras e a República Federativa do Boçal reataram relações diplomáticas. O presidente em exercício (o titular, já no seu oitavo ou nono mandato – ninguém lembrava mais – de tanto viajar, acabou fazendo com que a tripulação esquecesse o caminho de volta. Dizem que o avião pousava, o piloto descia, olhava atentamente os arredores, comparava com umas fotos amareladas que tirava do bolso da camisa, sacudia a cabeça, voltava a subir a bordo e dizia desconsolado: não é aqui, excelência. E decolava mais uma vez.) nomeou para a embaixada uma ex-ministra, Dilmi Ruçé, apesar das restrições do Itamaramim. Dizia-se que ela era arrogante e autoritária (grossa mesmo, simplificavam alguns) – sem falar no número do sapato – o que não condizia exatamente com o que se espera de um representante diplomático. E além do mais era da oposição. O argumento definitivo foi dado por um encarregado de negócios, com mais de 50 anos de carreira, que lembrou: e daí? o Celio Armelim não foi ministro das relações exteriores? E o Jotamar Branco, não foi pra Portugal? Sem conhecer a língua? Então?

***

O avião que trazia Dilmi desceu em Tuébemguapa, capital de Canduras, num sábado, próximo ao meio dia. Ela estranhou que não houvesse ninguém a esperá-la no saguão do aeroporto. Mas em meio às poucas pessoas que se postava à frente da sala de desembarque avistou um sujeito baixinho segurando uma folha de papel onde se lia: CEARÁ (assim mesmo: em letras maiúsculas). Aproximou-se dele e perguntou, em portunhol escorreito: el senõr es del Ceará? Pode falar em português mesmo, senhora, eu sou do Maranhão, foi a resposta. Diante do olhar espantado de Dilmi, emendou: é que eu sou taxista e cearense vai pra tudo que é lugar. Volta e meia eu pego um. Até o Belquior, lembra dele?, já andou no meu táxi. Dilmi perguntou quanto o homem lhe cobraria para levá-la até a embaixada brasileira. Converteu em moluscos reais o preço em lempiras que o taxista, que descobriu chamar-se Ribamar (mas pode me chamar de Sir Ney), pediu e descobriu que ia pagar uma fortuna. Mas como não era ela mesma que ia pagar – afinal, pra que servia o cartão corporativo? – topou.

Quando o táxi chegou aos portões (na verdade, ao portão, já que um deles tinha caído ou, mais provavelmente sido arrancado, pensou) da casa onde ficava a embaixada, estranhou que o tradicional escudo de metal com as armas da república estivesse parcialmente coberto com um plástico onde se lia: sacolé 10, cremoso 12. Atravessou o jardim mal cuidado e chegou à porta de entrada. Bateu e não obteve resposta. Bateu mais uma vez, colou o ouvido à porta e ouviu um arrastar de pés e uma voz, quase sumida, que dizia, em tom de comando: calmáte, coño. A porta foi aberta por um velhinho que vestia uma guayabera imunda e um chapéu de cowboy, surpreendentemente limpo, considerando o estado dos trapos que vestia. Um bigode negro lhe emoldurava a boca. Qiuén sos vós? perguntou o velhinho, já lhe dando as costas. Sou a nova embaixadora (Dilmi odiava o termo embaixatriz, era coisa de boiola, dizia) do Boçal em Canduras. E o senhor, quem é? Mas o velho já havia se embarafustado pelos corredores da casa.
Foi encontrá-lo em uma sala com uma placa da porta onde ela pode ler, parcialmente, a palavra Embaixador. Outro plástico, semelhante ao dos portões, tinha escrito: señor Presidente. Uma coleção de chapéus de cowboy, mais de cem, estimou ela, todos brancos, ocupava boa parte da sala. Sobre a escrivaninha, vários frascos de tintura para cabelo, preta. A maioria abertos. Como a sala estava abafada, aproximou-se das janelas e abriu-as. Cerra, coño, gritou o velho. Dilmi pensou tratar-se de um dos muitos candidatos que o presidente Lua havia derrotado em suas quase infinitas reeleições, mas o velho
insistiu: cerráte la ventana, coño, la radiacíon! la radiación!

As lamparinas da memória começaram lentamente a acender-se em Dilmi. Aquele era o presidente que queria reeleger-se e foi apeado do cargo, quase 40 anos atrás. Como era mesmo o nome dele: Zaloyo, Zalata? Claro, pensou, como não adivinhou antes? Aquele era Manuel Zelayo, que tinha sido presidente de Canduras, e que ao ser deposto tinha se hospedado na embaixada do Boçal, num caso que rendeu um bocado de discussão diplomática, na época. Aos poucos a situação tinha acalmado, os ânimos serenaram e ninguém mais lembrava do caso. Tampouco interessou saber que fim levara aquele hóspede. E agora ela, Dilmi, tinha a resposta. O presidente Lua, se não estivesse desaparecido, certamente lembraria.

Decidiu conversar com o homem: o presidente Lua lhe manda lembranças, senhor Zelayo. Señor Presidente, coño, foi a resposta. Claro, señor presidente, respondeu ela. O senhor lembra do presidente Lua, não? Claro, ele sempre me dava conselhos, junto com aquele outro, como era mesmo o nome dele? Chuvas ou coisa parecida. O presidente Lua me disse: Presidente, vou lhe dar cinco motivos para resistir. E começou a contá-los nos dedos. Engraçado é que quando ele chegou em quatro, parou. Nunca fiquei sabendo qual era o quinto conselho

***

Pra encurtar: contam que Dilmi e Zelayo conviveram mais dois anos na casa. Ele indo periodicamente à sacada incitar o povo, que nunca estava lá, à revolta e a desobediência civil. Ela arranjou um cachorro, só pra ter em quem mandar. Dizem que ele morreu, mas a verdade é que de vez em quando some um chapéu da sala e mais um vidro de tintura aparece aberto. Quanto a ela, foi transferida para Paris. Com o limite do cartão corporativo aumentado, é claro.
Não dá pra acreditar em tudo, mas é o que dizem.


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