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Cronicas-->ENTREVISTAS IMAGINÁRIAS - I -- 20/06/2006 - 23:54 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


ENTREVISTAS IMAGINÁRIAS COM FIGURAS ILUSTRES PORTUGUESAS - I
João Ferreira

20 de Junho de 2006



Primeira entrevista - No Castelo de Guimarães com D. Afonso Henriques



Nesse tempo, a corte do rei funcionava na alcáçova do castelo da cidade de Guimarães. Em seu significado original árabe, alcáçova era a parte mais alta e protegida de um castelo medieval nas terras da Ibéria. E era nela que residia o rei. Quando não andava em cruzada contra os mouros ou em viagem de agregação política pelos castelos dos senhores de seu reino, Afonso Henriques ficava algumas temporadas em sua alcáçova de rei. Primeiro, na do castelo de Guimarães, depois na do castelo de Santarém, na do de Leiria e na do de Lisboa, após o ano de 1247.

Pela importància do assunto político que me apaixonava a alma, fiz questão de ir a Guimarães, berço da nacionalidade. Consegui falar com Egas Moniz, cavaleiro honrado, da confiança de el-rei, uma espécie de ajudante de campo. O lendário Egas Moniz, que todos os portugueses adoram como exemplo de palavra e de honradez.A rogo de Egas Moniz, Dom Afonso me recebeu na alcáçova.

Foi um tempo depois da batalha de Ourique.Quase logo após a paz de Zamora. Por volta de 1143. Quando respingavam nítidas as primeiras esparramações de talento político do Afonso Henriques determinado, autónomo e independente. Quase logo após ter estabelecido a paz de Zamora, com seu primo de Castela e Leão, Afonso VII. O jovem rei portugalense era, nesse momento, uma figura já consagrada, amadurecida. Com uma visão de Portugal como país. Com uma visão de cidadania que pretendia fazer de Portugal uma unidade de família social e política, visando dar ao reino um sentido de país unido e comunitário. Não se usavam ainda no tempo, termos de sociologez avançada, como esse negócio de "comunidade", "sentido comunitário", "política comunitária" - termos vazados hoje, desgastados. Na nossa primeira idade média, as palavras eram mais do que tudo, realidades de espírito e de vivência. Muitas delas eram jovens ainda. Outras, sadias e fortes, bastante longe de envelhecer. O espírito falante galaico-português lhes emprestava a força nova que ostentavam. A força de uma vontade unida. Era o alvorecer de uma nova língua também. Hoje há palavras mecànicas que não significam mais nada. País, por exemplo, era uma palavra que não estava ainda dicionarizada nem mumificada. Era apenas uma realidade viva, cheia de fogo no coração dos cidadãos portugueses. Dom Afonso Henriques, extraordinariamente inteligente, jovem audacioso e capaz, pegava a realidade pelo espírito, entendia. E porque entendia a realidade, ficava na nudez da verdade e realizava suas intenções e projetos no puro e doce embalo da utopia. Na alma dele, os projetos se tornavam vida para o país. E seus vassalos respondiam na mesma moeda. Tinham utopia, também. Foi assim naquele tempo. Rei, nobreza, clero e povo, tinham a lucidez do conjunto e do pormenor.

Por eu saber isso de antemão, criei no meu espírito a vontade firme de pedir uma entrevista ao nosso primeiro rei. Consegui, como disse, graças a Egas Moniz. Me emocionei quando nitidamente percebi que ele poderia entender minhas perguntas e também por saber que ele intuía o país que criou e que conseguira passar a chama da cidadania patriótica aos seus cidadãos. Me emocionei quando percebi que ele tinha no coração o segredo carismático de uma nação, coisa que muitos portugueses deixariam de perceber e saber depois. Nosso primeiro rei era uma enciclopédia fundante de Portugal. Nos ensinou muitas coisas, porque criou e animou todos os conceitos básicos de Estado, de país, de cidadania, de honradez, de coragem e de unidade e união. Conceitos fundadores. Quando me apercebi disto, pensei logo que se chegasse a entrar na alcáçova, onde sua Majestade residia, isso já seria meia entrevista andada. Seria minha felicidade de portucalense.

Chegou o dia desejado.E, pasmem! D. Afonso Henriques me recebeu. Vou contar na próxima como foi a entrevista.


João Ferreira
20 de junho de 2006


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