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Contos-->UM ATLETA COMPLETO -- 17/11/2009 - 17:38 (Divina de Jesus Scarpim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Meu interesse sempre foi o esporte, meus pais contavam que saí do berço muito antes do que qualquer criança costuma fazer. A bola era meu brinquedo preferido, correr e pular meus melhores passa-tempos. Meu pai Thiago e minha mãe Lia eram meus maiores incentivadores. Eles me apresentavam os esportes de uma forma completa, me ensinavam de onde vinha cada esporte, quais foram seus maiores ídolos entre os Livres e entre os Frágeis, quando era um esporte que os Frágeis também praticavam, como futebol, tênis, basquete, vôlei... Portanto, comecei como todos os que gostam de qualquer coisa começam, acho: Aprendendo. Aprendi que corrida se disputa em várias modalidades que variam de acordo com a distância percorrida ou com o fato de ter pista ou não, aprendi que as corridas sem pistas se chamam Corridas de Bússola porque o corredor tem que ser veloz e, ao mesmo tempo funcionar como se fosse ou tivesse na cabeça uma bússola. É preciso que o atleta escolha o caminho mais curto sem ver o que tem à sua frente porque as árvores que ele atravessará impedem sua visão. É claro que os Frágeis não tinham esse esporte porque eles não podiam atravessar as coisas. As Corridas de Bússola acontecem nas matas porque é a forma como se pode atravessar coisas sem correr o risco de atravessar alguém ou a casa de alguém. Adorei as Corridas de Bússola e treinava muito com meus pais para aguçar meu senso de direção. A Corrida Aquática também é uma modalidade que achei muito divertida e que não tinha nos tempos dos Frágeis porque eles não podiam correr debaixo d’água. Foi em uma Corrida Aquática, atravessando a Represa Guarapiranga, que ganhei minha primeira medalha de ouro.

Meus pais me deram muitos livros sobre esportes e aprendi que alguns esportes dos Frágeis não sobreviveram porque não eram bem esportes embora eles chamassem por esse nome, eram lutas mais ou menos violentas em que eles se agrediam e até se matavam, chamá-las de esporte parece ter sido apenas uma maneira de fazer com que parecessem o que não eram: algo digno de apreciação e incentivo. Para mim ou para qualquer um dos Livres aqueles “esportes” não faziam o menor sentido, o que muitos fazem é estudá-los para tentar entender por que os Frágeis os praticavam. O fato é que eles encontravam prazer e juntavam multidões para ver dois deles se socando a ponto de sangrarem e perderem a consciência; apostavam fortunas em dinheiro e os vencedores se tornavam ídolos. Como cultura foi válido saber a respeito dessas coisas, mas era tudo tão sem sentido que não consegui me interessar demais. Os Frágeis não existiam mais e não era possível mudar a história nem perguntar a algum deles qual era o prazer de praticar agressão e chamar de esporte. Então eu preferia treinar. Tínhamos um time em nossa cidade e jogávamos com outros times de outras cidades; jogávamos em nossa “casa” ou na “casa” dos adversários, dependendo de qual cidade estivesse promovendo os torneios ou festas. Aquelas competições eram oportunidades de viajar e de conhecer pessoas, eu e todo o time apreciávamos muito. Todo dia de competição era um dia de festa. Nos intervalos nós treinávamos formando dois times e jogando entre nós, disputando corridas diversas em duplas e dando-nos como prêmio qualquer coisa que pudesse ter algum valor, desde uma medalha até um beijo de uma garota que aceitasse participar da brincadeira. Era pura diversão, mas ganhar tornava tudo melhor, e eu felizmente ganhava muito.

Foi num treino para a Corrida de Bússola Riacho-Bertioga que conheci Luana, minha mais respeitável adversária. Fizemos o percurso várias vezes tendo uma pessoa da família dela e uma da minha família em cada ponto para marcar nosso tempo. O difícil era competir com ela resistindo à tentação de ficar parado, olhando para aquele rosto, bebendo cada movimento daqueles cabelos, daqueles lábios, daqueles olhos. Pronto! Eu estava perdido, estava mesmo, perdido porque perdi a corrida, perdido porque caí de amores por ela. Treinamos juntos mas eu apenas a seguia, não conseguia usar meu senso de direção tão duramente treinado em outras corridas, o que importava era estar perto dela, vê-la correndo à minha frente, do meu lado. Não a ultrapassava porque não queria perdê-la de vista. Nem me importei de perder a corrida, só queria conhecê-la e saber onde vivia. Soube que vivia com uma família-time e morava em um estádio de uma cidade não muito longe. Minha família não era um time, quase todos os meus pais e as minhas mães gostavam muito de esportes mas minha família era a família que administrava a cidade. Quando falei dos meus planos todos os meus pais e mães concordaram que seria muito bom para mim morar com uma família de atletas, claro que eu não disse a eles que meu principal interesse era ficar perto de Luana. Saí então da minha família primeira e fui morar com a família dela, ficamos muito amigos e nos tornamos treinadores um do outro. Os outros membros da família dela preferiam os esportes com bola, só eu e ela gostávamos dos mesmos esportes, ou seja, todos.

Resolvemos comprar uma moto e nos revezar nos treinos para participar de Corridas de Bússola com moto, primeiro comprei a minha logo ela também comprou uma e nós treinávamos competindo. Ficávamos juntos quase que todo o tempo mas não existia romance entre nós porque ela estava com o Caio, só a amizade tinha que me bastar, mas não era fácil e era mais difícil ainda não deixar que todos percebessem o que se passava comigo. Um dia Caio falou que pretendia sair da família para se mudar para uma cidade que ficasse à beira-mar, foi constrangedor demais para mim quando ele disse que se Luana quisesse se mudar também não haveria problema mas que ele achava que ela deveria ficar comigo. Eu baixei a cabeça sem encontrar o que dizer e fiquei com o coração me batendo na garganta quando ouvi a resposta de Luana. Ela disse que não estava pronta para nenhuma das duas coisas, nem para sair da família, nem para iniciar um romance comigo. Caio disse a ela que achava então melhor que ela ficasse, que continuasse sendo minha amiga e deixando que o tempo resolvesse se algo mais deveria acontecer entre nós ou não, nesse momento ele se virou para o meu lado e perguntou se eu não concordava. Respondi que sim sem conseguir olhar direito para ele ou para qualquer uma das quinze outras pessoas na mesa. Como fui burro pensando que alguma vez escondera daquelas pessoas o meu interesse por Luana! No dia seguinte Caio se despediu de todos e foi embora. Nosso abraço foi de irmãos que não tiveram a oportunidade de se conhecer como deveriam.
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