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Artigos-->ADMIRÁVEL GUERREIRO DOURADO -- 08/01/2003 - 20:20 (MARCIANO VASQUES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ADMIRÁVEL GUERREIRO DOURADO



“Meu pai se chama Nilton. Ele é um pai maravilhoso” assim começa a redação de Juliana, a filha de Nilton Dourado, uma das jóias da nossa região. Nilton dourado, auxiliar de enfermagem -Seu primeiro paciente foi o pai. Estava naquele dia de plantão com a sua equipe. Não conseguiu fazer nada para salvá-lo, pois ele chegara com morte cerebral.-, deficiente físico (teve paralisia infantil), passou a maior parte da infância em leitos de hospitais. Nenhuma barreira foi empecilho para que vencesse. Aliás, ele não tinha escolha. Era vencer ou vencer.

Já foi homenageado na Câmara Municipal com voto de júbilo e congratulações. Vinte e dois anos trabalhando com extrema dedicação na saúde. Uma vida repleta de histórias, sonhos e conquistas. Um autêntico vencedor, tem uma família feliz, onde o amor reina absoluto.

Costuma dizer que Deus até lhe deu mais do que merecia.

Nilton é um tesouro precioso na vida dos que acreditam que o cultivo de boas amizades é um belo investimento humano.

Nasceu em Rancharia (interior) em 1959 (aos 11 meses foi acometido de paralisia infantil) numa família numerosa (11 irmãos). Filho de um casal humilde da roça, cuja grande vitória foi ter conseguido criar os 11 filhos na selva de pedra e ter transmitido os valores essenciais para se viver dignamente.

Todos os irmãos estão vivos. Um deles é padre, o querido padre Alberto, da igreja Santa Edwirges , no Monte Virgem (atrás do Pão de Açúcar, na Penha).

Com cinco anos, Nilton veio para a capital fazer tratamento. Não era então viável a cirurgia. A paralisia deixou seqüelas (já realizou cinco cirurgias). Vive com o auxilio de ortese e prótese.

Dificuldades deixaram rastros que são aprendizados. Desde cedo aprendeu a edificar a dignidade. Aprendeu também a sobreviver, pois no seu caso era mesmo questão de vida e morte. Ficava olhando os outros meninos e pensava: “ Como seria bom poder brincar, soltar pipas, poder correr, jogar bola, brincar com bolinhas de gude, conviver com garotos fisicamente normais”. Convivia, mas era discriminado. Não tinham noção da importância da convivência, não conheciam a fórmula de viver sem preconceitos, seja lá de que tipo for. As provocações diárias aumentavam a sua aceitação das limitações. E com elas ele se preparava para se tornar o guerreiro vencedor.

Sua mocidade viveu na Zona Leste, em Vila Ramos, onde finalmente teve a fase de auto-estima acentuada. Participou de um grupo de teatro, onde conviveu de igual para igual com os outros membros. Aprendeu a tocar violão e deu uma arrancada em sua vida. A cada acorde que tocava acordava para a sua realidade de lutador que sempre o espreitou no horizonte.

Formou depois um grupo de teatro no Jardim Três Marias e ampliou seu patrimônio de amizades, conhecendo, quando reivindicava a regulamentação de um curso supletivo, a jornalista Valdenete Gomes de Moraes, grande incentivadora de sua carreira literária que já despontava na sua vontade de pôr em prática os ideais de transformação social através da poesia, do teatro e da música.

Valdenete prefaciou o seu livro –um dos projetos da sua vida- e ficaram amigos.

Fez o curso de atendente de enfermagem do SENAC numa sala montada na Sociedade Amigos de Ponte Rasa e participou da montagem da primeira comissão de saúde do bairro, iniciando ali a sua consciência política e a sua trajetória de lutas populares.

Para ele, no fundo, o seu “problema físico” realmente nunca foi empecilho nenhum. Dirige (e muito bem) totalmente com as mãos um carro adaptado.

Juliana, a filha que no ginásio contava a história do pai em redações recheadas de orgulho e admiração, sabe que o pai proporcionou uma educação boa e construiu uma família feliz. A princesa, nascida num dia 22 de outubro , não vê dificuldade nenhuma no fato do pai ser deficiente. Diz que ninguém carrega a deficiência dele. Todos caminham a seu lado com muito orgulho e felicidade.

Até hoje a sua biografia está no mural da escola Dom João Maria Ogno (NAE 7) onde concluiu o ensino supletivo de segundo grau.

Gostoso ouvir suas histórias. Expande felicidade quando fala da companheira que conheceu no hospital modelo. Um dia, no refeitório do hospital ela chamou a sua atenção. A sua aproximação tornou-se para ele um momento inesquecível. Tropeçou com a bandeja e tudo, levantou e se dirigiu até a mesa. Após uma conversa inicial, marcou um primeiro encontro dentro do metrô e nunca mais saiu da cola dela.

São tantas histórias, tantas curiosidades. Uma vida dourada, digna de um guerreiro.



MARCIANO VASQUES

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