A Arte de Jogar
As pedras de xadrez foram-me mostrando
a arte de jogar.
E as ondas do mar deram de chegar para me
ensinar a recuar e a avançar.
Receitaram-me silêncio, concentração.
Mandaram-me parar de tomar pílulas de
responsabilidade, que me andavam deixando
à beira da insanidade.
No quesito de personalidade, não dava para
acreditar, mandaram-me recuar.
As pedras do xadrez confirmaram: hora de
recuar, de esperar a maré baixa passar.
Em letras garrafais escreveram caminhadas,
pés descalços a chapinhar nas poças de água
que a maré baixa deixou para trás.
E ainda disseram: é assim que se faz.
Que pisasse ali bem firme como quem está a
enterrar o que não chegou para somar.
Que sem tirar os pés da areia me fizesse o
Capitão do meu navio, que não o deixasse afundar.
Que fizesse isto e aquilo como quem anda a brincar
de mover as pedras do xadrez, como quem joga para ganhar.
De limpar, de preservar aquele barco à deriva em alto mar.
De me cercar de amigos que chegaram para somar.
Que seguisse no meu momento sem dor, sem
ressentimento.
Que ficasse assim longe de mim, vazia de existência,
de inteligência.
Um espaço a preencher por outro jeito de viver.
Lita Moniz
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