“No começo, Deus criou o céu e a terra, e a terra era vazia e sem forma. Veio então o planeta Terra, recém nascido e esfriando rapidamente de uma temperatura de 6000 graus e umas poucas centenas em menos de cinco bilhões de anos. O calor se eleva, encontra a atmosfera, formam-se as nuvens e a chuva desaba sobre a endurecida superfície por séculos sem conta. Surge o mar revolto, encontra obstáculos, é contido, começa o mistério da vida. Aparecem coisas vivas em infinita variedade e se transformam e atingem a terra, deixando o registro de sua vinda, de sua luta para sobreviver e de seu fim eventual. O registro da vida é escrito na terra onde 50 milhões de anos depois, no âmago da região do Amazonas, o homem ainda tenta decifrá-lo.”
Com essa introdução narrada começa o filme “O Monstro da Lagoa Negra”, de 1954 e dirigido por Jack Arnold, o mesmo de clássicos como “Veio do Espaço” (It Came From Outer Space, 1953) e “O Incrível Homem Que Encolheu” (The Incredible Shrinking Man, 1957). Fotografado em preto e branco, “O Monstro da Lagoa Negra” é considerado um pequeno clássico de horror “B” e que originou mais duas boas sequências, “Revenge of the Creature” (55) e “The Creature Walks Among Us” (56).
A história passa-se na Amazônia, que aliás era muito comum nas fitas de ficção científica e horror das décadas de 40 e 50, a utilização dessa enorme e intrigante região desconhecida como tema. Outros filmes importantes como “Delírio de um Sábio” (Dr. Cyclops, 40) e “O Mundo Perdido” (The Lost World, 60) também utilizaram a Amazônia como cenário de seus eventos. Na época, o imenso pulmão verde servia de inspiração para os imaginativos roteiristas, sendo palco de civilizações perdidas, mundos ocultos, animais pré-históricos que sobreviveram ao longo do tempo, laboratórios de cientistas loucos, e todo tipo de mistério que fascina a humanidade.
Um grupo de cientistas está procurando fósseis antigos na região do Rio Amazonas e encontram a pata de uma criatura desconhecida. Eles resolvem então organizar uma pequena expedição e partem à bordo do barco “Rita” à procura de outros vestígios e esqueletos. Viajam até um local chamado de “Lagoa Negra”, devido às águas serem muito escuras, e lá acabam descobrindo uma estranha criatura viva, um ser anfíbio muito parecido com o homem. Considerando a maior descoberta de todos os tempos, os cientistas tentam capturá-lo com vida, e após vários confrontos com o ser, parte da expedição morre. Assim como ocorreu em “King Kong” (33), a criatura também se simpatiza com a única mulher do grupo, a jovem e bela Kay (interpretada por Julia Adams).
As ótimas sequências aquáticas envolvendo as lutas entre os pesquisadores e o monstro anfíbio, interpretado por Ben Chapman e criado por Bud Westmore e Jack Keran, são os grandes destaques do filme, além do interessante roteiro baseado em história de Maurice Zimm, criando o “monstro da lagoa negra”, um dos personagens mais importantes da história do horror e que juntou-se à galeria já formada por outros monstros clássicos como o vampiro “Drácula”, a “criatura de Frankenstein”, o “Fantasma da Ópera”, a “Múmia” e o “Lobisomem”, os quais juntos foram responsáveis por dezenas de filmes que aterrorizaram por gerações os fãs do cinema fantástico.
O MONSTRO DA LAGOA NEGRA (The Creature From the Black Lagoon, EUA, 1954, Universal). Direção de Jack Arnold. Produção de William Alland. Roteiro de Harry Essex & Arthur Ross, baseado em história de Maurice Zimm. Música de Joseph Gershenson. Fotografia de William E. Snyder. Som de Leslie I. Carey & Joe Lapis. Direção de Arte de Bernard Herzbrun & Hilyard Brown. Decoreção de Russell A Gausman & Ray Jeffers. Edição de Ted J. Kent. Assistente de Direção: Fred Frank. Direção das Sequências Aquáticas: James C. Havens. Fotografia Especial: Charles S. Welbourne. Elenco: Richard Denning (como Mark Williams), Richard Carlson (David Reed), Julia Adams (Kay), Antonio Moreno (Carl Maia), Nestor Paiva (Lucas), Whit Bissell (Dr. Thompson – Bissell faria parte mais tarde do elenco fixo da série de TV “O Túnel do Tempo”, de 1966), Bernie Gozier (Leo), Henry Escalante (Chico). Duração: 78 minutos. Preto e Branco. |