Ânsias
Ânsias, vontades a chegar.
Ide! Afastai-vos de mim.
Quero o silêncio deste lugar.
Abraçar este céu e este mar.
Abrir portas e janelas.
Convidá-los para entrar.
E se uma alma chegar,
que seja uma alma calma.
Um professor a ensinar o que
é preciso fazer para o coração
Sossegar.
Um Xamã que sabe com a alma falar.
Que conversa com lobos, que entende
O seu uivar.
Que conhece outras ânsias que vagam pelo
infinito a fazer conexão com gritos de aflição.
Xamã de verdade sabe entrar.
Navega em sintonia com ondas cerebrais,
Aquelas que desconhecem ais.
Ondas de recuo que não conseguem aflorar.
A outra face da moeda é quem manda.
A ordem é recuar.
No recuo o Xamã pede que me deixe assim
longe de mim até me esquecer.
Onda de recuo vem me buscar.
Leva minha alma, sangue e tudo o mais que sou.
Deixa-me ir sem saber para onde vou.
O que sou agora pede silêncio à hora.
Onda de recuo que de tanto recuar saiu deste lugar.
Chegou a outro patamar.
Que lugar é este a me chamar?
Que ar é este que tem o poder de me dissolver?
Derreteu o meu passado, fluido pastoso a correr
para fora do meu ser.
O futuro é um ponto escuro prestes a se dissolver.
Presente ausente.
Toda a dor, de repente ,deixou de doer.
Ânsias de ser para além de mim.
Algo assim que se parece com a
Paz sem fim.
Lita Moniz
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