Ontem, sintonizado na RTP2, estive a ver e a ouvir uma daquelas conversinhas em que se mexe e remexe nos fios todos do cabo eléctrico e a luz nunca mais acende.
Desta feita os três habituais convidados distribuíam-se por um negão brasileiro, actor, daqueles que arreganham a taxa para mostrar o marfim todo, uma advogada loira aquarentada, que casou com um português, ambos com 12 anos vividos em solo lusitano, e um daqueles anjinhos barbudos, tipo Zezinho que nunca foi Zequinha e ainda gosta muito de leitinho, incapaz de desbravar a sociologia que estabelece o oscilante traço de união entre basucas e portugas.
Pois, o que é que se esperava? Nenhum deles se atreveu a dizer uma luminosa asneira que sequer de electricidade precisa para fazer alguma claridade.
Não foi mencionado, naturalmente, que por cada patife português o Brasil tem 18. O Brasil, mais do que Portugal, em gente e por cada unidade, tem sempre pelo menos mais 18.
Por aqui, quando vou na rua e se me depara uma portuguesa boa, não tenho dúvida alguma em pensar em 18 brasileiras boazonas, boas-boas até um gajo ir para um sanatório com uma doença irrecuperável nos pulmões.
Também não se tocou no euro e no real, assunto assaz delicado que euforiza qualquer pacato cidadão em face da tremenda realidade.
Outrossim, não se referiu que o povo brasileiro domina mais e melhor a sexualidade. Enquanto uma bundinha no Brasil é um "toma-lá-dá-cá", em Portugal, só uma mexidela de olhos mal mexida pode dar um banzé do caraças.
Abordou-se, por exemplo, a papelada que é necessária para que um brasileiro se justifique em Portugal ou um português se credite no Brasil, espécie de sarilho propositado em que as leis de um lado e do outro, apesar da mesma língua, persistem num imbrogliante desentendimento, espécie de pão recozido que logo que sai do forno já está seco. É que o pão seco alimenta mais e melhor e não se come tanto.
Posto isto, assim que constatei que o programa não interessava ao Menino Jesus, passei o "on" a "off", apaguei a luz e, pasme-se, de imediato tive uma excelente compensação: adormeci e sonhei com uma brasileira boa-boa-boa que me livrou dos habituais pesadelos.
Fomos para as Berlengas e ali, num sono de 5 horas que demorou 20 anos, uns segundos antes de acordar, tinha 18 filhos e 36 netos, uma família linda-linda, todo o mundo brincando ao meu redor. Apre, acordei e tudo se desfez num ápice.
António Torre da Guia |