As coisas são muito mais do que são. Por que, o que são as coisas, se não o conceito que fazemos delas?
Resolvi encontrar a divergência no igual, na obviedade do comum. Na busca dessas diferenças, descobri que as coisas são distintas a cada nova descoberta. A percepção das coisas é um caleidoscópio que gira em torno de nossos sentidos, vivências, interpretações e registros.
A arte de apreciar só é possível, quando olhamos para as coisas conscientes de que elas possuem facetas diferentes a cada novo olhar que lançamos sobre elas.
Os nossos olhos vivem a procura daquilo que consideramos belo. O "prazer estético" é uma necessidade inerente à alma humana.
Atribuir valores à quilo que nos apetece é algo simples, um verdadeiro truísmo. Como é aprazível olhar para o ocaso! Observar a calmaria e plenitude do mar nos faz pasmar. E como é agradável admirar uma rosa rorejada, a banhar-se com os primeiros raios do sol em uma manhã de primavera! Expectar a beleza é um lenitivo para os nossos olhos, impregnados e violentados pela poluição visual comuns ao caos da sociedade moderna.
Apreciar é uma arte, e por isso não é incomum, nessa busca de realização estética, surgirem os "admiradores artesãos". Sob a perspectiva desses admiradores, a percepção se perde quando a originalidade e a criatividade na leitura são anuladas pelo modo repetitivo da apreciação.
Descobrir a beleza naquilo que consideramos trivial, comum e até feio, é um privilégio de pares de olhos que aprenderam a apreciar. É uma graça que só possuem os "admiradores artistas". Tais pessoas carregam dentro de si um registro, onde a realidade interior está em constante diálogo com a exterior. É a alma enamorada das coisas, dialogando com os objetos à sua volta . Impregnando-se de impressões e expressando os mais puros sentimentos a seu respeito. Admirar se torna então, não apenas um ritual, mas poesia e vida.
Assim como uma cor muda suas nuances durante dia - pois a luz cumpre o seu papel de matizá-la - todas as coisas se renovam, tudo muda, tudo passa.
Mas a arte de admirar vai além do óbvio. Ela é capaz de extrair beleza até do mais sórdido lixo. Sob seu olhar o imprestável toma forma, cor, e revive. Esse é um processo instantàneo de reciclagem que se processa no coração daqueles que aprenderam a admirar.
As impressões das coisas são indeléveis, estão para sempre gravadas nas tábuas da alma. São os nossos conceitos mudando as coisas... e as mesmas coisas nos impressionando a cada novo olhar. Essa é a arte de apreciar as coisas!