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Contos-->O PORTÃO DO CEMITÉRIO -- 21/12/2009 - 21:13 (Ilário Iéteka) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O PORTÃO DO CEMITÉRIO


Dona Gernir tinha o costume de ir ao cemitério toda as segundas-feiras à tarde, visitar o túmulo de seu finado marido. Viveram uma vida a dois por mais de quarenta e sete anos. Nasceu a dor da saudade, a dor mal compreendida pela partida de seu companheiro querido. A sensação que nascia no peito, o chão abrindo-se a cada passo, ausência física do esposo, fazia com que ela se sentisse abalada e triste. Seu conforto era ir até capela porque foi ali que o viu pela última vez, sabendo que nunca mais ia tocá-lo.

Podia estar chovendo ou fazendo um dia maravilhoso. Ela pedia para alguém da família levá-la ao seu compromisso sagrado. Chegava ao local, do lado esquerdo do jazigo há um degrau, aonde ela sentava, ficando supostamente ao lado dele. Era um dever, acender dois cigarros, um era colocado sobre a gaveta mortuária aceso, como se estivesse oferecendo ao marido já falecido, o outro ficava tragando aos poucos.

Existe uma capelinha ao lado das gavetas e dentro dele Gernir olhava para a foto. Parecia que os dois se comunicavam, ela dizia:
_ Jovenal, sinto saudades de você!! Como está difícil me acostumar sem a tua presença meu véio...

Quem passava percebia que era um desabafo de quem perdeu o alicerce emocional. Ela ficava falando longos minutos, contando-lhe histórias da família, do dia a dia. Era notável, para aqueles que acreditam, que ele respondia de alguma maneira. Antes de ir embora, Gernir sentindo certa proteção do marido, falava:
_ Véio, olhe por todos nós!

Esse hábito presente na família virou “a mania de todas segundas-feiras de Gernir”. Esse dia da semana era sagrado, nada a impedia da visita ao seu amado, lá estava dona Gernir fumando seu cigarro com o falecido. Filha e filho tinham que abandonar seus afazeres para levá-la ao cemitério. Com os anos passando, surgiu a dificuldade para entrar no carro, locomovia-se lentamente, seus noventa quilinhos não ajudavam em nada. Ainda existiam outros detalhes, como por exemplo, pressão alta, braço machucado, coluna com problemas, andava arqueada. Porém isso não era impedimento para a guerreira de fazer seu passeio semanal. Horário costumeiro era dezessete horas, sem criticas dos filhos. A mãe pedia mais um tempinho e como ordens, eles obedeciam mas alertavam:

_ Mãe.. vamos rápido, o expediente é só até dezoito horas.

Cemitério do bairro Água Verde, um dos maiores da capital, com entradas pelas laterais e fundos, a capela da família ficava nas proximidades dos portões que ficavam no final do cemitério. Gernir não precisava caminhar mais que cinqüenta metros, porque o carro já era estacionado a frente do portão. Ela acendeu mais um cigarrinho e mais prosa com o falecido. O tempo passou rápido, ninguém percebeu que os portões foram fechados. Na hora de irem embora , ela e os filhos se dirigiam ao lugar onde estava o carro. Então veio o susto e gritaram:

_ E agora??? Estamos presos dentro do cemitério!!

O pânico foi geral, porque teriam que caminhar até a saída principal. Os filhos sabiam que para dona Gernir, as condições eram adversas, caminho longo, penoso, impossível percorrer aquela distância. No mínimo iriam gastar uma hora para vencer o percurso. Os três visitantes de Jovenal estavam apavorados, tinham que agir rápido e um dos filhos disse:

_ Manhê? A senhora vai ficar aqui em frente do portão, enquanto nós vamos procurar os responsáveis pelas chaves. Por favor não saia deste lugar. Acalme-se que voltaremos em menos de dez minutos. A filha foi pela esquerda e o filho pela direita, tentando alcançar o homem com as chaves dos portões. Não conseguiram, dirigiram-se a portaria principal, quase sem poder respirar de tanto correr e começaram contar a história:

_ Nós nos descuidamos do horário e ficamos dentro do cemitério presos! A nossa mãe é doente, obesa, sofre da coluna... ela não consegue caminhar este percurso até aqui na secretaria. Pedimos o favor que nos ajudem. Nós precisamos que um de vocês abram o portão de trás para que ela possa sair.

Um jovem se prontificou e foi gentil conosco, disse-nos:
_ Acalmem-se que estamos a caminho, não é primeira vez que acontece.
Os filhos saíram rápido porque estavam preocupados com a coitada da mãe. Quando foram se aproximando do lugar, para a surpresa de todos, ela não estava no lugar combinado. O funcionário pergunta:

_ Cadê a dona Gernir?
Para desespero dos filhos, haviam pensado que lhe havia acontecido algo de mal e começaram a gritar:
_ Dona Gernir?
_ Manhê, cadê a senhora?

Todos que estavam ali ficaram extremamente preocupados. Os filhos correram até o portão e olharam onde estava estacionado o carro. Para o espanto, lá estava ela toda garbosa. Fumando um cigarrinho, encostada no carro. Quando viu o filho e a filha, fez um gesto com os braços cruzados, querendo dizer: - Bananas pra vocês!!! - , e ficou rindo, com aquela cara de pessoa malandra, sapeca que acabara de aprontar.

Como fez para chegar ao lado de fora? Havia muro com mais de dois metros e para escalar o portão eram grades altas e de difícil acesso. Principalmente para uma senhora daquele porte que se dizia fraca e doente.

A façanha da dona Gernir era muito mais que a destreza. O homem que abriu o portão ficou pasmo com a coragem da mãe. Os filhos sem entender como ela havia conseguido, perguntaram:
_ Como conseguiu esta proeza?
Ela nos respondeu com um sorriso cheio de malandragem:
_ Hum... lá dentro só fico depois de morta!!

Na verdade Gernir parecia ter visto fantasmas para adquirir coragem e habilidade para escalar aquele portão. Ninguém viu a cena, apenas ela sabe como conseguiu. Os filhos achavam que era como um milagre. Na verdade há dois degraus em sua casa e que para o corpo daquela senhora parecia ser doloroso subi-los, reclamava de ir até uma esquina de dor, mas de repente virar montanhista? Enfrentar perigos e escalar sozinha um portão com mais de dois metros de altura? Só por ser história de cemitério, forças ocultas dando um baita empurrão. Quem sabe não foi um grito de socorro que o VÈIO JUVÊ ouviu e apareceu para ajudar, e dizer obrigado pelos cigarrinhos e os momentos de prosas em todos aqueles anos de ausência. Até hoje para quem ouve o fato, parece piada, mas é uma incógnita...
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