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Discursos-->Não sabem o que é uma cobra, um molusco, um diamante -- 28/02/2003 - 14:28 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- E esse teu cachorro, doutor?
- Só faz o que quer, nunca obedece, precisa de um psicólogo.

[Depois de uma frase do Prof. Dr. Maury Pinto de Oliveira, 89 anos, UFJF, em matéria de Heloísa Helvécia, para o caderno SINAPSE, Folha]

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- O que acha da psicanálise?
- Odeio tudo o que começa com "psi".

[Depois de uma palestra do cineasta Werner Herzog, há tempos, no Instituto Goethe de São Paulo]

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- Sabe a diferença entre o pedófilo e o pedagogo?
- .......
- O pedófilo gosta de criança.

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- Joãozinho, outra vez sem a borracha? Você nunca erra?
- Não, professora, é que eu nunca acerto.

[Depois de Uilcon Pereira, em "A educação pelo fragmento"]

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"É o teste: mando-o encontrar nos textos o que viu na concha. Se está em alemão, francês ou inglês, não me interessa. Quando ele me der uma descrição correta, podemos conversar. Se vai levar um mês ou quatro anos, problema dele. Isto não é escola primária."

[Do Prof. Dr. Maury, malacólogo, professor na UFJF, que entrega uma concha e uma pilha de livros ao estudante que o procura para orientação]

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"Em 50 anos,teríamos um acervo com toda a riqueza da zona da mata. Seria uma forma de educar esses meninos, coitados, que, seja na roça, seja na cidade, nunca têm meios de aprender nada, não sabem o que é uma cobra, um molusco, um diamante."

[Do Prof. Dr. Maury, que também criou e dirige o Museu de Malacologia na UFJF]

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Sempre houve uma tremenda aversão pelas ditas disciplinas pedagógicas, as matérias que garantem ao aluno o licenciamento para ministrar aulas nas diversas disciplinas do currículo escolar. Essa aversão se traduziu, genialmente, numa denominação - obra do anonimato - que pretende abarcar todas elas: PEDAGORRÉIA.

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Em "Jakob von Gunten", um dos três grandes romances que escreveu em dois dos sete anos que viveu em Berlim, o escritor suíço Robert Walser destila a ironia que se espalha pelo restante de sua obra. O romance costuma ser comparado a "O jovem Törless" (traduzido para o português por Lya Luft e filmado na Alemanha por Volker Schlöndorf), um outro romance de formação do século XX, onde já se pressente, na relação sádica entre os alunos, a eclosão das tendências nazi-facistas não só na Alemanha. Alguns críticos querem ver nele, também, uma provável inspiração para Kafka em "O castelo". "Jakob von Gunten" traz os escritos de um aluno interno numa escola muito especial, o Instituto Benjamenta (assim se chama a tradução francesa e o filme, também francês, baseado no livro), cujo objetivo principal é transformar seus alunos num "zero bem redondo".


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"Passem uma gargalhada sonora ao redor de qualquer instituição e ela desmorona."

[Eça de Queiroz]

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A derrocada do nosso sistema de ensino vai finalmente tomando conta do ensino universitário público, com o semi-analfabetismo galopando rumo aos títulos de mestrado e doutorado. A cota especial para negros, pardos e egressos do ensino público oficial já entrou, merecidamente, para o anedotário nacional deste período, para ser politicamente correto, obscuro. Agora, com as faculdades dominadas por uma representação política omissa e que compactua com uma corporação agressiva de funcionários, que já começa a interferir até no trabalho da docência, parece que estamos mesmo a caminho do fim.

Algumas medidas recentes, a título de exemplo:

- Sempre achei absurdo o monopólio do Curso de Letras sobre as línguas estrangeiras. Nos últimos anos, só faz aumentar a demanda por parte de alunos dos outros cursos que não o de Letras. Em alemão e italiano, por exemplo, na Faculdade de Ciências e Letras da Unesp, em Araraquara, temos tido cerca de 80 candidatos a ouvintes ou alunos especiais. Entre as outras tantas legítimas razões para explicar essa demanda, eu apontaria o fato de que a carreira universitária pressupõe conhecimentos nesse âmbito. O mestrado exige proficiência em um idioma estrangeiro e o doutorado, em dois. Uma medida recente determina que se aceitem ouvintes nos cursos de língua estrangeira tão-somente a partir do segundo ano. De acordo com as vagas disponíveis, e que não eram preechidas por alunos de letras, costumávamos aceitar um certo número de ouvintes já nos primeiros anos, o que sempre me pareceu bastante razoável. Para começar no segundo ano, só mesmo alunos vindos de fora e que já tenham cumprido, em outra instituição, o equivalente ao que fazemos no primeiro ano. Ou seja, muito pouca gente.

- Mesmo havendo vagas, um aluno não pode mais se transferir de um período para outro (só em caso de gravidez ou quando um aluno arranja emprego, o que é pouco provável, convenhamos, para quem queira se transferir do noturno para o diurno.

- A instituição da "recuperação progressiva", que significa estabelecer formas de recuperação ao longo de cada disciplina ministrada, para evitar que alunos fiquem para recuperação ao final do curso, com provas a serem realizadas em janeiro/fevereiro. Ou seja, a ordem é aprovar todo mundo, não é mesmo? Ou, quando muito, a primarização do ensino superior a um grau insuportável.

Apenas alguns poucos exemplos. Os que mais recentemente me pegaram de suspresa. Acho que já são suficientes. Não precisaria escrever muito para dizer quem é que sai lucrando com tudo isso.

Em mãos do professorado, as universidades, do ponto de vista político-administrativo, normalmente já não estavam em muito boas mãos. Mas, digamos, salvava-se o espírito universitário.

Agora, conduzidos por medidas administrativas absolutamente divorciadas de qualquer idéia aceitável de "universidade", já não vamos poder mais por muito tempo ostentar esse nome. Virou a casa da Mãe Joana, com professores se engalfinhando atrás de títulos e para cumprir a obrigação, também uma invenção recente, de promover eventos culturais; com bandas de policiais militares tocando música de baile no restaurante em evento sobre o Modernismo; com as palestras de auto-ajuda já chegando aos nossos anfiteatros; com os rituais macabros das formaturas (de beca!) já incluindo entre os gastos exorbitantes a contratação de oradores;
com os eventos culturais pendurados em merrecas distribuídas por projetos duvidosos que nada têm a ver com a vida cultural, o dia-a-dia universitário conduzido sem charme ou elegância em direção ao nada. Tudo isso, apenas para garantir a pouco honrosa ocupação dos cargos por quem não é de direito, gente que normalmente assume dizendo que não os queria, numa vida política praticamente sem disputas, o que já é um caminho inteiro andado rumo a um pensamento único, qualquer que ele seja. E que alguém ainda possa se achar de esquerda no meio disso tudo?! Ou stalinista, por exemplo?!

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"O que era um belo conteúdo de vida, hoje não passa de uma forma de vida", diz Peter Handke. Por "forma de vida", entenda-se, na maior parte dos casos, "meio de vida".

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Da escola já se disse "risonha e franca". E uma cartilha se chamava "Caminho Suave". Bons tempos!

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Era pra ser só aquele primeiro minidiálogo lá no alto, depois de uma tirinha do Garfield. Mas fui em frente e aqui estou. Talvez porque acabo de produzir mais um relatório. Antigamente fazíamos um relatório trienal, que era quase a razão de ser da nossa vida de pesquisadores e docentes universitários. Agora inventaram os relatórios anuais, mantendo, é claro, aquele trienal. Como já escrevi em outra parte, ainda o chamaremos de "meu querido diário".

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Alguém já definiu a universidade como uma espécie de campo de isolamento para indivíduos minimamente dotados de inteligência ou que tiveram acesso a escola (eu diria que não precisa ter muita inteligência ou estudo), para que não venham a oferecer riscos à sociedade, como no passado até bem recentemente. Daí a profusão de tarefas inúteis, absurdas. Daí o estresse, a deterioração das relações entre todos. O vazio vai sendo preenchido por coisas muito chatas.

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- Daqui a quatro anos eu vou falar o alemão?
- Depende do que você tem a dizer.

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Repito que já vimos conseguindo proteger, razoavelmente, os alunos ingressantes em relação à violência física que explode nos trotes. Urge não deixá-los, no entanto, entregues às mais diversas formas de violência intelectual, ideológica ou institucional. Urge criar rituais de convivência humanamente sadia, salvá-los dessa muito bem calculada infantilização progressiva. Não basta, como faz o projeto Viver Bem, combater os excessos no uso do álcool ou das outras drogas não instituídas socialmente. Sem isso, é duro e arriscado dizê-lo, a aluna assassinada numa festa de recepção aos calouros em Presidente Prudente não terá perdido grande coisa da vida que, com grandes e legítimas aspirações, apenas iniciava.

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