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cronicas-->VÓO NOTURNO -- 24/07/2006 - 12:58 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Primeira crónica da série*)

1

VÓO NOTURNO



O vóo da AA é igual aos outros, embora se intitule "The American Way". Dentro de um avião. Entubado. Sobre as nuvens, em assento apertado da economic class. A economia é no espaço e na qualidade do serviço.
Os comissários de bordo foram produzidos em série: atléticos, cabelos cortados como heroes funk e bigodes latinos. Bonitos. Tipo machoman das discoteques gay de NY e do Rio de Janeiro. As aeromoças parecem (e estão) uniformizadas, hieráticas, hirsutas como as bonecas Barbie dentro de suas caixas. Sorriso plastificado, postiço, descartável.
Tortura coletiva é a posição de dormir: sentados, apertados, com os cotovelos recolhidos. Mas o meu vizinho dorme à solta, contradizendo o desconforto. Dormiria de pé, em trem suburbano. O barulho pressurizado dá-nos a certeza de um alojamento dentro de um aparelho de ar condicionado, silencioso à vácuo, confundido com o burburinho de falares e dizeres superficiais dos passageiros. Por quê passageiros?!
Quase perdi o vóo, entretido em ligações telefónicas. Fiquei detido na inspeção eletrónica por portar dezenas de fichas no bolso, detonando o alarme como se fosse arma de terrorista. Tiverem que abrir a porta da aeronave. Não seria a primeira vez a perder conexões aéreas, distraído na sala de espera ou perdido em divagações.... (Há quem perca vóos dormindo na sala de espera ou perdido nas lojas do Duty Free).
Voar é um exercício de ficção científica. O 767 é um ónibus espacial em escala comercial, com banheiros sanfonados e telas de projeção. Os filmes (quais?) devem ser de ação ou comédias romànticas. Gosto global, majoritário. E vendem de tudo, só coisas inúteis. O catálogo é sempre o mesmo, para as mesmíssimas pessoas, mesmo que troquem de nome.

* * *
No mega-aeroporto de Miami, em filas imensas e em corredores intermináveis, a gente percebe que viajar é uma sucessão de desconfortos com instantes de fascinação. Mais que nada, uma questão de atitude, de predisposição.
A cor predominante é o roxo. Roxo?! Tem flores de plástico e aquele trem asimoviano que faz a saudação aos transeuntes. Aqui começa a Disneyworld! Um fluxo contínuo de gente de toda parte e todo tipo. Sobretudo gente feia. E muitas crianças buscando o sonho e a fantasia das atrações veranistas. Máquina de sonhos.
Brigitte Bardot, ao queixar-se da degradação do sul da França -onde grassa a violência, a vulgaridade e o consumo ostentoso-, falou em algo parecido com maiamização. Aqui é a terra da breguice chic e da camelotagem de luxo, com raros espaços reais para a sobriedade e a elegància. Elegància soa old fashioned numa zona tropical que é um circo a céu aberto, um supermercado de bugigangas e diversões. Mesmo na aristocrática parte art déco de Miami Beach, cenário dos novos-ricos, de pantalla como diriam os cubanos. É uma cidade de imigrantes, de turistas, de aposentadoa. Borbulhante, enganosa, extravagante. Com muito de brilho e banalidade. Agradável e cativante.


Próxima crónica da série: VIDA MíNIMA.
Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance, paulatinamente.Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud: "A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas.




Crónica do livro: Miranda, Antonio. Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.

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