>>> Contando anedotas <<<
Eu não sei tratar uma piada
Como uma piada, porque o riso
Depende de não querer fazer rir
Descaradamente.
Um pouco de seriedade cai bem,
Um pouco de dissimulação
E a coisa toda está feita,
A coisa toda está bem feita.
Sabe, isto vale para o amor.
O amor é que nem anedota,
Precisa parecer inédito.
O amor não precisa parecer amor,
Caso contrário parece forçado.
Porque a piada é uma sedução
Só se vence quando se capta
A atenção de forma inconteste.
Aqui não trata-se de outra forma de convencimento brutal.
Não adianta forçar o amor,
Não adianta forçar o riso,
São coisas que se coletam
Após semeaduras sutis.
Como acontece é algo
Que realmente não importa,
Pois o truque tem mais sabor
Quando imaginamos que a mágica existe
E que não se trata de ilusionismo,
Tapeação,
Charlatanismo.
Quando tento conquistar
As garotas que despertam
Minha atenção displicente
Quando tento cativá-las,
Mesmo abrindo um sorriso hermético,
Eu tento ser essa anedota,
Essa conquista irresistível
Que apela para a inteligência,
Que anula a resistência e evoca a sensibilidade,
Pequena barreira passível de derretimento.
Conto anedotas, ciente do risco de ver uma risada
Amarela, mas com a brutal recompensa, independente
Do que acontecer.
Ajustar o tempo,
O timing cômico,
O timing do amor
O tempo certo para o arremate preciso.
Enquanto em meu amadorismo
Atrevo a me apresentar
Canastrão e canhestro.
Eu quero uma palma solitária,
Não quero ser sucesso de venda,
Quero aplauso sincero,
Quero risada viva,
Quero fazê-la rir, quero abstraí-la
Em meu juízo e avançar,
Em passos doidos, mas lentos e irresistíveis,
Rumo a essa rendição.
A anedota é essa rendição sutil.
O amor é uma anedota
Que não pretende ser engraçada,
É a anedota que quer despertar,
Tocar,
É a anedota que que se quer inédita,
E por isso mesmo ser irresistível.
O amor é uma anedota
Que requer o seu tempo
Um golpe exato e preciso
Totalmente espontâneo
E ainda assim calculado
(Eder Kamitani)
|