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cronicas-->HIPOCONDRIA -- 30/07/2006 - 14:10 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Sétima crónica da série*)


7

HIPOCONDRIA


As prateleiras de Walgreens estão entulhadas de remédios e cosméticos. É o paraiso da automedicação. Basta ler as bulas ou as indicações impressas nas embalagens quando os nomes à vista não são suficientes para indicar suas propriedades.

O setor de vitaminas é o mais próspero. Às centenas. Do A ao Z, para todas as funções e regenerações, quando não vêm combinações caprichosas de vitaminas que cobrem espectros amplíssimos de aplicações curativas ou reativas. Abracadabra. Vitaminas detêm a velhice, curam cegueira, regeneram tecidos e calibram campeões; excitam, reprimem depressões e fazem a prevenção contra gripes e estresses.

Existem também as fibras e outros produtos para o emagrecimento, para enrijecer os músculos e aumentar a potência, sem falar nos preservativos. Sexo deve ser a um tempo estimulado e regrado, conforme as situações.

Judith dirigiu-se ao setor geriátrico. Pílulas rejuvenescedoras, milagrosas, retardam a morte das células e contraem músculos esgarçados e flácidos; cremes e unguentos devolvem frescor à pele e revitalizam as funções respiratórias e circulatórias. Não se considera velha, nem pretende realçar vaidades, apenas manter-se em forma depois que abandonou os exercícios matinais.

Postei-me diante das aspirinas que estimulam a capacidade sanguínea e afastam os perigos dos enfartos. É o que dizem. Trouxe também relaxantes, anti¬ácidos e outras químicas suaves para ajudar a digestão e eliminar as gorduras excessivas.

Meu amigo Milton Nocetti entraria em estado de graça, de levitação plena, diante de tal farmacopéia. Sem falar nos chás para todos os usos e momentos, das essências naturais mais cosmopolitas e até extravagantes. Chás afrodisíacos, calmantes, místicos, medicinais. E uma vasta literatura sobre suas faculdades e rituais. Irresistíveis. Milagres da biodiversidade.

Nuvens de chumbo pairam ameaçadoras. Pesadas. Presságios espantosos. As aves recolhem-se aos seus esconderijos. Trovões tronitroantes abalam o horizonte. Explosões atordoam os pássaros e todos os seres viventes, estremecendo os alicerces do edifício. As vidraças estão ao ponto de estalarem. Chove sobre toda a ilha de Porto Rico. Uma chuva densa, imensa, instantànea. Milhares de sapos invisíveis saúdam a precipitação. Apenas uma chuva corriqueira, passageira.

Chuva de inundar caminhos, de encharcar corpos e derrubar árvores.
Na enxurrada vai o humo da terra. É tanta água a cair que a autopista, lá longe, vai ficando lenta até que os automóveis desaparecem na cortina de chuva. Escurece. A respiração junto à janela embaça o vidro e a visão. Agora é só o ruído aquático, delimitando as distàncias insondáveis.

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Próxima crónica da série: (8) AERÓBICA
Para ler toda a sequência inicie pela crónica (1) VÓO NOTURNO.

Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance, paulatinamente.Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud: "A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas".



Crónica do livro: Miranda, Antonio. Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.

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