Quando se trata de Israel
uma crónica de Francisco José Viegas
Quando se trata de Oriente Médio, ou seja, quando se trata de atacar Israel, a tarefa é facilitada em larga escala. Um contingente de moças idiotas e genericamente ignorantes, que assina matérias classificadas de "internacional" nas nossas televisões, não se tem cansado de falar na "agressão israelense" e apenas por pudor, acredito, não tem valorizado os "Heróis do Hezbollah". Infelizmente, nem a ignorància paga imposto nem o seu atrevimento costuma ser punido.
Isolado desde 1947, quando as Nações Unidas decidiram pela criação de dois estados na região (um israelita, outro árabe) Israel não enfrenta apenas a provocação deliberada ou pontual do Hamas e do Hezbollah. Essa provocação tem sido permanente e é ela a razão de não existir na região um Estado Palestino livre e democrático - não o quiseram, primeiro, os estados árabes da região que invadiram Israel mal a sua independência foi pronunciada. Não o quiseram, depois, os estados que tutelaram os atuais territórios da Faixa de Gaza e da Cisjordània. Não o quis, depois, todo o conjunto de organizações militares terroristas nascidas à sombra da OLP e da figura tutelar de Yasser Arafat, a quem cabem historicamente responsabilidades diretas na falência dessa tentativa de criar um Estado Palestino.
Quando se trata de Oriente Médio, ou seja, quando se trata de atacar Israel, a tarefa não está apenas facilitada - os caminhos abrem-se para o lugar-comum, como se vê pelas declarações, tiradas a papel-carbono, de Chirac e de Zapatero, esses dois superlativos gênios da política externa européia.
Não passou pelas suas cabeças, uma única vez, pedir responsabilidades ao Hezbollah e ao Hamas pelos motivos que levaram a esta reação de Israel. Para ambos é, pois, normal que um governo do Hamas possa alimentar uma facção militar independente, que atua em guerra permanente com Israel. É também normal que um estado da região, o Líbano, possa albergar campos militares do Hezbollah, abastecidos pela Síria e pelo Irã, e destinados a atacar um estado soberano - que, além do mais, é o único estado democrático da região. E é para eles normal que Síria e Irã, além de abastecerem duas organizações militares terroristas, se regozijem abertamente com o sequestro de soldados israelitas.
A preocupação destes diplomatas da recessão é, fundamentalmente, com a "reação de Israel". Em seu entender, a reação ideal de Israel seria o silêncio total. Israel deveria se conformar com o seu destino e permanecer como alvo de todo o terrorismo da região, pacientemente alimentado, aliás, pelos europeus que continuam a manifestar "ampla compreensão" pela atitude dos homens-bomba suicidas e pelos que disparam mísseis a partir de Gaza ou do Vale de Bekkah. Israel deveria, pura e simplesmente, acatar.
Evidentemente que nenhum desses cavalheiros pensou em pedir ao Hamas, partido vencedor nas eleições dos territórios, eventuais responsabilidades na escalada de violência na região. É para eles natural que o governo do Hamas não reconheça o estado de Israel e esteja a fomentar, com toda a clareza, as facções militares que continuam, naquele folclore infantil de danças e gritos pelas ruas de Gaza, pedindo a eliminação de Israel e a vinda de mísseis iranianos para "destruir o Estado Sionista". Esse folclore imbecil sim, talvez os devesse preocupar, pois ele é também pago com contribuições da União Europeia e do seu "politicamente correto".
Crónica publicada no Jornal de Notícias - Portugal
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