Usina de Letras
Usina de Letras
117 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62186 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50587)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->BLOWING IN THE WIND -- 01/08/2006 - 20:47 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Esta é a duodécima crónica da série*)


11
BLOWING IN THE WIND


Os terríveis furacões que periodicamente assolam a ilha de Porto Rico parecem explicar a ausência de telhados sobre os edifícios. (Garantem, porém, que se deve ao padrão norte-americano indevidamente transplantado ... ) Antes os furacões tinham nomes de santos e não eram menos devastadores. Aparecem entre junho e outubro mas são mais frequentes em agosto e setembro, ou seja, nesta época do ano. Continuam tão devastadores como sempre, apesar da solidez das edificações. Depois do vendaval, os caminhos ficam intransitáveis, cobertos de árvores arrancadas pelos ventos; os rios transbordam de seu leito e invadem e destroem casas e plantações.

Judith garante que o pior vem depois com a falta de luz, de água potável, de abastecimento e de transporte público. Desorganiza toda a vida da ilha.

Já vivi os horrores do terremoto de Caracas de 1968. Vi edifícios rachando e a terra tremendo. O barulho era terrível e os quadros caiam das paredes, enquanto a terra parecia fugir aos pés da gente. Dormi três noites ao relento e o sismo repetiu-se várias vezes, até desaparecer, deixando edifícios desmoronados, ruas esburacadas e o abastecimento de água em colapso.

Já vi revoluções na Bolívia, golpes de Estado no Brasil e na Argentina, já presenciei ataques guerrilheiros na Colómbia e até fui preso, em Caracas, numa invasão policial às residências estudantis. Só falta um ciclone, que espero jamais presenciar.

* * *

Ao entardecer, é ensurdecedor o piado de pássaros e o coaxar estridente de pererecas. Ouço sinfonias, jazz e merengues no rádio com o fundo musical, o som melodioso de centenas de minúsculos coquis, o animal¬ símbolo do País. Os mais patriotas afirmam que esses batráquios só cantam em Porto Rico. Transladados a outras latitudes ficam mudos. Exagero? O certo é que é impossível ignorá-los. Mas garantem que a gente se acostuma, ao ponto de deixar de percebê-los. Como eles atingem decibéis tão elevados, deve ser com a perda gradativa da audição. Pode ser. Conheço gente nos subúrbios do Rio de Janeiro que já não percebe a passagem dos trens elétricos; já visitei uma amiga no bairro de Jabaquara, nos arredores do aeroporto de Congonhas, São Paulo, antes da construção do de Cumbica, que não alterava mais a voz à passagem dos aviões a jato, mesmo quando estes estremeciam as janelas: ela já falava alto o tempo todo; e há quem afirme que os desafortunados moradores de apartamentos às margens dos monstruosos elevados do Rio Comprido (RJ) e do Minhocão (SP), não perdem mais o sono ... Difícil mesmo será viver no conjunto residencial em cima do túnel da Gávea, da autopista para a Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro ...

Cheguei a morar à beira de uma autopista em Caracas mas tive que mudar-me do quarto alugado, depois de três noites sem dormir. Quase enlouqueci. Os donos da casa, uns espanhóis espalhafatosos, não entenderam as razões de minhas reclamações. Eles só falavam gritando, o rádio a todo volume e a televisão se ouvia a um quarteirão de distància.

E eu reclamando do ruído do coqui, um inofensivo devorador de mosqui¬tos ...

---------------------------------------------


Próxima crónica da série: (12) OLD SAN JUAN
Para ler toda a sequência inicie pela crónica (1) VÓO NOTURNO, na seção de cronicas de Antonio Miranda, na Usina de Letras.

Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance,
paulatinamente.Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud: "A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas".



Crónica do livro: Miranda, Antonio. Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui