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cronicas-->PRAZER COMO ROTINA -- 02/08/2006 - 19:08 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Esta é a 15ª. crónica da série*. São cronicas independentes não obstante formem um sequência...)



15
PRAZER COMO ROTINA


Again. Judith anunciou sua chegada com a buzina fanha de seu carro japonês. "We re going to the same beach, again." Usava um chapéu panamá que havia comprado numa loja em Old San Juan, na semana passada, e uma sacola velha que devia carregar consigo desde o tempo dos hippies. Alegre, quase juvenil.

Ela garante que a praia é diferente todas as semanas. - You may not believe, pero es siempre different.

Realmente: o mar estava tranquilo, sem vento e a água ainda mais morna do que sete dias atrás. O sol, abrasante.

Logo chegou Margareth, sua amiga editora. Margareth Melcher, responsável pela , uma dos mais extraordinárias tentativas de controle bibliográfico da região. Uma mulher de personalidade muito forte, embora seja suave e gentil o tempo todo. Mora num daqueles sobrados coloniais da parte antiga da capital, cercada de livros e de outros objetos preciosos. Da varanda interna de sua casa é possível apreciar os jardins da Casa Blanca, a residência dos antigos governadores.

Margareth chega sempre em torno das 9:30 horas, toma um longo banho de sol seguido de mergulhos, caminha pela praia e logo vai embora cuidar dos seus muitos afazeres de executiva. Uma presença breve mas marcante. Tenta convencer Judith da conveniência de um passeio à praia de Luquillo, talvez a mais bela de toda a ilha.

Aviões partem e chegam à direita, no firmamento quase sem nuvens.

Pouca gente em Ocean Park.

Judith reconhece que o maió que usa é um modelo dos anos 50, quando Esther Williams reinava nas piscinas de Hollywood. Com bustilhos e babados.

Dentro d água ainda sinto os músculos estendidos, doloridos, dos exercícios de ginástica. Vicente garante que os exercícios não apenas acrescentam mais anos à vida como acrescentam mais qualidade de vida aos nossos anos ... Jogo de palavras, questão de fé, estilo de vida.
Suor e o sal. De óculos escuros, para resistir à luminosidade dos trópicos. Puerto Rico: la Isla del Encanto.

Bom mesmo foram os croissants que comemos no Village Bake Shop.

É o único lugar por estas bandas em que é possível encontrar todas a sofisticação e a délikatessen de uma rotisserie francesa. Tortas e ba¬guettes, bolos e biscoitos amanteigados.

Próximo dali, em El Condado, acontece a feira de artesanato e antiguidades ao som de mariachis. Não há muito o que ver. Livros ordinários,
figurinhas de beisebolistas, roupas velhas no lugar de antigas. Alguns pratos e adornos orientais. Judith comprou uma enorme radiola dos anos 70. Um horror. Enferrujada, o plástico retorcido, faltando botões e a tampa de acrílico rachada, sem caixas de som. Inglesa, marca Sears. Custou cinco dólares. No feminismo avesso dela, coube a mim carregar a geringonça o resto do tempo.

O Edifício Puerto Rico é uma jóia da arquitetura antilhana dos anos 40 ou 50. Três andares, escadas externas, varandas e balcões por todos os lados da esquina. Infelizmente, quase em ruínas. Grades de ferro carcomidas, madeiras apodrecidas, rebocos descascando. Judith mora no último andar e as cadelas de sua cria esperam-na detrás do portão de ferro. Miúdas, festivas, fedorentas.

Há uma imensa árvore grudada ao edifício, tão alta quanto este, os ramos entram pelas sacadas e as raízes levantaram o cimento dos caminhos. Há sempre brisa, luz, relaxamento.

Uma simples pintura nas paredes, uma demão de tinta nas portas da geladeira, a eliminação de caixas, vasilhames e outros objetos inservíveis ajudariam a criar um ambiente mais agradável e confortável, mas ela não sente necessidade de reformas ou melhoras. Colocamos, sobre um baú antigo, a radiola. Ela acredita que fez uma boa aquisição, que vai poder ouvir os discos de música barroca que jazem em caixas há duas ou mais décadas.

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Próxima crónica da série: (16) REFLEXÃO PARALELA [DISCOS DE VINIL]

Para ler toda a sequência inicie pela crónica (1) VÓO NOTURNO, na seção de cronicas de Antonio Miranda, na Usina de Letras.

Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance,
paulatinamente. Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud: "A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas".



Crónica do livro: Miranda, Antonio. Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.
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