Usina de Letras
Usina de Letras
136 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62181 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50584)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140792)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->SAUDADE -- 03/08/2006 - 23:00 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

(RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Esta é a 19ª. crónica da série*. São cronicas independentes não obstante formem um sequência...)


19
SAUDADE
"Oh que saudades que eu tenho / da aurora da minha vida / da minha infància querida / que os anos não trazem mais". Ainda bem, meu caro Casemiro de Abreu! Viagens retrospectivas só acontecem em nossa imaginação, e nos álbuns de velhas fotografias e de cartões-postais. Por falar em cartão-postal, o nosso patriotíssimo Bilac ficou revoltado quando viu os postais à venda no porto de Salvador, Bahia. Negros, casebres e muita velharia. Protestou.

"É essa a imagem que vendem do nosso Brasil aos europeus?" (lógico, o mundo civilizado se reduzia à Europa, onde se falava predominantemente o francês). Mas a Bahia fica muito longe e eu estava falando de saudades da infància e da terra natal. Ao olhar-se para todos os lados no Caribe vê-se as palmeiras do Gonçalves Dias. Ou ele estaria falando de babaçu, açaí e bacaba? Sei lá, o certo é que "as aves que aqui gorgeiam, não gorgeiam como lá". Quem sabe? E que dizer das aves migratórias, que cruzam nosso continente, sem necessitar de visto e de passaporte? Gorgeiam lá como aqui, só que o poeta maranhense queria expressar a saudade de sua terra, não é assim? "As aves que aqui... "

Mas eu estava falando de cartões-postais. Os daqui [Porto Rico] são iguais aos de lá: só mostram o que os turistas setentrionais querem ver: praias, frutas tropicais, relíquias coloniais e umas poucas exoticidades. Inclusive negros, para contrariar o Bilac. Exoticidade? Tucano é exótico? índio é exótico? Tanto é que estão querendo preservá-los em reservas, como se fosse em zoológicos.

Lógico, sem grades e sem fossos, e sem safaris. Não sei se Bilac estaria de acordo. Felizmente existem as ONGs para defender tudo isso, não é mesmo? Eu estava onde, falando do que? Ah, das migrações. Pois é, brasileiro deixou de ser gregário e lançou-se ao mundo. Aos milhares. Distantes da terra, são mais patriotas do que os que ficaram no Brasil. Menos pessimistas. Dormem sonhando com palmeiras e gorgeios. E aguardam cartões-postais. De praias, de tucanos, de negros. Para o imigrante, o Brasil é uma paisagem petrificada, parada no tempo. Reloj, no marques las horas. Ao regressar, um dia, quem sabe, quer encontrar intacto tudo que deixou pra trás. Como Doña Consuelo, que saiu de Cuba. "Cuando salí de Cuba, dejé mi sueño y mi corazón".

Drummond, você tinha razão: Itabira é apenas um retrato na parede. E como dói! Governador Valadares também é um quadro na parede. Talvez apenas um tucano, uma palmeira, um negro.


------------------------------------------------------------
Próxima crónica da série: (20) NEGRITUDE

Para ler toda a sequência inicie pela crónica (1) VÓO NOTURNO, na seção de cronicas de Antonio Miranda, na Usina de Letras.

Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance,
paulatinamente. Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud: "A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas".



Crónica do livro: Miranda, Antonio. Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui