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cronicas-->VOLVER A LOS DIECISIETE -- 04/08/2006 - 17:28 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

(RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Esta é a 22ª. crónica da série*. São cronicas independentes não obstante formem um sequência...)


22

VOLVER A LOS DIECISIETE



Relógio, devolva-me aquele belo rapaz que escrevia poesia concreta e saía nas passeatas, esguio como um quixote, e fugidio dos valores de seu tempo. Ele vivia no futuro. Era belo e apaixonado pela vida, mas acreditava que a literatura era mais importante do que a própria vida.

Relógio, devolva-me aquele belo rapaz que lia seus versos nos porões da Biblioteca Nacional e que foi-se embora do Brasil em busca de outra pátria - a Venezuela. Era belo e sabia que o seu mundo era de muitas pátrias, de muitas gentes e muitas esperanças, e vivia seu próprio futuro.

Quero-o diante de mim. Quero que ele me reconheça e me revele o seu segredo. Perdeu-se de mim, sem dar-me a chave de sua sabedoria. Ando buscando-o pelos caminhos andados, relendo seus pensamentos, mas já sou outro. Quero beijá-lo e liberar-me dele, para buscar meu próprio futuro.
Vim buscá-lo em Porto Rico. Aqui esteve, quando eu tinha 31 anos.

Quiseram impedir a viagem, problemas consulares. Aqui apresentavam a sua obra Tu país está feliz. Levaram-no do aeroporto ao teatro e chegou a tempo para subir ao palco, depois da função. Aturdido pelos aplausos e enfeitiçado pelas próprias palavras proclamou a independência de Porto Rico. Puerto Rico es latinoamerica! Seguiu-se uma ovação mas depois ele foi tragado pelo furacão.

Hoje está diante de si mesmo, frente ao espelho, com um relógio na mão. Podia ser uma bomba, mas é apenas um poema. É a hora de seu reencontro, como Narciso, debruçado sobre a fonte. Liberto, sem remorsos. Estamos no ano de 1993. Há 500 anos que Porto Rico foi descoberto e desde então é uma colónia; o Brasil é independente mas não sabe cultivar a liberdade. Outros jovens continuam deixando a sua terra, numa diáspora dilacerante. Paus-de-arara das galáxias. Reconheço-me neles, nordestinos de todas as partes do Brasil, alargando as fronteiras de sua existência. Pátria maior. Pátria amada, idolatrada.



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Próxima crónica da série: ( 23 ) PICASSO: "YO NO BUSCO, YO ENCUENTRO".

Para ler toda a sequência inicie pela crónica (1) VÓO NOTURNO, na seção de cronicas de Antonio Miranda, na Usina de Letras.

Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance, paulatinamente. Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud: "A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas".

Crónica do livro: Miranda, Antonio. Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.
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