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Artigos-->Esquecimento unilateral -- 13/01/2003 - 15:23 (Don Pixote de la Pança) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
"Esquecimento unilateral



Jarbas Passarinho (*)



Quando o presidente João Figueiredo enviou ao Congresso a mensagem da anistia, mais ampla que o substitutivo assinado por Ulysses Guimarães e as lideranças do MDB, fê-lo na suposição de promover a reconciliação nacional. A premissa era o esquecimento recíproco, e não o perdão, que pressupunha arrependimento e isso não pedia aos comunistas derrotados na luta armada nem aos contestadores punidos pela legislação de exceção. O tempo provou que vencidos e punidos jamais aceitaram o pacto de esquecimento. Dizem impossível esquecer a tortura, mas se esquecem da brutalidade terrorista não menos desumana. Seu comportamento de vencidos é o dos vencedores arrogantes. Fazem lembrar uma das poucas vezes que a Inglaterra venceu a França. Seus emissários na mesa do armistício fizeram tantas e inusitadas exigências, que o Abade Polignac, embaixador francês, lhes disse: Bem se vê, senhores, que não tendes o hábito de vencer . Possivelmente Tancredo Neves, se as Parcas não o levassem, houvesse moderado a sede de retaliações e consolidado a reconciliação dos brasileiros. O segmento tucano da esquerda, que alcançou o poder pelas urnas, com o apoio dos partidos vinculados ao regime autoritário (PFL, PPB, PTB) não o fez.



Um novo horizonte se delineia com a vitória de Lula. Ele não foi eleito pelo seu partido, que perdeu fragorosamente as eleições, inclusive na vitrine petista , o Rio Grande do Sul. Recebeu quase três vezes mais votos que a soma dos petistas derrotados nos Estados. A burguesia, mesmo a do grande capital, aderiu a ele. A classe média articulou-se a seu favor com o lumpemproletariado menosprezado por Marx e Engels, no Manifesto de 1848. Os tempos mudaram. Acompanharam a Terra em suas rotineiras e incessantes rotações e translações. A União Soviética desmoronou. O anticomunismo e o antifascismo foram vitais para abater os Estados totalitários. O meu anticomunismo nunca ultrapassou - a exemplo do de Raymond Aron - algumas proposições banais incontestáveis, se a ideologia não tivesse a singular capacidade de perturbar o cérebro . Assim como me pareceu decisivo para abortar, em 1964, o iminente golpe janguista apoiado por Prestes (leia-se o insuspeito Jacob Gorender), levou-me a sacrificar os escrúpulos da consciência democrática e mergulhar no AI- 5, quatro anos depois. Eu sou eu e as minhas circunstâncias , disse Ortega Y Gasset.



Sem a Guerra Fria , à esquerda e à direita restam - e não apenas no Brasil - estilos de vindicações diferentes, mas a substância do afrontamento esmaeceu ou desapareceu. O presidente elegeu-se afastando-se da retórica revolucionária das três tentativas anteriores. Por outro lado, os vencedores da luta armada esqueceram os nossos mortos ceifados pelas guerrilhas e pelo terrorismo, ainda que os vencidos não esqueçam os seus. Não há reciprocidade. Hoje, aos generais de 1964, chefes da contra-revolução de 31 de Março, sucedem os do século 21, modelares na conduta disciplinada em relação ao Poder Civil. Até um deputado do PC do B (quem diria?) mereceu dos generais a preferência para ministro da Defesa, ao qual se submeteriam tranqüilamente. Nenhum preconceito pois, mesmo com os stalinistas. E muito menos com os socialistas neo-utópicos, para quem a abolição da propriedade deixou de ser a essência do marxismo. Golpe de Estado é peça de museu da história. Na reunião de certa fundação, vinculada à Escola Superior de Guerra e presidida por um ex-ministro do Exército, Lula teve a demonstração visível de preferência, dentre os candidatos à sucessão de Fernando Henrique Cardoso. A ideologia da direita - disse-o Simone de Beauvoir - é o medo. Mas este cedeu à esperança. E ninguém quer ser rotulado de direita. Assim como em 64 o forte era dizer-se anticomunista, sem apoio na biografia, agora voltam os heróis retroativos, que combateram a ditadura igualmente sem respaldo na biografia. Na Presidência, é certo Lula não seguir o figurino de 1968, o da luta armada, mas o de 2003, em que mesmo Fidel é cultuado mais pela saga iniciada em Sierra Maestra do que pela ilha onde um dominante partido único eliminou as liberdades fundamentais faz quatro décadas. Essa é a diferença, mas que diferença!



PS: Um jornalista atacou-me neste jornal, atribuindo-me porém atos e fatos que nunca pratiquei. Sempre assumi a responsabilidade do que fiz, não, contudo, do que me imputa a animosidade fértil em aleivosias. Por que, em vez de insurgir-se contra o jornalista Mário Sérgio Conti, autor do retrato de Elio Gaspari, que citei pondo em dúvida, prefere alvejar-me soezmente, falseando minha atuação quando ministro da Educação? Até cassados testemunharam publicamente o contrário, como - entre outros - os ex-presidentes Juscelino e Jânio Quadros. E de meu comportamento político, colhi o apreço de muita gente da esquerda, mesmo de ex-guerrilheiros. No mais, sigo a receita de Churchill. Atacado, ele se fazia três perguntas, para decidir se merecia resposta: Quem o disse? Em que estado de ânimo? E, finalmente, o que disse? . Se o crítico não lhe merecesse senão desprezo, não prosseguia nas perguntas. Eu, no caso do meu agressor, não passo do quem ."



(*) Jarbas Passarinho foi ministro de Estado e é escritor.



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