O brasileiro João da Silva desapareceu no domingo ante às vistas de sua esposa, Maria da Silva. O desaparecimento ocorreu na estação de trem da cidade de Rio dos Véus no momento em que a composição com destino à modernidade descarregou seus passageiros.
“João se juntou à massa e nunca mais o vi”, dizia Maria duas semanas depois numa entrevista ao Olho de Lince. João era operário numa fábrica de motores que ficava na área periférica. Seu salário sustentava sua esposa e dois filhos e era o suficiente para o custeio de suas viagens rumo a sua introspecção.
João trabalhava quatro horas por dia, estudava outras quatro no curso de antropologia de Rio dos Véus e dedicava o restante do tempo para família, com passeios ao parque da cidade e ao Museu Central. Seu padrão de vida era equivalente aos demais cidadãos, nem por isso deixava de reconhecer sua alteridade. João era a individualidade.
João da Silva vive hoje com Maria da Silva, trabalha oito horas por dia, ganha metade do que ganhava de seu salário, deixou o curso de antropologia por questões financeiras e não leva mais os filhos para o parque ou museu por falta de tempo. O parque deu lugar a um shopping center e o Museu, um dia, expôs a utopia de João e Maria.