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cronicas-->Eu sou mais Veneza ou Olaria -- 08/08/2006 - 17:17 (Domingos Sávio Fernandes de Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EU SOU MAIS VENEZA OU OLARIA

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As tardes juazeirenses ficavam mais festivas aos domingos em razão da partida final de futebol que sempre se constituía do clássico local, Veneza versus Olaria.
O nosso campeonato amador daquela época tinha mais vibração, futebol, arte e alegria que os campeonatos dos dias atuais, sem nenhum demérito ao Juazeiro Social Clube, digno participante do campeonato baiano de futebol.

Não há dúvidas de que o juazeirense sempre foi um apaixonado pelo futebol. Lembro-me que naquele passado longínquo quando não dispúnhamos da imagem de televisão, ouvíamos através do rádio e comemorávamos, como se lá estivéssemos, as finais dos clássicos cariocas de flamengo,botafogo,fluminense,vasco.

Cá, deleitávamos com o brilho de nossos heróis que correspondendo às nossas expectativas jogavam o futebol com amor, carinho e dedicação. Tínhamos um campeonato local caloroso, festivo e apaixonante. Durante toda a semana Herbet Mouze, com sua voz inconfundível, aguçava-nos a ansiedade e paixão pelo embate Veneza e Olaria. Ficávamos eufóricos ao ouvir a narração do espetáculo e o estádio enchia-se em todas as finais.

Antes da peleja, ficava na travessa da rua Benjamin Constant acompanhando toda aquela agitação dos torcedores descendo a avenida empunhando suas bandeiras e gritando loucamente o nome de seus clubes.

Vezes sem conta eu subia ao telhado de minha casa, beneficiado pela proximidade do Adauto Moraes, portando um binóculo, acompanhava os lances da partida. Olhava em volta e via outras pessoas também nos telhados de suas casas. Era a maneira que tínhamos de ver o futebol sem pagarmos a entrada. Quando faltavam dez minutos para o encerramento da partida ao se abrir os portões do estádio, saia em disparada para acompanhar os últimos minutos da peleja. Era usuário habitual da "hora dos miseráveis" como se chamava tal concessão

Ás vezes ficava trepado no muro do estádio ou acompanhando a disputa por qualquer um dos inúmeros buracos feitos por nós no paredão do estádio, mas, a todo momento, os policiais em ronda constante em torno do Adauto Moraes durante a partida, não deixavam a garotada em paz.

Gustavinho era um anão juazeirense, cabeça enorme, pernas e braços curtíssimos que trabalhava no antigo "Bazar Royal". Aos domingos de decisão, Gustavinho descia a avenida, olhos vermelhos, hálito de bebida alcoólica devido a inúmeras doses, passava aos berros gritando alucinadamente pelo time de seu coração:

-Olariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Envolto nas bandeiras, no meio da charanga da torcida:

-Olariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Logo mais, descia a torcida feminina do Veneza gritando:

-Veneeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeza!

-Veneeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeza!

Ao final do clássico, se vencedor, voltava Gustavinho, novamente aos berros, irradiando alegria pelo seu clube:

-Olariiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa!

Os gritos enlouquecidos de Veneeezaaaaaaaaa! Olariaaaaaaaaaa! Revelavam a força e disposição dos times. Era apenas a final de um campeonato amador, mas o calor da torcida contagiava a todos. Os jogadores não faziam por menos. Esforçavam-se nos treinamentos. Empenhavam-se nos exercícios e colocavam o coração nas chuteiras.

Aquele campo de futebol de terra batida era o cenário para a emocionante batalha futebolística.

Fico saudoso a imaginar quanta virtuosidade, brio e paixão. Aguerridos jogadores amadores sem salários e sem recompensa financeira. Abnegados contendores dispostos apenas a fazerem felizes seus torcedores;

Atletas como Costinha, Dozinho, Zé Odorico, Dino, Feijão, Celso, Geraldo, Vevé, Dão, Panchito, Bio, Mundoca, Zé Bispo, Zequinha, faziam a beleza do espetáculo ao defenderem com bairrismo a sua terra natal nas disputas do campeonato Bahia-Pernambuco (BAPE).

Como mensurar o prazer e satisfação dos torcedores e dos jogadores campeões?

Que invejável sentimento de amor ao berço!

Vi há poucos dias, circunspeto, triste e sem graça, jogadores da seleção brasileira proporcionarem um humilhante espetáculo de desprezo e falta de amor à Pátria. Mais uma vez fomos surpreendidos e traídos pela falta de patriotismo e garra, atributos necessários para os vencedores. Colocamos o coração nas mesas fartas de bebidas...Na camisa verde-amarela...Nas bandeirolas e símbolos...No asfalto das ruas... Nos carros, mas não conseguimos contagiar os nossos representantes da copa do mundo. Infelizmente eles não colocaram o coração na ponta das chuteiras.

Por isso digo sem medo de errar. Se pudéssemos voltar o tempo e a CBF escolhesse nossos atletas para disputarem essa copa do mundo, duvido que os jogadores juazeirenses não trouxessem o caneco do hexa para o Brasil. Sem estrelas e sem celebridades, saberiam honrar a camisa verde e amarela.

Eu sou mais Veneza ou Olaria!
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