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Cronicas-->A pedra da superioridade -- 09/08/2006 - 08:23 (Domingos Sávio Fernandes de Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A pedra da superioridade

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Naquela pedra enorme sempre fiquei, alheio ao resto do mundo, a meditar sobre os mistérios da vida. Não sei dizer quando foi a primeira vez que busquei aquele local para isso, nem tampouco se alguém a utilizava de igual forma. Sei, no entanto, que sentado naquela pedra, isolado de todos na escuridão da noite, contei inúmeras vezes as estrelas no céu, simples luzes cintilantes ao longe. Ao mesmo tempo tentava adivinhar de que ponto provinha a luminosidade citadina divisada na terra.

Deliciava-me, também, acertar o que acontecia no mesmo instante naquele ponto luminoso e o que ocorria no exato momento no centro da cidade, nos bares. Que faziam meus familiares, meus amigos, meus colegas de escola naquele instante? Na maioria das vezes, quando de regresso à realidade e buscava o caminho de casa, percebia pelo silêncio das ruas que já passava da meia noite.

Nesse dia, quando lá estava havia bastante tempo, ouvi soar o ruído de um avião que trilhava o firmamento confundindo-se entre as estrelas. Tentei distingui-lo no infinito e acompanhei o ponto resplandecente movimentando-se no céu escuro sempre o mesmo, sem nuvens e de milhões de astros. Deliciei-me ao imaginar quantas pessoas estariam no interior daquela aeronave. Para onde iriam? Estariam a viajar fazendo turismo ou a negócios? Sabiam onde sobrevoavam? Sorri vitorioso ao conseguir vislumbrar o seu interior.

Agora, eu já não era mais um minúsculo ser humano lá embaixo invisível pela escuridão e sim um grande ser. Meus olhos gigantes e curiosos, colados à janela do pequeno avião, devassavam sua intimidade e sem muito esforço elevei o braço e segurei aquele pequeno aparelho que parou sob a pressão do meu punho. Naquele instante ele estava cativo da minha curiosidade. Percebi o quão eu era grande e forte.

No interior daquela aeronave centenas de pessoas, alheias aos meus pensamentos, estavam de mim prisioneiros. Não o fazia por maldade, pois eles continuavam a sua viagem e somente eu sabia que a havia interrompido e que todos eram tão pequenos e indefesos. Olhei cada lugar do avião, desde a cabina do piloto ao compartimento de bagagens. Até mesmo o comandante considerado homem adiantava acelerar, pois naquele momento o aviãozinho estava inapelavelmente seguro.

Somente após saciar-me da curiosidade e lhes sentir tão inferiores, liberei-os para prosseguirem viagem. E lá se foi o ponto luzidio, livre de minhas garras, sumir na escuridão confundindo-se entre as estrelas, buscando fugir rapidamente das presas do grandioso e desconhecido algoz.

De volta para casa, absorto com a nova experiência, sentindo-me forte, grande e destemido, irritei-me quando aquele motorista imbecil acionou com estardalhaço a buzina do carro e velozmente passou ao meu lado, quase me atropelando.

Por certo, ele também estava em sua pedra da superioridade e eu não passava mais que um pequeno ser insignificante, inofensivo e refém dos pensamentos alheios.

Calado, amedrontado diante de minha pequenez, cheguei em casa e fui direto para a cama dormir assustado com a idéia de que não passava de um ser comum, indefeso e incapaz de evitar até mesmo que os outros também tenham a sua pedra de contemplação e momentos de superioridade.


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