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Contos-->Corredor Press -- 26/04/2001 - 16:04 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A história se espalhara pelos quatro cantos do escritório. Roberval tinha sido flagrado pelo segurança noturno no maior dos amassos com a Flora, quarentona enxuta da Contabilidade. O rosto dela não era assim Arosiano, mas a moça tinha um par de pernas de tirar a concentração de qualquer vivente. Invariavelmente usava saias acima do joelho e mini-blusas que deixavam os boys boquiabertos, formando filas homéricas no banheiro. Tinha fama de despudorada, embora mantivesse no ambiente de trabalho uma distância estratégica da manada mais afoita. Contudo, não resistia a dar uma olhadela para trás quando passava pelo corredor do café. No fundo sabia que pelo menos 3 dos 4 abelhas a olhariam depois que passasse por eles. E a danada bem que acertava... Há muito arrastava as asas para o Roberval. Em seu último aniversário, foi a primeira a cumprimentá-lo, entrelaçando o pescoço do pobre coitado em seus braços curtos. Sussurrou algo incompreensível ao seu ouvido e beijou-lhe docemente o rosto barbudo. Saiu de mansinho exibindo seu mais novo modelito: um vestidinho preto com um decote em V que mostrava quase a metade dos seios robustos. Foi o suficiente para aguçar os mais calorosos debates sobre fidelidade. Flora era solteira, mas namorava um rapaz mais jovem há muitos anos. Roberval tinha saído de um casamento de mais de dez anos e ainda não encontrara companhia para dividir o cobertor. Estava armado o circo para os comentários maldosos. Quando Rob – era assim que gostava de ser chamado – apontou no corredor, com um sorriso largo estampado no rosto, o pessoal do Financeiro se alvoroçou e acompanhou sorrateiramente o desfile do colega. Todos sabiam que o Gerente Geral já pedira que, assim que chegasse, fosse direto para sua sala.

- Sujeito de sorte o Rob, não? Traçou a boazuda aqui mesmo, sem Ter que gastar com motel.
- É, mas você já reparou na pinta que ela tem no queixo?
- Só que agora o Roberval vai direto para o olho da rua. Quem será que vai ficar no seu lugar?

A bolsa de apostas de Londres pareceu uma instituição amadora neste momento. A maioria estava convicta de que o Beto seria o novo encarregado de cobrança. Afinal, era sobrinho de um dos mais antigos funcionários da empresa e se tratava de um puxa-saco profissional. As divergências e palpites começaram a aflorar ao se tentar imaginar como ficaria o resto da hierarquia. No fundo, as opiniões só convergiam quando o assunto eram os extremos da pirâmide. No topo, Roberval iria para a fila do seguro-desemprego; na base, Rodriguinho passaria de Boy para Auxiliar Administrativo. Cargos intermediários proporcionavam o ápice da discussão.

- Aposto que a Suzana vai para o lugar do Beto. Os dois sempre almoçam juntos e vivem trocando olhares suspeitos...
- Duvido! É mais fácil o chefão chamar alguém de fora do que promover a Suzana. Lembra do fora que ela deu no panaca na festa de Natal?
- Se não for ela, então quem vai ser? O Carlinhos?
- Só pode ser! Ele é esforçado e faz faculdade a noite...
- Até parece que esforço rende algum dividendo nessa firma. Lembra do Horácio? Tabalhava até as tantas da noite sem receber hora extra e foi jogado pra escanteio no corte de maio. E o Aroldo, então? Só faltava servir café. E na hora em que pensou que fosse subir, promoveram o Paulão em seu lugar...

Os minutos iam se passando e nada de o Rob sair da sala. Ouvia-se por todo o andar um zum-zum-zum velado só interrompido quando os encarregados olhavam feio para os comentaristas. Da copa vieram mais alguns detalhes da noite de amor do casal enamorado. Parece que, no começo, o Rob resistiu à investida da Flora. Dizem que foi vista no toillete tirando o sutiã poucos minutos antes de encerrar o expediente. Esperou o pessoal ir embora e foi em direção à mesa do galã cinqüentão. Sob o pretexto de lhe mostrar um relatório, debruçou sobre sua mesa e deixou os seios fartos à mostra. Rob disfarçou até onde pôde e alegou que estava sem tempo de analisá-lo naquela noite. Flora então se postou ao seu lado e descansou sua mão suave no ombro do lobo solitário, fazendo movimentos leves para frente e para trás. Você precisa relaxar! – disse. Quer que eu faça uma massagem? A testemunha jura de pés juntos que a maldita foi, aos poucos, abrindo cada um dos botões da camisa azul do Roberval, até ele se entregar plenamente aos seus braços e se levantar da cadeira. Dizem que chegou até a rasgar a saia da moça, tamanha era sua aflição para consumar o ato. Não teriam percebido a presença sorrateira do vigilante, acostumado a patrulhar o escritório meia hora mais tarde, mas que não se sabe porque, naquela noite fatídica, resolvera apagar as luzes e desligar os micros mais cedo.

Beto era só alegria. Chegou a rascunhar num bloco fino o novo salário e a fazer alguns planos com ele. Talvez comprasse um celular pré-pago ou então algumas camisas novas. Aguardava ansiosamente sua entrada triunfal na sala do chefe e os compromissos de responsabilidade e dedicação para com o novo cargo. Sairia do recinto com uma expressão serena, reuniria o pessoal da Cobrança e comunicaria sua promoção. Já mentalizava o discurso: pediria a colaboração de todos e prometeria recompensá-los com esforços por melhores salários e condições de trabalho. Depois ligaria para a noiva e a convidaria para um chopinho no Arouche. Somente lá lhe contaria sobre o seu triunfo e suas perspectivas de ascensão profissional. Ao perceber a movimentação no corredor, voltou rapidamente à realidade e levantou-se de mansinho. O coração começou a palpitar mais forte e um frio na barriga lhe trouxe um incômodo. Serviu-se com dois goles largos de água e ajeitou o aro dos óculos pretos. Percebeu o Rob saindo da sala sorridente, caminhando para sua mesa.

- Dona Etelvina! Onde está meu café? – perguntou o Roberval.

Dona Tetê ficou atônita por instantes até o Rob se acomodar em sua cadeira giratória e voltar seu olhar para ela. Como é, vai demorar muito? – resmungou.

Naquele momento Cadu, do DP, pegou o telefone e discou rapidamente. Enquanto aguardava o pronunciamento do outro lado da linha, vagou seu olhar para os prédios emporcalhados do outro lado da janela. Parecia afoito. Alô? O Juarez, por favor!

Rivaldo, o vigilante, foi despedido. Foi pego pelo Roberval fazendo sexo oral com a Maria de Fátima, da limpeza. Parece que a moça era ninfomaníaca. Como a história se inverteu não se sabe até hoje. Mas que a Flora dispensou o sutiã naquela noite – garantem as boas línguas – dispensou sim.


P.s.: parte integrante do livro "A Comédia da Vida S/A"
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