Hora de almoço. Banco repleto de pessoas... E apenas um atendente.
_ Eles deveriam colocar mais caixas_ argumentava uma das pessoas que estavam na fila.
_ É. Ou cadeiras e sistema de senhas, como o dos correios_ Assim esperávamos sentados_ endossava a outra.
_ Isto é um absurdo! Estas intermináveis filas de banco deveriam acabar... Reclamava uma mocinha de aproximadamente, dezessete anos.
_ Depois ainda passa na TV, que deveremos esperar no máximo quinze minutos para sermos atendidos... Dizem que é lei._ disse um rapaz, um pouco atrás de uma senhora, já de idade.
_ E a senhora, o que faz nesta fila? Vá lá pra frente, velhos e grávidas têm prioridade de atendimento, sabia?_ comentou a tal jovem.
Com a voz suave, a velha senhora respondeu:
_ Calma, minha filha! Não se incomode comigo. Eu estou bem.Não tenho pressa. Posso esperar...
_ Ah, não, a gente reclamando o tempo todo desta maldita fila e a senhora, com esta idade, aí, na santa paz!... Como é que pode?!
A velha sorriu, sem proferir uma só palavra.
_ Eu no lugar dela, me mandava, rapidinho!_ argumentou o rapaz.
De repente...
_ Chiií, estamos fritos! Olha só a quantidade de velhos que entraram na nossa frente!... _ comentou outro rapaz da fila.
_ Eles têm o direito_ lembrou a mocinha.
_ É. Mas com isto, quem vai permanecer na fila por mais tempo, seremos nós!_ replicou o rapaz.
_ Eu sei_ respondeu a mocinha, flexionando a voz, em tom de desànimo.
A tal senhora, aposentada, sorriu novamente, sem dizer nada. Mantinha um semblante sereno, parecia deleitar-se com os comentários tecidos pelos mais jovens.
Atendidos todos os velhinhos...
_ E a senhora, por que não vai agora?!_ Não está doida pra se livrar desta fila?_ perguntou-lhe a mocinha.
_ Não, minha filha, eu estou feliz por estar aqui.... e por fazer parte desta fila!
_ Hã?!... Não entendi _disse a mocinha, perplexa.
_ Há filas piores nesta vida, minha filha. Graças a Deus que estamos nesta fila. Triste, é estar numa fila, no corredor de um hospital, tentando entrar numa UTI ou numa fila de transplante de órgãos!...
_Veja, como somos felizes, minha filha: Eu vim pagar a luz e uma mensalidade da Internet. O computador tem me distraído muito! Já não me sinto tão sozinha quanto antes... Tenho feito amizades até do outro lado do mundo! Como vocês dizem; _ É o maior barato! E você, lindinha, o que faz aqui?
_ Eu vim pagar a prestação do meu curso de inglês. É... a senhora tem razão, Ã s vezes reclamamos demais da vida... Falta-nos clarividências para percebermos o quanto somos felizes...
_ Eu sei, mocinha, mas, só o tempo nos traz clarividências_ só o tempo!...
Minutos mais tarde, chegara a vez da mocinha. Ela olhou para trás, esticou o braço, dizendo:
_Senhora, por gentileza... Cedeu a vez pra velhinha.
Ela, por sua vez, sorriu novamente, e comentou.
_ Muito obrigada, minha filha!... Que Deus lhe abençõe por isto. Muito obrigada!
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