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cronicas-->LA GUAGUA AEREA -- 14/08/2006 - 12:31 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
(RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Esta é a 29ª. crónica da série*. São cronicas independentes não obstante formem um sequência...)



29
LA GUAGUA AEREA
[O ÓNIBUS AÉREO]



A solução está mais adiante. Existem caminhos de ir, não existem caminhos de chegar. O caminho dos porto-riquenhos leva a Nova lorque. Vão de avião mas psicologicamente continuam no ónibus, na guagua aérea. Não se sabe se chegam a lugar algum. A dúvida do autor do roteiro do filme La Guaga Aerea, baseada nos contos de Luis Rafael Sanchez. Apenas uma questão de movimento, não de mudança. Via ponte aérea, o problema é que muda de lugar. Ele viajariam com suas debilidades, sua ineficiência, sua falta de objetividade, na esperança de que lá fora, no novo regime, serem submetidos a um novo processo de produção e de acumulação de riquezas. Há quem duvide. Outro personagem afirma que eles vão ficar metidos no pàntano das atividades secundárias, da mão de obra barata, sujeitos à exploração capitalista e à discriminação.

Era assim no início da década de 60, continua assim na década de 90.

Cidadania de segunda classe, embora os mais otimistas falem agora da emigração também de técnicos e profissionais - o brain drain. Não exportamos apenas pobres. Mas as elites já sabiam o caminho norte, abrindo passo aos profissionais. Outra vez América Latina no porta-retratos. Os porto-riquenhos podem ver-nos em fotografia ou em movimento, de corpo inteiro. Mambembes fugindo do circo, por falta de pão.

Brasil é a terra do futuro, já dizia Stephan Zweig. América Latina é o porvir. Hoje somos uma legião de povos em translação, em mutação, em movimento, atraídos pelo ímã do norte ou em estado de ebulição constante.
América Latina é também a terra da promissão, da esperança. Amanhã será. Hoje estamos muitos ocupados, pensando no amanhã.

Intelectuais, líderes sindicais e políticos acreditam no amanhã mas não acreditam no presente. O amanhã é que é, está mais adiante, onde tudo é melhor, onde tudo pode, onde vai ter, onde vai estar e poderá ser, sem medo de ser feliz.

As esquerdas estão sempre entrincheiradas na oposição. É mais fácil unir-se nas críticas do que em torno de soluções. Apelam sempre para a razão, em nome do ideal e da utopia; as direitas falam aos sentimentos populares por via do pragmatismo e dos preconceitos. Pode crer. As elites conservadoras sempre preferiram perder os anéis a perderem os dedos; os esquerdistas sempre preferiram perder a cabeça. Ou tudo ou nada!

Preferimos o discurso à ação. Em movimento, nunca em ação. Nossos governos sempre são repudiados e contestados por todos. A esperança está sempre no próximo governo. Estranha visão de futuro! Só há verdades e soluções na oposição. Si hay gobierno soy contra. [Eu não sou exceção. Por que haveria de?]
Para não falar na tese do quanto-pior-melhor. Melhor é mais adiante.

Pior é mais embaixo. A situação só tem defeitos, a oposição só tem razões, razões que a própria razão desconhece ... Estranho maniqueísmo, fruto de nossa cultura católica e apostólica!

Seria uma situação igual a essa que teria levado Lênin a queixar-se da doença infantil do esquerdismo?

Pior é que as idéias deles os unem e as nossas idéias nos dividem ...

Estranha dicotomia! E, como resultado, adiamos os nossos sonhos e projetos. O melhor está mais adiante.

Se o Estado está contra nós, a Nação que somos busca uma saída. Até agora a melhor saída continua sendo o aeroporto. La guagua aerea. Varar as fronteiras, por terra ou à deriva nas águas do Caribe!

A gente vive na América Latina mas consome no Primeiro Mundo. Mais adiante. Lá é que é. Aqui não é, não dá pé. O barco está afundando. Dos porões dos regimes saem presos políticos e empresários corruptos. E os miseráveis, que já são a maioria.

Antes éramos o quintal em que se plantando tudo dava. Plantavam banana e levavam ouro. Até que começou a diáspora definitiva. Hordas puseram-se em movimento, na direção norte. Chicanos e porto-riquenhos, centro-americanos e todos os demais. É a lei de Malthus.

Os Estados Unidos e a Europa, como Midas do colonialismo, transformaram a miséria alheia em fonte de riquezas. Nós acumulamos problemas e continuamos inventando novos!

Parece que foi Fidel Castro, o eterno comandante, que começou a deportar o lúmpem, depois de expulsar as elites. Doentes, pederastas, dissidentes. Não há lugar para a oposição em nosso continente. Milhões vão tentar o mesmo caminho, enquanto houver por lá uma ilusão e aqui medrar a desesperança.

Os ianques tinham medo de que a sua população negra crescesse e demandasse direitos civis e oportunidades. Foi o que aconteceu. Agora, brancos e negros norte-americanos estão apavorados com a chegada das marabuntas latinas. E inventaram uma nova raça - a latina. Brancos, negros e mulatos, oriundos do triste sul, agora são latinos. Devorando seus empregos, suas oportunidades.

Á noite tive um pesadelo. Acordei no meio da noite com o pavor estampado no rosto. No rosto dos norte-americanos, não no meu. Mr. Rodriguez foi eleito Presidente dos Estados Unidos da América. Os Smiths começaram a emigrar para o sul, no dia do Thanksgiving Day, buscando uma terra nova.


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Próxima crónica da série: (30) CAP DE MAR [PRAIA DO CARIBE]

Para ler toda a sequência inicie pela crónica (1) VÓO NOTURNO, na seção de cronicas de Antonio Miranda, na Usina de Letras.

Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance,
paulatinamente. Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud: "A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas". ,/I>

Crónica do livro: Miranda, Antonio. Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.
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