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cronicas-->À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS -- 15/08/2006 - 19:42 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

(RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Esta é a 31ª. crónica da série*. São cronicas independentes não obstante formem um sequência...)



31
À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS


Judith deu sinais de tolerància e aceitou a idéia de ficar dez minutos a mais na praia. Dez minutos! Fez isso como um ato de generosidade ... Eu havia recusado ir à praia com Vicente para poder acompanhá-Ia. (Vicente sai às seis da manhã para uma corrida à beira mar e regressa logo.)

Acompanhá-Ia é a palavra certa: a gente vai com ela, mas ela não vai com a gente. Isso envolve a indulgente Natasha, que estava meio enjoada e circunspecta naquela manhã. Judith delatou-a e constrangeu-a:

- Natasha está com o problema da regra ...

Crueldade? Não: torpeza, como dizem os porto-riquenhos. Achou natu¬ral dizê-Io ou, quem sabe, fez a delação para justificar o atraso de uns minutos causado - como sempre - pela bela Natasha. A jovem reagiu como latina, sentiu-se violentada em sua intimidade. Mas apenas baixou os olhos.

Eu queria secar o calção de banho. O sol estava tímido em Ocean Park, por detrás das nuvens e só aparecia a intervalos imprevisíveis. E cumpriu¬-se o percurso de sempre, sob o controle do cronómetro: lanche na confeitaria Kasalta e compras no supermercado Grande. Foi quando Judith desesperou-se, caiu em estado de impaciência: na fila do caixa e na saida do estacionamento. Ela entra e sai pela mesma entrada. Tentando retroceder na contramão encontrou carros entrando, o que é no mínimo natural e previsível... Mas ela atribuiu o problema ao atraso de dez minutos na programação! Descontrolou-se, disse palavrões em inglês e quase chocou o carro contra um dos postes.

- Calma com o andor -Não se irrite à toa.
Mas Judith estava possessa, furiosa com um carro parado atrás, impedindo-a de retroceder.

Já a caminho de casa desabafei, com certa cautela:

- Você precisa ser mais paciente. Não resolve o problema assim, só consegue agravá-lo. E o que é pior: consegue irritar os outros também.

Ela olhava com cara de espanto mas com uma assumida consciência de que era isso mesmo e de que nada faria para mudar.

- Você vai acabar sozinha e com úlcera! - arrematei.

Natasha lançou um olhar de cumplicidade, como se eu estivesse falando por procuração.

Mas Judith é assim. Passa do estado de doçura ao de irritação em questão de segundos. E dá patadas no ar. Vocifera em inglês, com acento sulista, franzindo e torcendo os lábios. Dei-me por vencido, ou até arrependido pois o meu comentário em nada contribuía para mudar sua natureza, mas certamente deixou-a angustiada e culpada. Felizmente, por pouco tempo. Ela sempre dá a volta por cima e segue em frente. No dia seguinte, trouxe-me um poema que acabara de escrever.


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Próxima crónica da série: (32) NOVA IORQUE, NOVA IORQUE


Para ler toda a sequência inicie pela crónica (1) VÓO NOTURNO, na seção de cronicas de Antonio Miranda, na Usina de Letras.

Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance,
paulatinamente. Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud:"A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas".

Crónica do livro: Miranda, Antonio. Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.


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