A chave não entrava, tentou novamente.
O buraco da fechadura rodava, rodava, balançava, escapulia.
O suor escorria-lhe pelo rosto. Ou eram gotas de chuva?
Fez uma pausa, sentou na calçada, conferiu as chaves. Todas ali, não havia dúvidas.
Talvez a porta estivesse emperrada, ou, quem sabe, trocaram a fechadura. Não em tão pouco tempo de ausência.
Afinal, quando partira: um mês, um ano? Ou fora na noite anterior?
Lembrava-se apenas daquele bar, daquela mulher, aquela briga, as grades da cadeia, o sol a bater-lhe no rosto, o balde de água fria que lhe jogaram.
Andara muito para chegar até ali...
Tentou novamente, nada.
Encostou-se na porta para que parasse de balançar. De repente ela se abriu e ele se estatelou no chão.
O olhar doce, firme e triste daquela mulher lhe devolveu meia lucidez.
Apalpando as partes doloridas do tombo, mas sem conseguir conter a dor das pancadas da vida, olhou-a com olhos esgaseados, abriu os lábios num esgar quase sorriso e do chão balbuciou:
- Esta porcaria de pora está bêbada, mãe...
Graa Andreatta
Em 03-12-2000 |