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Artigos-->A FOME NO MUNDO -- 16/01/2003 - 07:56 (José de Jesus Sousa Lemos) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A FOME NO MUNDO

José Lemos*



A Manchete do Jornal Los Angeles Times, de Los Angeles, Califórnia (USA), do Dia da Ação de Graças do ano de 1994 era a seguinte: Mais de 30 Milhões de Americanos Estão com Fome no Dia de Hoje. O Dia da Ação de Graças, que é celebrado na última quinta feira do mês de setembro, juntamente com o Natal e o Dia da Independência dos Estados Unidos (4 de julho) constituem-se nos maiores feriados americanos. Neste dia, um dos pontos altos das comemorações é a reunião de familiares e amigos em torno de fartas mesas, onde há de tudo, tanto em termos de alimentação como de bebidas. Esta passagem serve para ilustrar que a fome e a sua irmã gêmea siamesa a pobreza, se constituem talvez nos maiores flagelos da humanidade e da sociedade dita moderna. A fome espraia-se entre economias ditas desenvolvidas e dissemina-se de forma assustadora nas economias subdesenvolvidas ou periféricas.

Vale ressaltar que a fome e a pobreza são invenções do homem. Não há um determinismo, de qualquer ordem, de que muitas pessoas precisam ser pobres, excluídas e famintas, para que alguns poucos tenham padrões de riqueza e de alimentação faustosos e perdulários. Uma das grandes causas da fome e da pobreza, é a necessidade de acumulação de riquezas e a busca incessante do lucro nas economias, onde o mercado é o senhor intocável e que tudo pode.

Por mais paradoxal que pareça, a fome e a pobreza podem se transformar em importantes instrumentos de acumulação de riquezas. Isto mesmo, existe um mercado, e bastante lucrativo, da fome e da pobreza. Como funciona este mercado? A produção agrícola tem duas vertentes importantes na sua definição. A montante do processo produtivo encontra-se uma rede constituída de alguns poucos fornecedores dos chamados insumos, que mantém uma estrutura fechada e organizada, que em economia chamamos de oligopólio. Esses poucos comerciantes, em geral prósperos, trabalham na manipulação dos preços desses insumos na forma que lhes é conveniente. Na outra ponta estão os compradores (ou o comprador) dos excedentes dos agricultores. Esses senhores, por sua vez, estipulam preços, em geral aviltantes ao produto agrícola, considerando que a produção é sazonal, perecível, e que o agricultor estará vulnerável, justamente por não ter mecanismos de defesa, haja vista que por ocasião da venda dos seus excedentes, existirá uma quantidade bastante grande de produtores em igual situação, de modo que a oferta do produto tende a suplantar em muito a capacidade da demanda. Ai, o ente abstrato, chamado mercado, agirá sempre em detrimento do agricultor, que será tanto mais fragilizado, quanto mais isoladamente estiver ao executar transações com os agentes das duas pontas.

Além disso, forjar escassez de alimentos para elevar os seus preços para cima, se constitui em prática usual de quem atua de forma especulativa neste mercado, sempre ele. Em áreas de pobreza, tanto de economias centrais como periféricas, uma característica marcante é a escassez de renda. Desta forma essas pessoas forjadas na vala da pobreza alocam toda a sua renda na compra de alimentos. O encarecimento desses itens, terá implicações fantásticas de privação, de um item essencial à função vital.

Algumas estatísticas oficias e publicadas pelo Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU de 1998, mostram que nos EUA, o contingente da população, sobrevivendo abaixo da linha de pobreza, e portanto potenciais famintos, é da ordem de 19,1%. Na Inglaterra, parceira dos EUA nas aventuras beligerantes da atualidade, o percentual da população, nesta condição de ser pobre e potencial faminto, é de 13,5%.

Por outro lado, existe uma conexão indestrutível e biunivica entre degradação dos recursos naturais, pobreza e fome. Estima-se que algo como 500 milhões de pobres e famintos das economias subdesenvolvidas do planeta, sobrevivem em terras marginais, entendidas como terras ingremes, encostas de morros, em degradação, passíveis de inundação ou de seca, e sem estrutura de produção e de escoamento. Estima-se ainda, que algo como 32,2% da população pobre que sobrevive nas economias subdesenvolvidas, o fazem com uma renda inferior a um dólar americano por dia.

Nos países do Terceiro mundo existem situações absolutamente dramáticas, como são os casos de Guiné Bissau, para onde estima-se um contingente de potenciais famintos da ordem de 87,0% da população. Outros países africanos, asiáticos e latinoamericanos apresentam percentuais absolutamente vergonhosos de famintos. Para o Brasil estima-se algo como 34,4% da sua população como potencialmente faminta, e o Nordeste é a região que mais abriga, proporcionalmente, este contingente de socialmente excluídos.

_________

*José Lemos é Professor da Universidade Federal do Ceará. Ex-Professor Visitante da Universidade da Califórnia USA, entre maio de 1994 e outubro de 1995. Autor do trabalho Mapa da Fome no Mundo, em fase de elaboração.

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