Tive um amigo que viajou.
Há mais de ano está fora.
Nem sei se morreu ou não,
mas morreu de qualquer jeito,
da mesma forma que eu,
o eu que vivia em mim há um ano.
Já tive amigo assim antes.
Quando volta é a volta de outra pessoa,
um possível novo amigo
para o novo eu.
Guardo um baú de poemas
como se fosse um mealheiro de barro.
Para tirar as moedas,
só mesmo quebrando a louça.
É assim o baú:
fica cheio de poesias,
mas um dia arrumo tudo
com violência.
Jogo fora duas dezenas,
deixo outras,
e me entristeço:
nenhuma delas foi feita por mim,
o eu do momento.
No entanto,
saíram da minha alma-carne...
Amigos e poemas
são criações perdidas pelo criador,
renovadas em cada reencontro.
Será esta a sensação de Deus
perante a humanidade?
(Renato Riella –1969)
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