O ÉDIPO REI DE TUPINAMBICA DAS LINHAS
Fernando Zocca
Elas jamais serão vencidas
As Bibas Unidas, lá em Tupinambica das Linhas, em certa ocasião, resolveram encenar Édipo Rei.
Vivíamos o final dos anos 60 e alguns adolescentes, ainda inseguros com relação às suas preferências sexuais, foram cooptados pelas BU, que sob o comando do Gay Maior, proporcionariam aquele espetáculo superior ao povo Tupinambiquence.
Os ensaios realizavam-se no salão nobre da UNIMERD, Universidade Medieva da Região Deambulatória. O público era recebido e acomodava-se nas cadeiras comuns de palhinha, ali postadas, de forma bastante improvisada.
A insegurança dos moços, ao adentrarem o palco, era logo substituída pela certeza de que, com calma, desempenhariam bem seus papeis.
Alguns mocinhos levavam os textos para casa, com o intuito de decorá-los. Outros participavam dos serões prazerosos, na casa da Biba Mestra, que morava a poucas quadras do salão nobre.
Os jornais Tupinambiquences noticiavam o fato com alguns meses de antecedência.
Os colunistas sociais, nas notas significativas, informavam ao público socialite sobre a ocorrência. Aquilo era inédito para os padrões da urbe, sob desenvolvimento irrefreável.
A Biba Mestra, magérrima e debaixo da suspeita de portar o vírus do HIV, estava passando por momentos terríveis na sua carreira gloriosa.
Sua memória já não a ajudava muito com as falas e orientação. A infeliz confundia correio com correia e feedback com filho de beque.
Para quem se considerava, com relação ao teatro, alguém mais por dentro do que azeitona de empada, a situação estava vazia e periclitante.
Ninguém jamais acreditaria, que por estar muito preocupada e com a cabeça bem quente, seu travesseiro se incendiaria, numa manhã de ensaio geral. Mas foi isso mesmo o que ocorreu. Ela soubera que seus alunos, projetos de atores, fumavam maconha nos intervalos dos ensaios.
Esse fato porém não a impediu de prosseguir com as aulas, depois de uma admoestação bastante ruidosa.
Nem mesmo a presença da dupla sertaneja Casa-Grande & Senzala, conseguiu ofuscar a expectativa e entusiasmo, provocados na população, pela encenação do Édipo Rei.
E não adiantou espalhar entre os populares que a dupla era "a mais melhor de boa e, campeã mundial do mundo, nos agudos e dó sustenido." O povo queria ver o Édipo Rei!
A vovó Bim Latem e o Édipo Rei
Naquele tempo a vovó Bim Latem (rainha-mãe da seita maligna do pavão-louco) era ainda solteira, mas já aprontava misérias com as informações pessoais obtidas em função do seu cargo autárquico federal, que o nepotismo lhe concedeu.
Quem poderia imaginar que trinta e seis anos após, na prefeitura de Tupinambica das Linhas, ela teria à sua disposição informações referentes a mais de quatro mil pessoas?
O final da história
Ninguém sabe se foi praga ou o quê. Mas tempos depois um dos garotos que participou das encenações, ali na rua Boa Vida, foi visto vagando pelas estradas vicinais da cidade.
Diziam que ele peregrinava também sem rumo, igual a um mendigo, pelas ruas da urbe, sempre em companhia de sua filha.
Leia O RELÓGIO, O MAPA, A VOSSA CAIXA, A MEIA-LUA e O AUXÍLIO ESPIRITUAL.
Em breve: A PANÇA DA SEVERINA.
|
