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cronicas-->FOGOS DE ARTIFíCIO -- 25/08/2006 - 10:42 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


(RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Esta é a 36ª. crónica da série*. São cronicas independentes não obstante formem um sequência...)



36
FOGOS DE ARTIFíCIO


Lamentei muito que minha querida amiga Leila não estivesse conosco no concerto ao ar livre, em frente ao Castillo de El Morro. Ela teria, com certeza, adorado o programa e a apresentação.

(Quando de minha despedida do Brasil fui a São Paulo para encontrar-me com ela e com Diva Andrade, de quem somos inseparáveis, apesar da enorme distància entre Brasília e a Paulicéia. Fomos a um concerto da Orquestra Sinfónica Brasileira nos gramados do Parque Ibirapuera, sob a firme direção de Isaac Karabitchevski. Caminhamos pelas alamedas, conversamos com economia de palavras para colocarmos em dia todos os nossos assuntos comuns. Já estava quase frio e os nossos tênis venciam passos com um suave impulso, em uníssono.)

Leila, àquela hora antilhana, já estaria chegando a Miami, quase por milagre, ao conseguir furar uma greve da American Airlines. Fui ao con¬certo com Gloria e Sonia. Havia muita gente naquele início de noite festiva. Celebravam-se os quinhentos anos e um dia do descobrimento da ilha. As muralhas estavam, como sempre, iluminadas e um palco fora erguido sobre o gramado para a Orquestra Sinfónica de Porto Rico.

Noite fresca, com nuvens ralas e uma lua crescente timidamente aparecendo, por instantes, no firmamento. Deitado na calçada, olhava o céu de uma geografia mais vasta que a da ilha. Sobrevoava, ao lado de Leila, ao largo da costa de Cuba até descer no mega-aeroporto de Florida. Eu deveria estar viajando com ela. Minhas amigas Sofia Vivo e Trina Quiñones e o meu editor Victor Alegria estavam lá esperando-me. íamos lançar a nossa antologia Caminhos de Integração na feira internacional do livro de Miami, mas falhei ao encontro. Teria sido impossível embarcar. A American Airlines tem quase o monopólio dos transportes aéreos com o continente e havia muita gente desesperada nas filas por causa dos cancelamentos de vóos.

Devia ter tentado, ter insistido e viajado com ela. Mas estava ali, arrependido, buscando estrelas no céu carregado de nuvens. A orquestra seguia com muita competência um programa leve e oportuno que incluía Wagner, Verdi, Berlioz e o sempre recorrente e pungente Tchaikovsky. Nada mais adequado para um final grandioso do que a sua Ouverture 1812, op. 49, com excertos da Marseillese, um coro de duzentas vozes, salva de canhões e uma precipitação luminosa e resplandescente de fogos de artifício. Seguida de uma ovação patriótica.

Acabamos no Café Berlin, degustando uma torta de chocolate com chá e leite, como manda o figurino. Gloria sorria como de costume, com uma simpatia sem medida. Sonia, não menos simpática mas bem mais introvertida, exaltava a beleza do espetáculo, em que mais brilhara o cenário colonial da imensa fortaleza enquanto, como um detalhe quase sem importància mas carregado de muito significado para mim, deslizava ao fundo um imenso e iluminado navio de passageiros em direção ao horizonte marinho e ao sonho eterno dos viajantes.


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Próxima crónica da série: (37) PÃO COM FORMIGAS


Para ler toda a sequência inicie pela crónica (1) VÓO NOTURNO, na seção de cronicas de Antonio Miranda, na Usina de Letras.

Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance,
paulatinamente. Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud: "A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas".

Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.
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