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cronicas-->SIM PORQUE SIM -- 26/08/2006 - 15:07 (ANTONIO MIRANDA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

RELÓGIO NÃO MARQUE AS HORAS, de Antonio Miranda. Esta é a 41ª. crónica da série*. São cronicas independentes não obstante formem uma sequência, na intenção de uma crónica de viagem contínua...)


41
SIM PORQUE SIM


Os isleños estão enlouquecidos desde a festa de Halloween, possuídos pelo clima natalino. Logo chegou o Thanksgiving Day, com as comidas pomposas, com peru e outras iguarias, em que uma tradição estadunidense, arraigada há quase um século, acabou adquirindo cor local. É um Natal antecipado, só que celebrado na hora do almoço.

Há bruxas e anjos levitando sobre o céu do Caribe, anunciando os três reis magos que vêm sempre do Norte!

Logo começou a romaria aos supermercados - há mais shoppings do que igrejas nos arredores de San Juan - com os congestionamentos nas ruas, avenidas e autopistas. E as praias ficaram, de repente, vazias. Dizem que é por causa do "inverno", perceptível apenas por causa de chuvas mais, frequentes e uma brisa mais suave que apenas acaricia os termómetros. Talvez a água do mar fique um pouco mais fresca e as ondas um tanto mais fortes, quem sabe?!

As mulheres vestem-se ainda mais formalmente, reforçam a maquiagem - que já é sempre bem acentuada - e os homens continuam com roupas esportivas, talvez um pouco mais caras e elegantes. E a estranha combinação do traje de gala das mulheres com o vestuário light dos homens, versão local da prática norte-americana de usar - numa situação inversa e paradoxal - o smoking com tênis. Nem formal, nem informal para um povo que cultiva um certo formalismo mas não abre mão de um relaxamento tropical, combinando a rede de descansar na varanda com o aparelho de ar condicionado. Ou algo como adotar o estilo hamburguer de caviar.

E haja festa de congraçamento, coquetel de lançamento e despedidas de ano! Em toda parte celebram festinhas entre os colegas de escola, do trabalho e entre vizinhos de rua. Um espírito comunitário e gregário próprio de quem vive numa ilha e todos, de uma ou outra forma, fazem parte de uma mesma família, embora vivam reclamando da desagregação social e da criminalidade. As despedidas do ano começam em novembro porque as agendas das pessoas não encontram espaço para tantos compromissos ...

O Natal é com árvore de pinus verdadeira, com um cheiro do verde e uma grinalda de lampadinhas cintilantes que começa dentro de casa, passa pelas sacadas dos edifícios e continua pelas árvores do jardim e das ruas ...

Como um furacão tardio mas devastador, fora de estação, passaram pela ilha os megashows de Madonna e Michael Jackson, dois símbolos da música pop. Madonna conseguiu escandalizar boa parte dos porto-riquenhos, povo um tanto provinciano -quem afirma é o cáustico ensaista José Luis González, o polêmico autor de El Pais de Cuatro Pisos -, e supostamente também moralista. E recatado. Na Ilha não há lugar para a pornografia explícita e muitas convenções sociais - do tipo festa de debutantes, eleição de miss e cerimónias de noivado - ainda têm a graça e o charme dos anos 60. Pois não é que a Madonna passou - conforme a polida e bem comportada imprensa local - a bandeira nacional borícua pelas "partes baixas" ou, em linguagem mais óbvia e solerte, por el culo. Às vésperas do plebiscito! Deu lugar a uma polêmica e à indignação por toda parte. Madonna atingiu o seu objetivo. Mas houve quem fizesse uma leitura menos patrioteira do incidente, ao compreender que o sexo é a parte mais apreciada e exaltada pela musa do rock e o gesto de esfregá-la com o pavilhão pátria valeria como uma associação com o prazer e admiração. Mais racionalmente, haveria que perguntar-se qual a diferença entre passar a bandeira entre as pernas ou carregá-la debaixo do sovaco ... Talvez a diferença esteja na visão puritana de que sexo é coisa feia e vergonhosa. Sim, porque sim.


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Próxima crónica da série: (42) CASAMENTO EM NAGUABO



Para ler toda a sequência inicie pela crónica (1) VÓO NOTURNO, na seção de cronicas de Antonio Miranda, na Usina de Letras.

Iremos publicando as cronicas que vão constituir uma espécie de romance,
paulatinamente. Semana a semana... o livro impresso já está esgotado...

Sobre a obra e o autor escreveu José Santiago Naud: "A agudeza do observador, riqueza do informe, sopro lírico e sentido apurado do humor armam-no com a matéria e o jeito essenciais do ofício. É capaz de apreender com ternura ou sarcasmo o giro dos acontecimentos e deslizes do humano. Tem estilo, bom senso e bom gosto, poder de síntese e análise assim transmitindo o que vê e o que sente, nos transportes do fato ao relato, para preencher com arte o vazio que um vulgar observador encontraria entre palavras e coisas".

Crónica do livro: Miranda, Antonio.Relógio, não marque as horas: crónica de uma estada em Porto Rico. Brasília: Asefe, 1996. 115 p.
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