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Contos-->A lagartixa do meu prédio -- 02/05/2010 - 21:55 (Antonio J. C. Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


1. Como virei curioso

Com muita dor eu e minha mulher nos separamos. Nossa convivência estava ficando insuportável, logo que descobrimos que não podíamos ter filhos. Isso, apesar de nosso aconchego bem bom, quando estávamos calados frente a frente, de mãos dadas e quando nos abraçávamos na cama para dormir. Era a rispidez das palavras que foi nos irritando. Por isso decidimos nos afastar temporariamente a ver se podíamos superar o problema e talvez voltar a nos juntar.
Fui morar em um apartamento de um prédio que minha empresa tinha construído. No começo tive que ficar sem sair de casa, pois tinha quebrado uma perna em um acidente de motocicleta. Trabalhava ali mesmo, convocando os empregados para conversar e usando a internet para fazer conferências e distribuir as tarefas. Esse novo regime de trabalho deu-me uma flexibilidade de horário que nunca tinha antes experimentado.
Agarrei então o costume de passar bons intervalos de tempo no terraço do meu apartamento, no terceiro andar, a bisbilhotar o jardim e a piscina do meu prédio, através de uma luneta bem poderosa. Transformei-me assim de repente num fanático observador da vida alheia, mania que considerava um absurdo e que jamais pensara tê-la algum dia.

A piscina era ensolarada, cercada por um piso de pedra de Pirenópolis, no meio de um quintal grande, gramado, onde havia árvores e arbustos floridos. Nela iam algumas crianças com suas empregadas, mães, tias e avós. E, o que era para mim mais chamativo, nela todos os dias haviam mulheres desacompanhadas banhando-se e repousando em cadeiras e espreguiçadeiras, com involuntária lassidão. Podia ver tudo bem de perto e com muito detalhe: o gramado, as árvores as flores, as crianças, as empregadas, as mães, as tias as avós e também aquelas atraentes banhistas, todas gozando tranquilamente do sol e do ar fresco. Via rostos, gestos e risos. Mergulhava na contemplação de rugas, cabelinhos e pedaços proibidos dos corpos das mulheres de toda idade. Via assim sinais denunciadores do passar dos anos e as mensagens sensuais das imagens descuidadas que eu invadia. Tornou-se para mim um espetáculo agradabilíssimo com um sabor que nunca antes tinha experimentado. E bisbilhotando aqueles detalhes pensava em coisas inconvenientes, mas também curtia bons sentimentos e novos conhecimentos. Tinha muita pena de não saber ler os lábios para entender nitidamente o que as mulheres falavam, ainda que, em algumas vezes, pude intuir o que diziam interpretando risos e expressões corporais. E nisso, gozava e aprendia muito, tudo sem o menor perigo de ser flagrado na minha varanda indiscreta.

2. A misteriosa obsessão

Na grama, entre uma moita de plantas floridas e o piso que rodeava a piscina, havia uma pedra, um pequeno rochedo, remanescente do terreno onde fora construído o prédio. Em cima dele aparecia freqüentemente uma bonita lagartixa que ficava durante horas seguidas a caçar insetos. Imaginava também que estivesse a contemplar as mulheres que se banhavam ou tomavam sol ao perceber que seu rosto apontava sempre na direção delas. Não sei por que cargas d’água, eu captava uma ligação, uma harmonia, entre aquela lagartixa e aquelas mulheres parcialmente desnudas. Quando algumas vezes mirava alternativamente, ora para a lagartixa ora para as mulheres de maiô, aumentava em mim a sensação da estreita relação entre os dois objetos de minha curiosidade.
Tentado explicar-me a razão daquela harmonia sentida, comecei a lembrar que a lagartixa para mim representa um símbolo, um ícone, um totem, como são outros animais para pessoas de muitas tribos, países, etnias e religiões. E não é só porque foi o primeiro animal que vi quando criança no quintal da casa dos meus pais. Também porque então me admirava com sua excepcional rapidez para escapar de cães, gatos e gente. E com a sua pose serena, atenta a seu trabalho e indiferente ao ambiente, quando estava à espera de suas presas. E como as engolia sem mostrar nenhum movimento nem contração no pescoço. A lagartixa ficava imóvel, solene, com os olhos mirando no vazio, sem ligar minimamente para quem estivesse a observá-la por perto, totalmente concentrada em papar as incautas moscas, muriçocas, mariposas, formigas, e todo outro ser de tamanho semelhante que estivesse ao alcance de sua rapidíssima língua.
Recordei também como apreciava sua capacidade insólita para andar e subir em qualquer tipo de superfície, inclusive as dos tetos. Enchia-me de curiosidade por conhecer os mistérios da natureza quando a via transitar sem problemas nas paredes mais lisas, até nos vidros verticais das janelas. Quando eu resvalava em um pedaço escorregadio do chão e caía machucando-me, logo da dor e do impropério me ocorria que se eu fosse uma lagartixa aquilo não me passaria. E ficava a pensar em como era possível a lagartixa andar agarrada nos tetos e andar fagueira até nas coisas mais lisas. Essa observação deixava-me intrigado e apaixonado.
Quando era criança, no quintal da casa de meus pais, passava horas a contemplar lagartixas, e a olhar de vez em quando o céu bem azul da minha terra, as nuvens baixas com suas formas imprevisíveis, cheias de curvas e requebros, movediças e desorganizadas, conduzidas rapidamente pelos alísios. O azul do céu e a lagartixa estavam ali parados, previsíveis, como uma segura referência para mim, enquanto as folhagens das árvores e as nuvens se moviam incessantemente. E à noite, no meu quarto, na penumbra da luz do abajur acesso, passava minutos e mais minutos a apreciar as lagartixas esbranquiçadas, quase translúcidas, a proteger-nos das incômodas muriçocas. Dormia embalado por aquela imagem das retas e cores do teto e das paredes e pela figura chamativa da lagartixa com sua segurança e beleza.
E sua aparência de pele áspera e enrugada, da cor marrom nas do quintal e esbranquiçadas nas do meu quarto, despertou em mim uma consciência crítica sobre os padrões estéticos que depois quiseram a mídia e as pessoas inculcar-me. Diziam-me que as cores verdes, amarelas, azuis e vermelhas com suas nuances, bem como as texturas suaves, lisas e brilhantes, eram os elementos constitutivos dos padrões estéticos. E eu pensava que igualmente toda a aparência da lagartixa era também de grande valor estético. E que feio era o pensamento de quem desprezasse ou se desgostasse com a geometria, a cor e a textura daquela sua aparência. Para mim sua figura me parecia bem agradável ao contrário do quase nojo ou medo que muita gente sentia por ela.


3. As bisbilhotices juvenis

Apesar de todas essas idéias de minha admiração pela lagartixa, sabia que elas não eram suficientes para explicar aquela associação agradável que eu fazia dela com aquelas mulheres da piscina. E ficava pendente a cabal explicação.
Um dia, no esforço para encontrar mais razões, lembrei-me de episódios que se haviam repetido algumas vezes no começo de minha juventude. Costumávamos, eu e uns amigos, a de vez em quando subir no telhado de um depósito no fundo do quintal, e espiar a vizinha de atrás quando ela estava no seu quarto de dormir, que ficava com porta e janelas voltadas para o muro da minha casa. Tínhamos que ficar quase nas pontas dos pés para mirá-la por cima do muro através das folhagens de uma árvore frondosa do quintal dela que jogava parte de sua copa para o terreno da minha casa. O perigo de sermos descobertos era quase nulo. Havia aquela folhagem através da qual podíamos espiá-la, as sombras que sobre nós jogava a copa da árvore e o brilho do céu poente por detrás fazendo um contraste ofuscante. Tudo perfeito para esconder nossa traquinada juvenil. Já sabíamos das horas e costumes daquela moça vizinha cuja beleza não era de se jogar fora. De tarde, ela chegava a seu quarto, fechava a porta que dava para a casa e mantinha abertas a porta e a janela que dava para nosso lado. Certamente supunha que por ali ninguém poderia vê-la. Então, despia-se lenta e completamente. E nós olhávamos embevecidos como ela sustinha com as mãos os peitos, levantando os biquinhos olhando-se no espelho. Como ficava de banda para sua imagem refletida, estufando os seios, empinando o bumbum e olhando-se por cima dos ombros. Fazia isso a se contemplar no espelho, virando-se lenta e placidamente, ora para um lado para o outro. Depois olhava para sua entre pernas e com as mãos acariciava os pelos negros luzidios e abria suas nobrezas para contemplar longamente seu vestíbulo. E se punha muitas vezes em posições de rumbeira, imitando fotos de artistas que estavam então de moda. Para mim, ela misturava lascívia, que então tinha eu também, com um processo inocente de amadurecimento, de reconhecimento de si mesma, de auto-afirmação como pessoa e como mulher.
Nesses momentos eu ficava quieto e muitíssimo ouriçado. Mas às vezes de soslaio uma lagartixa chamava minha a atenção à nossa esquerda, sobre a parte ensolarada do mesmo muro sobre o qual estava a observar aquela cena de nudez. A importância que dava a esse animal fazia-me não me incomodar com as interrupções de sua presença próxima. Ao contrário, a presença da lagartixa agregava prazer e uma pisca de pureza na contemplação da nudez daquela moça. A cena durava até quando a mãe a chamava para sair. Então ela se vestia e saia tranquilamente. A lembrança dessas cenas juvenis de curiosidade sacana e especulativa pareceu-me dar mais uma explicação para a íntima associação que eu sentia entre a lagartixa e as mulheres com seus sumaríssimos biquínis na piscina do prédio.



4. A vingança disfarçada

Uma mulher das que via chamava-me a atenção. Era discreta, exceto quando ralhava seu sobrinho por alguma real ou imaginária trela. Aí mostrava excesso de algum nervosismo então para mim inexplicável. Soube que ela criava aquela criança loura que tinha uns seis anos. A irmã e o cunhado que eram os pais do menino tinham morrido em um desastre de carro fazia um ano, e só restava ela, ainda solteira, para cuidá-lo. Rarissimamente ria e poucas vezes a via maquiada com esmero. Parecia ter alguma desilusão. Mas era um morenaço de cabelos negros muito bonitos. De rosto e de corpo não deixava nada a desejar em comparação com os de outras freqüentadoras bem mais jovens. Era discreta, quase escondia seus dotes. Levava o menino com vários brinquedos três vezes por semana para a piscina.

Certo dia, quando a lagartixa estava no rochedo, o menino louro avançou com uma vara na mão disposto a golpeá-la. Baixou a vara com violência, mas a lagartixa, esperta, já havia percebido a ameaça e tinha segundos antes corrido para a moita próxima de plantas floridas. Surpreendi-me com aquele gesto. A surpresa foi exagerada e junto com ela veio-me uma ira também incompreensivelmente forte. Fiquei com raiva do pivete. Não sabia por quê. Afinal a lagartixa soubera proteger-se e a criança estava seguindo um muito humano ímpeto lúdico. Mas a cena se repetiu mais uma vez, sempre com aquela minha reação íntima despropositada. Então, deixando-me dominar por esse sentimento subjacente, que conscientemente disfarçava com espírito de brincadeira, resolvi dar um susto naquele pivete. Comprei na feira de importados um dragão comandado por controle remoto. Em um dia da semana em que os dois iam à piscina, solicitei ao jardineiro, que o colocasse no rochedo assim que a tia e o sobrinho chegassem às espreguiçadeiras. De lá, depois de se distrair um pouco com seus brinquedos, o menino avistou algo que lhe parecia ser a lagartixa e voou com a vara na mão em sua direção. Quando estava a uns três metros acionei o controle remoto. O dragão lançou raios lasers pelos olhos, abriu a boca mostrando uns dentes terríveis, lançou umas chispas de fogo da garganta e urrou tetricamente. Apesar de pequena em tudo, aquela coisa tinha tudo de medonho. O menino estacou de repente, arregalou os olhos, deu um grito que assustou a todos na piscina, deu meia volta e disparou para o lado da tia, chorando de pavor aos gritos. A tia mal conseguia entender o que acontecia. Soube depois por uns vizinhos que o sobrinho exagerando dizia que um dragão queria comê-lo. Que estava naquela rocha a espreitá-lo. Que por pouco se salvara. Contaram-me também que a tia não acreditou, e disse ao lourinho que era isso no que dava em assistir a tantos programas violentos na TV. Ele ficou quietinho choramingando com seus brinquedos e a tia voltou a ler seu livro.
Na semana seguinte repetiu-se a cena. Aí a tia ficou olhando desconfiada com a cara de quem via algo estranho naquele rochedo e naquela moita próxima e se encaminhou para lá. Aí não deu tempo ao jardineiro para tirar aquele objeto do rochedo. E funcionou dentro de mim a mesma mistura de humor com perversidade. Quando a bela mulher chegou perto do rochedo voltei a acionar o dragão pelo controle remoto. Foi terrível. Não pensava que aquela mulher fosse tão vulnerável. Pensava que ela fosse agarrar aquele brinquedo e procurar o engraçadinho que estava a maldosamente assustar sua criancinha. Mas não. Ela mostrou uma grande vulnerabilidade ao aparente, ao desconhecido. Com reação neurastênica, repetiu o que o sobrinho tinha feito antes duas vezes. Só que com muito mais medo e escândalo. Foi um reboliço. Disparou para junto das demais mulheres, como buscando companhia protetora. Essas não entendiam nada. Algumas chegaram a pensar que aquilo era um surto de loucura. E que tal surto explicava o porquê ela era tão arredia a ponto de evitar explicitamente qualquer contacto com todas freqüentadoras da piscina. Mas a tia estava excitada, gritava e gritava. Dava para ouvir do meu terraço. Continuava afirmando que naquele rochedo e naquela moita havia manifestações diabólicas com alta periculosidade para todos. Que era necessário dar um jeito nisso. Depois foi se acalmando e pediu a algumas que acompanhassem a ela e ao pobre lourinho até o saguão do prédio, pois temia passar sozinha com seu sobrinho por perto daquele lugar maldito. Por sorte, desde o desembalo histérico da mulher o jardineiro tinha rapidamente tirado o dragão mecânico do rochedo e se esbaldava a gargalhar escondido no meio das árvores lá no fundo do quintal. E as acompanhantes ficaram mais espantadas ainda ao ver o lindo rochedo e a bela moita ensolarados sem nada de medonho como aquela mulher propalava com um tremendo nervosismo e muita energia.




5. Remorso e pesadelo

No começo, fiquei um pouco contente pelo acontecido. Era um merecido castigo para o menino e sua família. Uma vendeta, ainda que sem todas as características e conseqüências das verdadeiras vendetas. Logo em seguida veio-me um arrependimento muito exagerado. E não sabia a causa da ira, do sentimento de vingança e daquele arrependimento, tudo exagerado. E porque tudo isso estava misturado na minha cabeça. Evidentemente a explicação só podia estar em algum lugar bem escondido do meu inconsciente.
Naquele dia de noite, tive não sei se um sonho ou pesadelo. Via um menino de uns nove anos fazer um arco de um galho de uma árvore do quintal e depois uma flecha de uma lasca de uma taboa de pinho. Junto com essa cena via passar imagens dos filmes de Robin Wood e de um documentário dos índios caçando macacos. O menino gostava das flechadas nos macacos, mas tinha muita pena de vê-los morrer e muito nojo ao vê-los assados com aparência de bebê serem comidos pelos índios. Depois o menino exercitava o espírito lúdico humano atirando em vários alvos inertes: latas, caixa de papelão etc. Depois o menino entrou em casa e de noite viu uma lagartixa doméstica dessas esbranquiçadas, translúcidas a ponto de se vislumbrar seus interiores. Ela estava tranqüila, a se mover apenas o suficiente para caçar as muriçocas. Levado por espírito lúdico, o menino atirou uma flecha na bichinha e lhe cortou o rabo no seu começo no corpo, entre as patas traseiras. O rabo caiu no chão e se contorcia comovedoramente. O menino se assustou, deu-lhe uma imensa pena, chorou copiosamente de remorso. Aí eu, sujeito do sonho, ficava com uma raiva danada daquele menino, achando imperdoável aquela perversidade. Depois em cenas rápidas e sucessivas, complexas como em todos os sonhos, o menino se dava conta de que um novo rabo nascia e crescia e que a lagartixa não deixara de freqüentar as paredes de seu quarto. Aí o menino começava a misturar o remorso com um sentimento de desculpa e de consolo. Que afinal o dano não tinha sido tanto, que o poder e a bondade da lagartixa apagavam sua maldade, que ela era amiga e o perdoava. Pois não morrera como os macacos dos índios, nem na hora nem por sangramento depois. Aí a cena do sonho mudava para mostrar um retrato do menino com seu arco e flecha. Ao aproximar-me oniricamente vi que o menino da foto era nada mais nada menos do que eu mesmo. Ao acordar e rever aquelas cenas sonhadas, minha mente se iluminou. Lembrei-me que aquilo tinha acontecido comigo. Eu tinha ficado amigo das lagartixas e com uma ira de mim mesmo por ter praticado aquela agressão. O remorso só fazia sustentar esse sentimento de autocondenação e a me predispor contra atos semelhantes de quem quer que fosse o agressor. Então percebi que minha ira contra o menininho louro era a projeção de um ódio que tivera de mim mesmo com reflexos a permanecerem no meu inconsciente. E que essa ira reflexa era porque eu não tinha digerido essa parte de minhas reações mentais em seu devido momento. E, para surpresa minha, junto com aquela recordação, passava a digerir, a sepultar aquela ira que inconscientemente sentira por mim mesmo e projetara sobre aquela pobre criança loura. Então toda minha raiva contra aquele ser ainda irresponsável desapareceu. E comecei a planejar como poderia apagar o dano causado naquela tia e na criança. E nisso punha como condição para mim mesmo que não podia confessar a autoria do susto.


6. A sedução

Aconteceu que no dia seguinte tirei o gesso da perna e a tia do menino foi falar com o síndico. Ela queria que os condôminos fossem convocados para votar a eliminação daquela pedra e da moita próxima. O síndico, que na verdade era um funcionário meu, veio a me perguntar o que fazer. Mesmo sem saber de minha participação na cena descrita pela mulher, estava preocupado. Sabia que eu, proprietário de mais da metade dos apartamentos e da empresa que o construíra, não iria votar a favor do pedido absurdo. E que muito provavelmente os demais proprietários fariam o mesmo. E que isso criaria um clima muito ruim para a convivência dos moradores, gerando discussões, zombarias e constrangimentos para aquela moça tão séria.
Aliviei o pobre do síndico dizendo-lhe que não se incomodasse com a convocação, que ela tinha o direito pelo regimento de solicitar tal coisa e que eu daria um jeito para que as coisas não acontecessem da pior forma. Sugeri convocar a assembléia para o fim do mês seguinte, dentro de uns 45 dias. Isso me daria tempo para um trabalho de amaciamento da tia, já que agora podia sair de meu encerro no apartamento.
No interregno da espera para a assembléia de condôminos, comecei a freqüentar a piscina. Encontrei-me com ela e fui direto ao assunto. Manifestei minha solidariedade, pois tivera experiência algo similar e que me reservava a contá-la quando fossemos mais íntimos. Com essa expressão, já lhe jogava uma insinuação de um interesse especial meu por ela. E elogiei o menino e também a ela, mostrando uma simpatia e também uma admiração por ambos, mas deixando intuir que o meu alvo era na verdade ela mesma. Isso não foi difícil para mim, pois de perto, vi que ela era bem mais bonita do que de longe parecia através da luneta. Percebia também que tinha uma formação e um raciocínio intelectualmente excelentes. Ela gostava de literatura e eu também. Trocamos impressões sobre livros, autores, idéias, artes e modos de ver o mundo. Ela ficando impressionada. Com o papo, com os elogios, com a simpatia espontânea, independente de outros fatores.
Aí eu percebi duas coisas que me intrigaram. Primeiro que algo lhe fazia pensar já me conhecer de algum lugar ou que eu parecia bastante com alguém a quem ela queria muito bem. Segundo que ela mantinha aquela máscara de intelectualidade e de retraimento social, mas escondia uma poderosa sensualidade e também uma forte vontade de convivência humana. Quando estava distraída, pelos seus gestos e olhares eu tinha a impressão de que há muito tempo ela vinha recalcando fortes desejos de um relacionamento estreito com outras pessoas em todos os sentidos.
Contei-lhe que estava me recuperando de um desastre de moto, que tirara o gesso muito recentemente e que o médico recomendara nadar e tomar sol todos os dias. E era o que ia fazer. Vi que a simpatia dela por mim era grande, porque em vez de freqüentar a piscina só três vezes por semana, ela passou a fazê-lo diariamente, junto com seu filhinho adotivo. Percebia que, quando eu chegava, ela estava a esperar que me aproximasse e iniciasse o papo.
Comecei a trazer coisinhas para os dois. Para o guri, uns brinquedos, uns bombons. Para ela emprestava revistas especializadas em literatura e até em psicologia. Ela perguntava se eu já as tinha lido, e frente a minha resposta afirmativa, as devorava, para no dia seguinte já vir a comentá-las, no afã evidente de criar clima e diálogo. Fui assim ganhando a confiança dela e aumentando meu remorso pelo que praticara com ela e seu filhinho.
A confiança chegou ao ponto de ela um dia me chamar para um jantar no seu apartamento. Havia convidado um casal que compartilhava com as idéias que nós trocávamos na piscina. A mulher era uma grande amiga dela. Como entre elas havia muito que ser contado, se eu fosse para conversar com o marido haveria um maior equilíbrio e prazer no jantar. Agradeci e compareci. Aí vieram novas descobertas.
Assim que fomos apresentados a amiga dela me olhou com a curiosidade de quem me achasse parecido com alguém que ela conhecia. Notei que ficou um tempão esforçando-se para recordar quem seria esse alguém. O papo corria agradável, a comida era saborosa, enfim, curtíamos uma noite que estava sendo bem boa. Já quase a terminar a sobremesa, a amiga de repente exclamou um “já sei!” e disse para a anfitriã que eu parecia muito era com aquele cunhado dela que havia morrido junto com sua irmã naquele desastre. Ela concordou discretamente, com uma atitude de quem já tivesse percebido isso há algum tempo junto com certa vergonha por não ter me comentado tal fato até então. Percebi também um titubeio, algo de embaraço e rubor no seu rosto. Era como se involuntariamente deixasse aflorar as pontas de fortes sentimentos obstinadamente escondidos no seu íntimo. Aquele gesto pôs-me logo a imaginar que os seus sentimentos para com o cunhado eram mais do que os normais do caso. Para mim era um forte indício de que ela nutria uma paixão por ele desde algum tempo. E que ela recalcara tais sentimentos agora e durante a vida do casal por respeito e amor à própria irmã. Aí decidi que jamais iria tentar comprovar tal hipótese que me parecia bem plausível, para não cometer indiscrição nem atrapalhar nosso relacionamento. Pareceu-me também que ela estaria começando a transferir para mim sua paixão devido à semelhança com o cunhado.
E também por que esse novo alvo lhe transmitia sintonias e simpatias que ela não pudera nem conhecer nem experimentar algo similar com o marido de sua irmã. Imaginei que a paixão pelo cunhado teria sido um tanto platônico. Logo pensei ver que eu estava a pisar em um terreno perigoso. Que eu poderia estar embarcando em uma relação de forte enlace que antes não tinha pensado nem ia querer. Para mim aquele tipo de mulher era muito carente. Teria se recalcado durante muito tempo. Se agarrasse alguém disponível de seu agrado iria querer absorvê-lo totalmente, exigindo uma atenção quase neurótica. Naquele momento pensei que tais maquinações em parte eram fundamentadas nas reações dela que presenciei no episódio da piscina. E também numa certa vaidade minha, para sentir-me desejável por aquela mulher. Mas também contra argumentei comigo mesmo que eu não podia concluir tais coisas antes de conhecê-la melhor. E que ela poderia ser muito mais madura de personalidade do que eu pudesse imaginar. E, o que era o mais importante para mim, eu tinha que continuar com aquele relacionamento com o propósito exclusivo de evitar uma constrangedora assembléia de condôminos. Não me agradava dominar com meu voto o resultado da assembléia, muito menos agora. Seria constrangedor para os habitantes do prédio, para ela e muito mais para mim. Sentia que podia estar numa sinuca de bico, mas resolvi dar continuidade ao jogo, onde ganhar a confiança dela era a chave para a solução do conflito criado, e para apagar o erro que eu praticara sem ter que confessá-lo.


7. O êxito

No dia seguinte ao do jantar, em vez de na piscina ir diretamente para onde ela estava, fiquei deitado no gramado entre a pedra e a moita. De soslaio notei sua apreensão. Olhava para a pedra e para a moita e para mim. Varias vezes, alternativamente. Demorei aí uma meia hora de propósito. Quando cheguei nas espreguiçadeiras, lá veio ela com uma saraivada de insinuações e preocupações sobre como aquele lugar que eu estivera tanto tempo era perigoso. Pedi que me explicasse o porquê. Ela me contou sua versão do que tinha acontecido, salientando que a ameaça tinha sido para o seu sobrinho, mas que ela estava convencida que o perigo era para todos. Percebi que não queria confessar seu chilique. Não sabia que de longe eu o havia presenciado. Aproveitei essa falha de seu conhecimento para dizer que provavelmente o menino havia visto algo que alguém colocou ali por brincadeira. Que de dia seria impossível ter aparecido um fantasma, uma alma do outro mundo ou um monstro transcendental naquele lugar. Que se isso tivesse sucedido naquela ocasião também deveria ter acontecido antes. E que se fosse assim, aquele lugar teria ficado marcado como mal-assombrado. E que isso jamais sucedera naquele lugar. Por último contei que o prédio tinha sido abençoado por um padre que tinha fama de santo. Que até uma missa campal tinha celebrado ali no pátio com a devida autorização e beneplácito do Bispo. Como ela tinha simpatia por mim, e talvez algo mais que isso, vi que fez uma força para dominar seu medo e terminou acreditando. Não quis confessar o que parecia o que ela havia visto. Mas deve ter se lembrado dos detalhes daquela coisa e ter-se dado conta de que era algo mecânico. Que aquilo não tinha vida e que sua aparência assustadora tinha sido muito mais um resultado de sua vulnerabilidade psicológica no momento. Entrou mais na sua cabeça que alguém tinha preparado aquilo para assustá-los. Contou-me um incidente com um senhor entrado em anos que tinha brigado com ela por causa de uma sandália que ele dizia ter sido carregada pelo menino louro. Contou-me como o senhor ficara irado e que muito provavelmente fora ele quem colocara aquela geringonça na pedra, inclusive porque ele tinha uma loja de brinquedos. Aí eu disse que eu não acusaria de jeito nenhum aquele senhor, mas que não tinha a menor dúvida de que alguém armara aquilo para assustar a criança e por tabela a ela também. E me propus a conversar com o menino, levá-lo àquele lugar que agora ele evitava com medo e que mostraria brinquedos semelhantes para que ele se convencesse que nada daquilo era medonho. Ela concordou e espontaneamente pouco depois pediu ao síndico para tirar o assunto da pauta da Assembléia que também tinha outras matérias a discutir. E tive várias conversas com o menino que também via em mim alguma semelhança com o pai que morrera e, por conseqüência, não foi difícil eliminar aquele trauma, aquela fobia de sua cabeça.


8. Minha frustração

Mas aí a coisa avançou o sinal. Não pude evitar estreitar as relações, que como sempre são tentadoras, principalmente com aquela mulher tão simpática, bonita e gostosa. E, claro, passamos a transar com alguma freqüência quando a criança estava na escola ou na casa de algum amiguinho. Para mim foi muito bom, mas trouxe uma surpresa. Descobri que ela estava apenas se iniciando naquele terreno. E que estava dominando a situação com extraordinária rapidez. Era muito poderosa sua capacidade sensual e intelectual para uma estreita convivência amorosa. Capacidade que estava recalcada e que agora se manifestava e se desenvolvia com força. Ela mostrava uma forte simpatia e um pouco de bem querência para comigo, que me parecia estar a crescer. Mas o mais evidente era forte química de paixão carnal entre nós dois. No decorrer de nossos encontros, sua personalidade começou a se transformar. Passou a conversar mesmo com pessoas encontradas ao léu, a fazer amizades, a espalhar risos e cordialidade, a contar piadas, e a confidenciar-me sentimentos fortes sobre tudo e sobre todos. Mas, não sabia por que, a relação para mim estava a trazer traços de desagrado, de peso. Estava satisfeito com esse desabrochar de sua personalidade em todos os sentidos. Sentia meu ego massageado, engrandecido de orgulho por suas demonstrações de desejo, mas também sentia que não estava disposto a compartilhar um convívio duradouro com aquela linda mulher. Faltava qualquer coisa. Não era só por que minha bem querência por ela não fosse completa. Nem por que ela de repente começara a mudar de personalidade. Algo obscuro naquele momento me dava um impulso para não seguir naquele caminho. Fui pouco a pouco inventando trabalhos viagens etc. Ela foi notando, sentindo um pouco, mas nem tanto. Percebi que não tinha a carência para ficar dependente de minha atenção, de meu amor ou qualquer coisa parecida. Nem era absorvente e muito menos possessiva.
Quando anunciei que ia me mudar e que podia ficar muito difícil de nos encontrar com freqüência tomou com naturalidade e até com simpatia. E quando anunciei que seria difícil continuarmos a nos encontrar, devido ao aumento de minhas atividades, me disse “tudo bem”. E rapidamente agradeceu-me as atenções, a amizade e o amor que eu lhe tinha dedicado. Que tudo aquilo tinha sido um santo remédio para se conhecer, para se livrar de fantasmas antigos, enfim, para ser ela mesma e seguir sua vida numa boa. Que fazia questão, em qualquer circunstancia, de manter nossa amizade, de sempre demonstrar sua gratidão. Que era natural parar nossas transas e ao mesmo tempo não termos nenhuma inibição para novas relações com outros seres em nossas vidas.
Concordei meu cabreiro. Meu orgulho de homem, de macho, me deixava incomodado. Sentia-me como tendo sido usado, ainda que involuntariamente, por aquela mulher. E me esforçava para compensar esse sentimento de frustração pensando no fato de ter sido eu quem provocara aquela transformação tão importante para ela.
Continuamos a nos encontrar em reuniões sociais e em outras ocasiões. Contou-me mais adiante que havia encontrado um companheiro com o qual estava muito feliz. Que o filho-sobrinho lembrava-se de mim com saudade. Soube que o companheiro era empresário chegado ao atletismo e com três anos menos que ela.
Tentava sempre superar meu complexo de inferioridade que de vez em quando aflorava de ter sido um instrumento manipulado para seu desabrochar e sua realização amorosa com outro. Tentava sempre essa superação a pensar com um sorriso que eu tinha sido um salvador. Mistura de padre, psicanalista, pai de terreiro e amigo, pura e simplesmente. E que eu tinha era que ficar orgulhoso e começar a me convencer de que possuía dons antes não conhecidos por mim mesmo. Debalde. De vez em quando vinha-me aquela chateação de como se ela tivesse me esnobado. Essas subidas e baixadas são meio absurdas. Mas nós somos assim mesmo.


9. A fuga e o pesadelo

Mudei-me para uma chácara com uma casa antiga nos arredores de Goiânia. Escolhi por não ter piscina e por ter lagartixas marrons no quintal e esbranquiçadas dentro da casa velha. O corretor se espantou com minhas exigências completamente insólitas. E quando ele se surpreendeu, percebi que inconscientemente estava querendo com bastante exagero evitar uma repetição daquela experiência da piscina e também reviver de alguma forma minha infância. Sentia no íntimo que não estava ainda curado da frustração causada pelo modo como a tia do menino tinha aceitado tão facilmente interromper nosso caso. E que isso se misturava com outras coisas na minha cabeça de uma forma complexa que eu não entendia. Com coisas da infância e com coisas da separação provisória com minha mulher.
Uma noite, depois de me fartar com uma galinhada e arroz com pequi, tive um pesadelo. Estava com minha mulher em um tapete voador flutuando parados no ar. Minha mulher com um binóculo olhava para o céu azul e umas nuvens brancas esgarçadas, lá na frente, bem mais altas do que nós. Eu acreditava que tínhamos morrido os dois. E via lá em baixo uma cena com um menino lourinho que eu pensava ser um autêntico filho de nós dois. Uma moça morena parecida com aquela tia discutia com minha irmã, única parenta nossa viva, sobre os cuidados da criança. A morena argüia que gostara muito de mim e queria adotar o menino. Minha irmã escutava solícita, com um sorriso benevolente, assim meio dominada, já quase acedendo. Eu ficava desesperado, com raiva daquela morena e gritava para minha mulher: “Marinês, aquela safada quer adotar nosso filho que ficou órfão de nós dois lá na terra!” Minha mulher deixou calmamente de contemplar por um momento o azul do céu e as nuvens brancas e me dizia com a calma que lhe era peculiar; “Oh Luis, você está ficando doido? Não morremos e você sabe que não podemos gerar filhos. Deixa isso pra lá e venha ver estas nuvens maravilhosas e o céu bem azul lá no alto em nossa frente”. Eu aquiescia e tomava o binóculo de suas mãos. Através dele via as muitas nuvens naquele céu bem azul. Obedecendo a minha imaginação uma nuvem se transformou na imagem da lagartixa de quintal e outra na lagartixa doméstica de minha infância. Ambas caminhavam e paravam para comer supostos insetos tal e qual as via antigamente. De repente, elas se viraram com as cabeças meio levantadas para meu lado, mostrando parcialmente suas barrigas, e começavam a me acenar com uma das patas dianteira como a dar um adeus meio ridículo e iam recuando e recuando,distanciando-se cada vez mais de mim. Veio-me aquela tristeza de despedida e eu me virava para o lado de Marinês, para devolver o binóculo, e nada. Marinês havia desaparecido. Sentia uma angustia enorme e me pus a gritar: “Marinês, Marinês....”. Apenas me respondia um estranho eco soturno que me parecia vir das nuvens. E eu continuava a chamá-la com desespero. Aí acordei suado e angustiado. Automaticamente estendi o braço para o lado, sem me dar conta que procurava pegar na Marinês como fazia tempos atrás. Eram várias as ansiedades que sentia. Saudade da infância e de Marinês, a frustração de não poder gerar filhos, e o ressentimento contra aquela tia morena do sobrinho louro. Era de madrugada e escutava os grilos daquela casa antiga e o os sapos do córrego de ali perto. Estava meio dormido ainda. Pouco a pouco fui alertando, entrando na realidade do meu cotidiano.

10. O reencontro

Vesti-me e parti para o escritório. Pouco depois de lá estar, a secretária me avisa que minha mulher tinha telefonado dizendo que chegara no dia anterior da Europa. Chamei-a de volta e ela queria me encontrar. Dizia que tinha algo importante para conversar sobre nossa separação e propôs que almoçássemos em um restaurante no peso que freqüentávamos no passado. No almoço contou por alto sua experiência acadêmica. E disse que o mais importante era que conhecera de perto uns casais com problemas semelhantes ao nosso. Eram casais felizes com muita união e quase nenhum trauma. Tinham resolvido em parte suas situações pela adoção de crianças de todos os tipos: africanas, asiáticas e até brasileiras. E disse que para ela o tempo para pensar havia terminado. Já tinha concluído que o bom era viver comigo. Pelas conversas que tínhamos, pela administração de nossas economias, pelas nossas transas com gozo simultâneo que nos levava a um enlevo de subir aos céus. Mas ainda, ela destacou nosso aconchego nas horas de sono na nossa cama. Disse que passara a sentir muita falta daquela troca de calor entre nossas mãos, entre nossos corpos. E que não era somente uma troca de calor. Havia, disse ela, um intercâmbio de algo ainda misterioso para qualquer ciência. Era um intercambio de energia desconhecida que nos punha num êxtase de tranqüilidade, de imunidade a qualquer angustia ou ansiedade, de identificação mútua entre nós e com todo o universo. Queria saber se eu chegara à mesma decisão, como esperava.

Concordei na hora. Fomos viver no antigo apartamento que conservei vazio. E várias coisas que me aconteceram começaram a ter alguma explicação, ou simplesmente ficarem mais claras para mim. Logo no reencontro com Marinês no restaurante veio bem vivo um sentimento de completeza que faltara na minha relação com a morena do prédio. Vi que não queria nada com ela porque no fundo do meu pensamento estava presente até então algo escondida a imagem da Marinês.
Contei a minha mulher a história do prédio, mas obviamente omiti a relação com a morena.
Quando contei minhas histórias e sonhos com as lagartixas ela veio com uma informação que me deixou boquiaberto e muito contente. Disse que as lagartixas estavam sendo estudadas pelos cientistas da nanotecnologia. Que elas aderiam às superfícies mais lisas graças a uns cabelinhos inimaginavelmente finos e invisíveis a olho nu, que penetravam nos inimagináveis poros e também invisíveis dos vidros e de outras superfícies, graças a uma força subatômica chamada de Van der Walls. Pronto. Logo, logo me veio a satisfação de que minha paixão era também uma percepção de um fato real ainda que pouco conhecido, de grande valor científico e tecnológico. Que as bichinhas tinham poderes naturais que as faziam mais do que merecedoras serem meus ídolos. Quando ela me contou essa história, não me contive. De imediato comecei a chamegar com Marinês dizendo: minha lagartixinha, minha lagartixinha... Foi maravilhoso.

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