Na casa senhorial do ministro Gilberto Gil, em São Conrado, aqui no Rio, o presidente Lula, cercado de artistas e caçadores de verbas, comandou uma outra festa de quadrilha. Não a inocente quadrilha junina de Pernambuco e do Nordeste, mas a "quadrilha" definida e denunciada pelo procurador-geral da República, a "organização criminosa" chefiada por José Dirceu e o governo de Lula e do PT. Márcia Vieira e Paula Autran contaram no "Globo":
"Uma platéia de cerca de 80 artistas, socialites e intelectuais lotou a sala da casa do ministro Gilberto Gil. Lula foi ovacionado ao chegar. Tomou uma dose de uísque e, animado e contando piadas, de pé sobre um banquinho, defendeu seu governo e se comparou a Fidel Castro, no poder desde 1959: "Fidel escreveu que a história um dia o absolverá. Eu não vou precisar esperar pela história. O povo vai me absolver (sic) agora".
Zé-Quadrilha
"O ator José de Abreu levantou um brinde constrangedor: "Estou aqui como Zé. Quero fazer uma homenagem ao Zé Dirceu, ao Zé Genoino e ao Zé Mentor!", disse referindo-se ao ex-ministro José Dirceu, ao ex-presidente do PT José Genoino e ao deputado José Mentor. (Só faltou o Marcola. Os três mensaleiros foram denunciados pelo procurador-geral como membros da "quadrilha" do governo, da "organização criminosa" do PT.)
Lula e a maioria dos presentes aplaudiram. Abreu foi conferir depois:
"Fui inconveniente, presidente?" "De jeito nenhum", respondeu Lula.
"Lula negou que tivesse escondido o deputado João Paulo Cunha no comício de Osasco. Indagaram se subiria ao palanque com Dirceu e Genoino":
"Lógico que sim. Não tenho problema de subir no palanque com eles".
Zé Genoino
Em São Paulo, em outra festa da "quadrilha", José Genoino, mensaleiro, lançava o livro de memórias, "Entre o Sonho e o Poder" (Editora Geração, SP), pungente depoimento a Denise Paraná, que fez "Lula, o Filho do Brasil".
Dois terços do livro são a história forte, dramática, do menino pobre do interior do Ceará que vai estudar em Fortaleza, entra na política estudantil, mete-se na guerrilha do Araguaia, é preso, sofre bárbaras torturas, passa cinco anos na cadeia, é solto em 77 e em 82 se elege deputado federal por São Paulo.
Uma bela biografia. Mas a parte final do livro é brutal agressão ao leitor e à própria história dele. Eleito Lula, feito presidente do PT, passa ele a ser um pau-mandado de José Dirceu, um fantoche do governo. Ele mesmo confessa. Joga no lixo todas as posições e convicções de quando era da "minoria" no PT e passa a defender o que pensa e manda a "maioria" oficial.
Curió
O PT fez do lançamento do livro mais uma festa da "quadrilha", a "organização criminosa" denunciada pela PGR e a CPI. Os "mensaleiros" e "quadrilheiros" estavam lá, arrogantes e arrotantes. No livro, Genoino nega o óbvio, como se nada dos escàndalos apurados pelas CPIs tivesse acontecido:
"Roberto Jefferson fez a falsa (sic) denúncia do suposto (sic) Mensalão. Até agora não encontraram nenhuma prova documental de depósitos que prove. Não encontraram qualquer testemunha que concorde com a denúncia".
É muita cara-de-pau. E cria o maior constrangimento mental para todos nós, como eu, que, na Càmara, em 83, nos expusemos para defender Genoino (que não se defendia) do Capitão Curió, também deputado, que o acusava de ter entregue a Guerrilha do Araguaia e seus companheiros e, por isso, o João Amazonas jamais o perdoou. Se Genoino é tão cara de óleo de peroba para negar o provado e comprovado Mensalão, Curió não teria dito a verdade?