Usina de Letras
Usina de Letras
153 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62213 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10356)

Erótico (13568)

Frases (50606)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140798)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->“Pé-de-pato, mangalô, três vezes”! Isola! -- 15/05/2010 - 15:25 (Alfredo Domingos Faria da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
“Pé-de-pato, mangalô, três vezes”! Isola!

Foram quarenta anos fazendo os meninos nascerem, no interior de Minas. Zazá parteira, já aposentada, mora agora no Rio de Janeiro. Veio ao encontro do filho para ter companhia na velhice.
Em complemento ao seu ofício, quando de casa em casa, fazendo mais amigos do que apenas atendendo pacientes, orgulhava-se em oferecer as mais diversas receitas, que distribuía com ar de sapiência.
A coleção era vasta, atendia às “necessitudes” de toda ordem. A relação incluía chás, unguentos e combinações alimentares. A sua preferida era a que incluía mel e canela, de amplo aproveitamento, de utilidade para inúmeras mazelas. O limão também era muito recomendado.
Sem muito esforço, ia desfiando a maçaroca assim que as pessoas apresentavam seus problemas, sempre com interesse, achando solução para tudo.
Seu aspecto físico é magrinho, de baixa estatura, e cabelos longos na cor acaju, para encobrir os fios brancos em abundância. Não dispensa argolas grandes como brincos.
No exercício da profissão era muito querida, sendo solicitada em várias cidades vizinhas. Na iminência do parto, aboletava-se na casa da parturiente à espera da boa hora. Aí, atuava com maestria e carinho. A pecúnia pelo trabalho era bem acessível, o que permitia que lhe fossem dados, “por fora”, os mais diferentes presentes.
Apesar de expedita e decidida, foi acumulando pela vida muitas manias e fobias. Algumas por esperteza, à guisa de conseguir o bom favorecimento, de angariar simpatia; e outras ao acaso, decorrentes dos males que nos acometem. O entendimento popular acusa que manias não são explicadas, devem ser aceitas.
Ainda menina, Zazá, ao acompanhar a mãe em um sepultamento, adquiriu para sempre o pavor de ser enterrada com terra sobre si. A ideia do afogamento a seco, mesmo depois de morta, assustava-a.
Perdeu a conta das vezes que acordou na madrugada com pesadelo pela tal situação indesejada. Ficava em estado lastimável, suando em bicas e completamente aterrorizada. Em algumas noites, teve a sensação de estar envolta em areia fofa, com perda da respiração.
Idealizou, para salvar-se da desdita, que faria tudo para ser enterrada em pé.
Não bastou a explicação das pessoas próximas de que hoje em dia os enterros não são mais daquela maneira da sua infância. Além disso, foi revelado que não é conhecida a possibilidade de o caixão ser mantido em pé. Diziam em reprimenda:
- Não tem cabimento!
Em seguida, vinha a resposta:
- Se caibo deitada, caibo em pé, ora bolas!
Foi sugerida a pesquisa nos cemitérios que dispõem de métodos mais modernos.
A sua busca, no entanto, encontrou um anúncio no jornal de domingo, que lhe chamou a atenção: CEMITÉRIO VERTICAL AO SEU ALCANCE.
- Maravilha! – alegrou-se, dizendo ao filho que iria fazer contato.
Não adiantaram os argumentos sobre o significado do termo “vertical”. O convencimento não ocorreu e a segunda-feira serviu para fazê-la partir atrás da sua salvação, depressa.
A lábia usada na venda não foi revelada. Soube-se, apenas, que foi fechado o negócio.
A transação não parou por aí. A compra, na realidade, correspondeu a duas “vagas”. Lembrou-se ela de que a neta, seu xodó, companheira de todos os momentos, possuía o mesmo temor. Imaginou que deveria ter compaixão da coitada e agraciá-la com esse mimo consolador.
Em decorrência, o espanto da família passou a ser dobrado. Uns afirmavam à boca pequena que a invencionice da “velha” havia contaminado a moça.
Cenário pior aconteceu quando a neta, exultante, em gravidez avançada, foi contar à mãe que ganhara um presentão da avó. O pensamento recaiu sobre algo para o enxoval do pequeno que estava para nascer. Qual nada!
A mãe, ao saber da verdade, quase teve um piripaque, não acreditando em tamanha loucura de mau agouro. Subiu nas tamancas! A coisa estava consumada, fazer o quê?
O desfecho desta história, infelizmente, Zazá não constatará, por mais que tenha previsto e trabalhado para amansar a sua fobia esquisita.
De certa forma, é compreensível que quem tanto deu vida às pessoas não aceite com serenidade a morte. Porém, chegar ao exagero da preparação revelada, fugindo do tradicional “ficar na horizontal”, é demasiado. Ao fechar os olhos, para o chamado descanso final, não nos resta muito além, nem nos cabem questionamentos ou vontades.
Quase vale aconselhar: “SE É INEVITÁVEL, RELAXA E APROVEITA”.

Alfredo Domingos Faria da Costa







Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui