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Contos-->Dona Francisca -- 15/05/2010 - 16:07 (Alfredo Domingos Faria da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dona Francisca
Cabelo vermelho, alisado, e pele alva, não castigada pelo sol. Nunca revela a idade. Sabe-se, por informação velada, que já passou dos sessenta. Seus seios são abundantes, ressaltados por decotes generosos. Sua fala é ligeira, atropelada, quase um artifício para obter o que deseja e disfarçar o que não sabe. Os dentes, precisando de reparo, sobram na boca e aparecem agressivos quando ri fartamente. É baixinha, de pernas finas, essa nordestina de boa cepa.
Compondo o tipo, para mostrar serviço, seu caminhar é curto, lépido, dando a impressão de ser atuante e diligente.
Não dispensa anunciar-se utilizando o nome completo, que diz possuir a imponência própria de uma princesa.
Começa, quase sempre, as frases dizendo: - Você me entende?
Diz que tudo resolve e que segue o lema de “matar a cobra e mostrar o pau”. Será?
Seu ramo de trabalho é o turismo. Gaba-se de conseguir abrir qualquer porta e de conhecer meio mundo.
Nas horas vagas “apronta” nas reuniões para as quais é convidada. Lá pelas tantas dos aniversários e outras festividades, sem nenhuma ciência ou saber, mas com muita arte, resolve fazer leitura das mãos daqueles que ali estão.
A sua sorte é que as pessoas encaram com humor a iniciativa, como uma diversão, além da curiosidade. Tem ocorrido de receber convites motivados pela pretensa atuação de animadora, o que lhe traz satisfação e orgulho.
Pondo em prática a atividade, dirige-se a cada um que lhe dá a mão, em voz pausada, indicando traços de personalidade e fazendo previsões de futuro. Para tal, é claro, e não podia ser diferente, baseia-se nos conhecimentos que detém das pessoas, suas conhecidas, ainda que escassos, e nas observações “in loco”.
Às vezes, porém, exagera na dose da falação e dos palpites, trazendo para si situações constrangedoras de difícil ou impossível reversão. Fazer o quê?
Sua agência de viagens não chega a ser um portento. Enfrenta há anos problemas de caixa, contando tão-somente com soluções precárias advindas de uma engenharia financeira duvidosa.
O aparelho de fax está constantemente com defeito, exigindo que seja usado o telefone para contatos com os clientes. O computador, comprado de segunda mão, até que atende, mas falta quem saiba operá-lo com maestria. O conteúdo dos e-mails, em resposta às consultas, passa longe do “Aurélio”, sendo desnecessário comentar que o novo Acordo Ortográfico nem sequer foi mencionado por lá.
Esses e-mails têm a característica de não responder ao que foi perguntado. É usada a estratégia de sair pela tangente, enveredando por soluções para as quais não havia problema nem necessidade.
A procura por hotéis é inútil. Praticamente, as vagas não existem, mesmo na baixa temporada. Todos os tipos de trapalhada são cometidos. Quando há dificuldade no atendimento ao cliente, pratica-se o artifício de desligar o telefone, para ganhar tempo, alegando que a ligação está ruim e irá cair.
Uma pessoa interessada relacionou exigências para reservar acomodação em um hotel, mas, acima de tudo, fazia questão absoluta de que o apartamento ficasse no andar térreo, por motivo de doença. Foi oferecido, como única possibilidade, um apartamento no quinto andar, porém, foi dito baixinho, dificultando o entendimento, que o prédio não possuía elevador...
As soluções ofertadas são revestidas de bastante ênfase, sendo, porém, quase sempre, de péssima qualidade, com localizações de reputação duvidosa. As oportunidades melhores nunca são oferecidas. Parece que a agência vive da escória do mercado.
Os passeios turísticos, por mais simples que sejam, estão, a qualquer momento, com a lotação esgotada. Naquela data desejada não é possível. Assim, são indicadas opções que não agradam a ninguém ou pede-se para retornar em outra ocasião.
Agora, vamos combinar, se a procura é por diversão, aí a performance excede, é de primeira. A programação é farta e muito bem elaborada. As idas noturnas aos “inferninhos” e boates são realizadas impecavelmente, com o apoio devido. As guias, sim as guias, são selecionadas pela empresária pessoalmente, nas minúcias. O padrão das cuidadoras é semelhante ao das participantes do “BBB – o reality show”; elas são exemplares no ofício e na apresentação pessoal.
São oferecidos os “books” das moças, para prévia escolha dos visitantes. A arte final dos álbuns é feita em São Paulo, como é costume alardear com orgulho.
Para os passeios marítimos são apresentadas perfeitas marinheiras, portando seus bonés brancos de pompom vermelho. Que criaturas lindas! Como Dona Francisca é zelosa!
Vindo o visitante a precisar de companhia para compras, jantares ou “outros eventos especiais”, não carece de ficar vexado, pois a agência, prontamente, fornece a acompanhante. É cobrada uma “módica” taxa de representação, a fim de possibilitar a boa aparência. O bem-vestir é estimulado! Existe a recomendação às moças para que usem roupas modernas, curtas e arejadas. Elas cumprem direitinho...
Na lista de celulares, telefones fixos e e-mails constam pessoas importantes. Não faltam figurões e emergentes.
A julgar pelo relacionamento, até, pode-se imaginar que as atividades comerciais da FRANCISMAR TURISMO não estão em situação tão difícil. Mas fica uma questão: afinal, qual é, na verdade, o negócio da Dona Francisca Micaela Josefa Nunes de Moura?

Alfredo Domingos Faria da Costa









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