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Artigos-->NOVOS HORIZONTES POÉTICOS -- 18/01/2003 - 17:30 (GILSON CHAGAS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NOVOS HORIZONTES POÉTICOS

(PREFÁCIO)





Empreendi rápida "viagem" pelos Horizontes da Liberdade, livro de poesias inéditas do piauiense, residente em Bocaina, Francisco Valentim Neto. Rápida, devido à premência do tempo, que, de resto, cinge todos nós neste redemoinho globalizado dos dias que correm. Tropecei, todavia, em minha própria pressa. Fui arrastado pela densa correnteza de idéias e sentimentos contida no cerne dos poemas e a primeira inferência que deles logrei retirar é que é impossível lê-los sem pensar e sentir. Para apreender, ainda que parcialmente, a mensagem de cada poesia, conforme permitiu minha visão míope de observador comum, é preciso algo mais do que um simples exercício racional.

Cumpre-me aqui esclarecer, para os que me honram com a leitura deste prólogo, que não possuo os atributos próprios do crítico literário, a despeito do vínculo pessoal com a literatura. Infelizmente, nunca procurei aprofundar-me nessa raia acessória da arte literária, a crítica. Emito, portanto, opinião de mero leitor. A análise retrata o analisado e o analista.

Em um ponto, contudo, posso me fazer categórico: as reflexões emanadas dos poemas de Neto não podem ser construídas por um versejador comum; elas são fruto de um pensamento mais acurado. Ressalto o espírito inquisidor e construtivo que percebi emergir de cada fragmento do conteúdo.

O poema LIBERDADE, por exemplo, reforça-me a impressão de que Deus fez os poetas e filósofos da mesma substância; colocou-os em semelhante diapasão vibratório, para captarem as propriedades mais sutis da vida e dar-lhes uma forma antes imperceptível aos mortais comuns. Uma ausculta de tal alcance, porém, constitui um processo que não se realiza sem um encontro com o eu interior. É essa imersão que, paradoxalmente, os põe em uma perspectiva privilegiada. De lá, eles cumprem sua missão de desvelar o reverso das ocorrências mais comezinhas, identificando nelas uma essência que não pode ser mostrada pela superfície.

Meu caro poeta,

Particularmente, também acredito que "nos caminhos da oração" a liberdade se realiza em plenitude e num desses "vôos ao infinito" os poetas experimentam a abundância de seus limites, que, a seu turno, convergem para os caminhos de Deus.

Li em um de seus poemas que "ser livre não é o direito de ir e vir, é ter aonde chegar" Esse pensamento desafia - e, possivelmente, desbanca - discursos triviais e conceitos estabelecidos. Encontra-se aí uma visão positiva do que se fazer com o tempo. Em última análise, ele preconiza a vocação utilitária dos recursos confiados pelo Criador ao livre arbítrio do homem. E essa concepção não brota impunemente no intelecto. Ela é própria de um ponderável estágio de maturidade, em que se sobrelevam componentes de espiritualização.

Repito: é impossível ler este livro sem pensar e sentir.

Os poemas CONTRADIÇÕES, ANSEIOS, ANDARILHO seguem uma tendência das páginas anteriores da obra, em que o poeta traça perfis de comportamentos, na terceira pessoa. Trata-se de um ponto de vista aparentemente impessoal ou vazado naquela técnica que a neurolingüística cataloga como "visão dissociada" É, sem dúvida, um recurso legítimo, através do qual os pensadores costumam dissecar seus personagens ricos em complexidade - que em geral são eles próprios - sem incorrerem em auto-exposições ou arroubos personalísticos.

A linguagem predominante no livro me pareceu rebuscada, de difícil acesso, portanto, às pessoas menos familiarizadas com a elasticidade semântica. Essa erudição relativa constitui, aliás, um capítulo encontradiço na biografia de qualquer poeta que vive seu cotidiano em espaços territorialmente menores. "Extravasando nas confidências de sua poesia", ele se vê premido no centro de um dilema entre "liberar" seus arquivos secretos ou preservá-los sob confidencialidade prudente, quiçá, necessária.

A propósito, quem de nós nunca se viu compelido a acionar os freios da razão para barrar as "heresias" da alma insubmissa? Em oportunidades assim, via de regra, abdica-se dos atalhos e recorre-se aos labirintos (quando não às tangentes) da "flor do lácio inculta e bela". É aí que se encontra uma válvula ou "licença" para se dizer o indizível, desnudar-se sem expor-se tanto, ou, quando muito, para poucos - e sempre na expectativa de contar, nesses poucos, com a cumplicidade de um intelecto refinado e aberto.

É nesse contexto que presumo encaixados - e, quem sabe, plausíveis - seus "pensamentos esculpidos" em sinonímia rara. Eles, em última análise, revelam a personalidade culta do autor e, por certo, ensejarão aos leitores desbravarem e desvendarem novos "horizontes da liberdade", inclusive os da liberdade poética.

Prezado Francisco Neto,

Creio na validade de seu projeto e, como se diria na gíria, acho que ele precisa ser publicado "ontem". Está escrito: "não se acende uma lâmpada para colocá-la debaixo da mesa" Estou certo de que, com ele, você fará uma alvissareira estréia. O livro é original, tem, pois, luz própria e certamente há de "iluminar a sala". Ademais, o frenesi neoliberal que acometeu o mundo nestes anos mais recentes necessita de vários "choques" de idealismo. E nessa cruzada está inserida a tarefa dos poetas.

Como você, em seu poema ILUSÕES, "sempre tentei transformar as muralhas em ponte". Por isso, recomendo-lhe atravessar o deserto e vencer esse estado de ineditismo. A porta para os idealistas continua estreita - aliás, mais estreita do que nunca - e a trilha tem pedras, sapos e carrancas. Mas, por analogia à boa-nova cristã, continuo acreditando que "aquele que perseverar até o fim será salvo"



Gilson Chagas

Escritor e professor universitário.

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