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Contos-->Me dá um dinheiro aí -- 12/06/2010 - 21:31 (Alfredo Domingos Faria da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Me dá um dinheiro aí

Do avarento todos correm ou deveriam fazê-lo. Deus me livre de topar com um! É uma raça que atrasa, deprime e inibe a quem com ela convive.
Esses seres não poupam esforços nem falação para economizar. São capazes das maiores façanhas para fazerem valer o famoso “levar vantagem em tudo”.
Aceitam carona para qualquer local, embora não seja o destino de momento, apenas pela oportunidade de obter algo gratuito e reforçar a intimidade. Vestem-se a caráter, empoados, para penetrarem em festas de casamento, batizados, inaugurações e no resto que vier.
São prestativos e oferecidos, entre aspas, na busca de auferir ganhos de toda ordem.
Fazem-se de simpáticos, de divertidos, para serem convidados. Não importa pra quê. Vale, acima de tudo, a gratuidade.
Oferecem-se para ajuda e participação em mudanças, churrascos, festa da cumeeira, acompanhamento de doentes, entrega de recados e velório. Para este último, até se dão ao desplante de consultarem anúncios de sepultamentos, abalando-se para os cemitérios desde que o “de cujus” seja colunável e haja, na empreitada, alguma possibilidade de benefício.
Em todas as datas, são exímios passadores de e-mails. Espalham-se em cumprimentos e felicitações. Possuem agendas completas em prol da bajulação.
Enviam torpedos pelos celulares para fazerem a corte a alguém, calculando o custo-benefício da iniciativa, lançando-se na gaiatice ou mesmo no alerta sobre acontecimento importante. É vigilância constante a serviço do interesse próprio.
Não dão gorjetas. Dizem que estimulariam o ócio e a falta de vergonha.
São caras de pau! Entrões! Sem limites para chegarem às boas obras!
Quanto mais têm suas cabeças cortadas, mais surgem do nada; crescem da noite para o dia, como no mito grego da Hidra.
Movidos pela necessidade, ora são católicos fervorosos, ora são evangélicos roxos; mais adiante são espíritas e, quiçá, pra frente são ateus.
Tenho bem vivos alguns episódios no campo da sovinice, cumpridos por um cidadão das minhas relações, o nefasto Sofrônico. Tratava-se de um munheca de samambaia de porte, inalcançável por quem quer que seja em função das suas tamanhas e inúmeras artimanhas. Pior de tudo: soube, por intermédio de seu genro, em segredo, que era possuidor de altas quantias em dólares e euros, sem falar nas polpudas aplicações no mercado financeiro. Contou-me, ainda, o linguarudo, que o sogro trouxe de longe, em época passada, de ônibus, importância considerável em espécie, enrolada em jornal dentro de bolsa de supermercado, sob as pernas. Que situação!
Chegava a cultuar a mesquinharia como filosofia de vida. No seu caso, não bastava não gastar, aproveitar era a meta. Ao ser o-bri-ga-do, embora raramente, a se desfazer de uns poucos trocados que fossem, acusava imediatamente o golpe. Apresentava sinais explícitos da doença da avareza. Era acometido de tremores e de suor na testa. Ficava descontrolado, empalidecido.
Cabe ressaltar que São Paulo, na sua epístola I a Timóteo, não condenou o dinheiro, mas sim a ganância e a avareza dele advindas; colocou-se a respeito que “com a cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores”. Certamente, Sofrônico não seguia esta citação bíblica.
Fatos concretos dessa fobia não faltaram: ao participar, em 2008, do planejamento para o Natal, afobou-se, com esperteza, em indicar para si a contribuição com o sorvete da sobremesa. Às demais pessoas couberam o peru, o bacalhau e outros pratos mais dispendiosos; diga-se de passagem. Foi verificado, depois, que o sorvete trazido era da marca “Ideal”, totalmente desconhecida. Falou-se à boca miúda que a escolha foi em função do baixo preço do produto. Ocorreu o encalhe da sobremesa sem proveito. Outra vez, na comemoração do seu aniversário, amplamente alardeada, esbanjou no guaraná “Xandoca”, oferecido à larga, e recatou-se nos palitinhos de queijo prato, de mínimos pedaços.
Conheço também uma senhora, Dona Bárbara, que se aproveitando de “malícia” consegue convencer os crédulos sobre um suposto dom de ler as suas mãos e fazer prognósticos, assim como dar conselhos. Com esse “expediente”, à guisa de animar os eventos, é sempre convidada e recebe, como “pagamento”, farnéis com lanches, lembrancinhas e outros dengos. Além de não gastar, principalmente nos fins de semana, tem divertimento garantido e obtém, talvez, o maior dos presentes, qual seja ser o centro das atenções - a recompensa esperada pelo vaidoso.
Contou-me o compadre Tarcísio sobre o seu cunhado, um indivíduo chamado Fausto, conhecido por pretender sempre tirar vantagem. Usa o artifício de ser polido e, por meio de gentilezas, vai chegando aonde quer. Com voz suplicante e baixa, diz que é do seu agrado ganhar “roupinhas” usadas, desde que em bom estado. Acrescenta que não é de luxo e que abomina o desperdício.
- Caso a pessoa tenha, assim, um “sapatinho” disponível, também, será bem recebido. O tamanho a gente vê depois - completa o pidão, fazendo ares de coitado.
Esse Fausto frequenta leilões, principalmente os de móveis, o que derruba a ideia da carência, como ele prega. Combinou com o leiloeiro, certa vez, que cada aceno seu, com bastante discrição, corresponderia a R$ 1.000,00 por lance. Pois bem, no alvoroço da condução do leilão, equivocou-se o leiloeiro e considerou o seu sinal como valendo R$ 10.000,00. O homem desmaiou de pronto! Deu-se a confusão. Foi desfeito o mal-entendido, após muita peleja, com a concordância dos participantes, para que fosse salva a criatura, que meio dissimulado parecia decair.
Em rápida pesquisa, sem profundidade, descobrem-se muitas palavras que exprimem a avareza, conhecidas do folclore do cotidiano. São pitorescas e estranhas, adjetivando o portador do “mal”: agarrado, amarrado, avarento, cainho, canguinho, casca, cauíla, fominha, manicurto, mesquinho, migalheiro, muquirana, pica-fumo, sorrelfa, unha de fome, usurário, zura e outras.
A avareza mata, posso afirmar. Aquele mesmo Sofrônico, pão-duro mor, saiu da Tijuca, bairro da cidade do Rio, para comprar lasanha em busca da “astronômica” economia de R$ 4,00 por quilo, no Catonho, violento subúrbio carioca.
Justificou a opção por causa da ótima referência recebida sobre uma tal de Dona Leocádia, especialista na confecção da iguaria. Na ânsia cega de economizar, largou-se para lá em um sábado à tarde, esquecendo-se do perigoso trajeto que teria tanto na ida quanto na volta. Resultado: ao regressar, foi assaltado em seu carro, um “Chevettinho”, ano 1977, uma verdadeira “joia”, que, segundo ele, era adequado pela economia no combustível, na aquisição das peças e, sobretudo, na mão de obra das oficinas. A família toda reclamava da falta de conforto e da “pagação de mico”, mas fazer o quê?
Levaram dele uma bolsinha de moedas, celular não, porque nunca teve, e uns óculos escuros, que estes sim eram bons, legítimos “Ray-ban”, presenteados pela filha; só podia ser! Não carregava dinheiro além do suficiente para a despesa; cheques e cartões de crédito não lhes tinham serventia. Jurava que não eram necessários.
Na fuga, os bandidos deram-lhe um tiro fatal. Ficou caído dentro do veículo, agarrado à lasanha congelada, ambos petrificados. Que fim trágico!
Percorrendo as páginas de O Alienista, do mestre Machado, encontro a “pérola” de que se o homem era avaro ia do mesmo jeito para a Casa Verde – a casa de loucos.
Quem agarra a avareza na insana procura de se dar bem anda permanentemente na corda bamba, na intranquilidade.
Considero, também, que tal prática é a negação da generosidade, sendo estreita a sua relação com o egoísmo. O desejo imoderado pelo acúmulo de riquezas materiais me leva a crer na falta de afeto, o que gera, quase sempre, a impossibilidade de dar e receber.
Amarrar a “grana” fora do razoável, negar uma vida mais folgada a si próprio e aos seus, manter o espírito diligente movido pela usura – tudo isto é a contramão da felicidade. Sai de retro, Satanás!

Alfredo Domingos Faria da Costa
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